O CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, pegou todos de surpresa na quarta-feira (20) quando anunciou que a rede vai deixar de comercializar carnes produzidas no Mercosul.
“Em toda a França, ouvimos a consternação e a indignação dos agricultores face ao projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul; e consideramos o risco de repercussões negativas no mercado francês de comercializar um produto que não cumpra os requisitos e normas europeus”, escreveu Bompard em carta ao presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas da França, Arnaud Rousseau.
“Em resposta a esta preocupação, o Carrefour quer estar em conjunto com o mundo agrícola e está tomando o compromisso de não comercializar qualquer carne proveniente do Mercosul.”
O governo francês é o maior opositor ao acordo com o Mercosul, por conta da pressão dos produtores locais. Além dessa tratativa, Bompard se referiu na carta à lei antidesmatamento da UE.
A norma é amplamente criticada pelos produtores e governos do Brasil e de outros países que exportam para a Europa, uma vez que ela prevê a proibição de importados de áreas que foram desmatadas a partir de 2022, mesmo não havendo restrições ao desmatamento no local.
Não obstante, uma série de agentes políticos e econômicos do país se prontificaram a sair em defesa da carne produzida na região e repudiar a decisão do Carrefour.
Governo e entidades repudiam fala
Em nota oficial, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) rechaçou a declaração de Bompard, defendendo "a qualidade e compromisso da agropecuária brasileira com a legislação e as boas práticas agrícolas, em consonância com as diretrizes internacionais".
A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) também rebateu a declaração de Bompard, taxando-a como "lamentável" e afirmando que não há "motivos razoáveis para restrições à carne produzida no Mercosul".
Na quinta-feira (21), um grupo de entidades ligadas ao agronegócio assinaram uma carta repudiando a decisão do Carrefour da França.
Em conjunto, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), a Sociedade Rural Brasileira (SRB) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) foram enfáticas.
"Se o CEO Global do Grupo Carrefour, Alexandre Bompard, entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano –, as entidades abaixo assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país", escreveram as entidades na nota.
Em entrevista ao CNN Money, o presidente da ABPA, Ricardo Santin, apontou a atitude como protecionista, visando agradar “sindicatos ineficientes”.
Apesar de o setor ter saído em defesa da qualidade e das normas sanitárias adotadas pela produção brasileira, o Carrefour buscou esclarecer que a declaração de Bompard não “se referiu à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise.”
E como fica o Carrefour no Brasil?
O Grupo Carrefour afirma que a medida afeta apenas as lojas francesas da varejista. “Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças.”
Ainda assim, o governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União), disse que está liderando um boicote ao Carrefour e ao Atacadão em resposta às declarações do CEO da rede varejista francesa sobre a carne do Mercosul.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, também indicou que o agronegócio brasileiro deve deixar de fornecer carne para os mercados do Grupo Carrefour no Brasil.
E qual o impacto para o Brasil?
Mínimo, de acordo com especialistas. "O mercado de exportação brasileiro está super aquecido no momento, devido a alta demanda mundial de produtos bovinos, suínos e aviários que só nós conseguimos atender", explica Felippe Serigatti, pesquisador do Centro de Agronegócios da FGV Agro.
“A França é o membro mais protecionista da UE, por ser um dos países mais fortes na agricultura. A pressão interna que acontece atualmente contra o acordo é muito grande. A afirmação do CEO reflete uma sinalização de que, caso seja ratificado, a empresa apoiará os produtores franceses.”
Além do mais, vale ressaltar que, dos US$ 22 bilhões vendidos pelo Brasil em carne bovina, suína e de aves em 2023, apenas 0,005% foram destinados à França.
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CNN Brasil