Economia Agro

Hedge em commodities: entenda como funciona sua proteção e planejamento

No cenário global de commodities, onde as oscilações de preço podem impactar drasticamente produtores e compradores, a busca por proteção contra a volatilidade se tornou fundamental.

Por Em Sergipe

08/12/2024 às 12:54:23 - Atualizado há

No cenário global de commodities, onde as oscilações de preço podem impactar drasticamente produtores e compradores, a busca por proteção contra a volatilidade se tornou fundamental.

Nesse contexto, o hedge aparece como uma ferramenta estratégica. Por meio de contratos futuros, produtores, indústrias e outros agentes podem “travar” um preço para a venda ou compra de grãos e sementes oleaginosas, evitando perdas inesperadas e garantindo maior estabilidade nos negócios.

O hedge funciona basicamente como uma forma de seguro. Ao estabelecer uma posição no mercado futuro oposta à sua posição no mercado físico, os agentes conseguem compensar perdas potenciais no preço do produto no mercado local com ganhos na operação futura, e vice-versa.

Essa estratégia é particularmente relevante para aqueles que lidam com commodities agrícolas, cujos preços são notoriamente voláteis devido a fatores como clima, oferta global e demanda.

O que é hedge?

Um dos aspectos mais importantes ao compreender o hedge é reconhecer que ele não se trata de uma estratégia para maximizar ganhos, mas sim para preservar estabilidade e proteger contra perdas.

A palavra “hedge”, que significa “proteção” em inglês, atua como uma espécie de “seguro financeiro”, estabelecendo um nível de preço que permite ao agente proteger suas margens de lucro ou custos operacionais.

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O hedge tem como objetivo principal reduzir a exposição ao risco, permitindo que produtores e compradores travem preços e garantam previsibilidade em suas operações.

Ele oferece a tranquilidade de saber que, independentemente das flutuações de mercado, os resultados esperados permanecerão dentro de parâmetros previsíveis.

Essa segurança é essencial para o planejamento de longo prazo, especialmente em setores como o agrícola, onde os ciclos de produção podem durar meses e estão sujeitos a inúmeras incertezas.

Por essa razão, o hedge deve ser visto como uma ferramenta de gestão de riscos, e não como uma estratégia de investimento ou especulação.

Seu foco está em oferecer estabilidade e previsibilidade, o que é especialmente valioso em mercados onde as incertezas podem comprometer a viabilidade financeira de negócios e projetos.

Ele não busca maximizar lucros, mas sim garantir que o planejamento financeiro não seja abalado por forças imprevisíveis do mercado.

Principais participantes do hedge no mercado de commodities

O hedge é uma estratégia aplicada por diversos agentes que atuam no mercado de commodities. Entre os principais usuários, destacam-se:

Produtores rurais

Os agricultores, especialmente aqueles que cultivam em grande escala, utilizam o hedge para proteger o preço de suas safras contra quedas inesperadas.

A instabilidade do mercado pode ser um grande risco, pois eles investem recursos significativos no plantio e colheita.

Indústrias 

Empresas que dependem de commodities como matéria-prima – por exemplo, indústrias de alimentos e ração animal – utilizam o hedge para evitar aumentos inesperados nos custos de produção.

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Por que fazer hedge é importante?

O hedge é fundamental para enfrentar os desafios de um mercado volátil e imprevisível. Para produtores agrícolas, o período entre o plantio e a colheita pode ser repleto de incertezas, como:

Fatores climáticos

O clima é um dos principais determinantes da produtividade agrícola. Chuvas fora de época, secas prolongadas e geadas podem reduzir drasticamente a colheita, impactando o preço da commodity.

Pragas e doenças

Infestações de pragas ou doenças nas plantas podem comprometer a qualidade e o volume da produção, reduzindo os lucros esperados.

Oscilações na demanda global

A China, maior compradora de soja e milho do mundo em 2023 e 2024, influencia diretamente o mercado global. Qualquer mudança em sua política de importação ou consumo pode causar grandes variações nos preços.

Crises políticas e econômicas

Conflitos internacionais, desvalorizações cambiais e alterações em políticas comerciais, como tarifas de importação, podem afetar diretamente os preços das commodities.

Diante dessas variáveis, o hedge oferece uma rede de segurança, permitindo que produtores e compradores mantenham a estabilidade financeira.

Benefícios do hedge

  • Proteção contra oscilações de preço: o hedge reduz o risco financeiro associado à volatilidade do mercado, garantindo um preço mínimo de venda para o produtor e um preço máximo de compra para o comprador.

  • Planejamento financeiro: tanto produtores quanto empresas podem fazer planejamentos financeiros de longo prazo, reduzindo a incerteza e melhorando a previsibilidade do fluxo de caixa.

  • Redução de riscos operacionais: ao mitigar os impactos de variáveis externas, como clima e eventos econômicos globais, o hedge protege o setor agropecuário e toda a cadeia produtiva que depende das commodities.

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Hedge de compra: proteção contra a alta de preços

As indústrias que compram grãos para processamento ou empresas de ração animal muitas vezes se preocupam com a possibilidade de alta nos preços, pois um aumento inesperado impacta os custos de produção.

Nesses casos, o hedge de compra é a estratégia de proteção mais indicada. A ideia é comprar contratos futuros da commodity que serão adquiridos no futuro, como milho, a um preço fixo.

Assim, se o preço no mercado físico subir, o comprador compensará o aumento com os ganhos na posição de compra no mercado futuro.

Imagine que uma indústria de alimentos precisa adquirir milho em três meses, mas teme que o preço suba até lá. Para evitar surpresas, a empresa compra futuros de milho ao preço atual, travando o valor.

Se o preço do milho aumentar ao longo do tempo, o ganho na posição futura compensa o aumento no mercado físico, o que permite manter o custo de produção dentro do planejado.

Hedge de venda: proteção contra a queda de preços

Uma das estratégias mais comuns no mercado de commodities é o hedge de venda, especialmente relevante para agricultores que desejam proteger os preços de suas safras contra quedas inesperadas.

Hedge de venda exemplo prático

Imagine que um agricultor plantou soja em novembro deste ano, com previsão de colheita em março do ano que vem. No mercado físico atual, a soja está sendo negociada a US$10,00 por bushel, um preço que o agricultor considera atrativo e suficiente para cobrir seus custos e gerar lucro.

Entretanto, ele sabe que, até março, o mercado pode oscilar, com possibilidade de queda nos preços devido a fatores como excesso de oferta, condições climáticas adversas ou mudanças na demanda global.

Se os preços caírem antes da colheita, o agricultor pode acabar vendendo sua soja por um valor inferior ao esperado, reduzindo significativamente sua margem de lucro ou até mesmo resultando em prejuízo.

Para evitar essa incerteza, o agricultor pode realizar um hedge de venda no mercado futuro. Isso significa que ele vende contratos futuros equivalentes à quantidade de soja que espera colher em março.

Suponhamos que no mercado futuros a soja esteja cotada a US$10,00 por bushel e com essa operação, ele se protege contra quedas nos preços do mercado físico.

Como funciona o hedge de venda?

Venda de contratos futuros

O agricultor vende contratos futuros em novembro, estabelecendo o preço de US$10,00 por bushel para março. Ele não entrega a soja nesse momento, mas garante que, se o preço cair no futuro, essa perda será compensada pelos ganhos obtidos com os contratos futuros.

Liquidação no futuro

Quando chega março, o agricultor encerra sua posição no mercado futuro comprando contratos de soja ao preço vigente e paralelamente, vende sua safra no mercado físico pelo preço do momento.

Exemplo prático: queda no preço da soja

Suponhamos que o preço caia para US$9,00 por bushel.

Em março, o agricultor venda a sua safra no mercado físico por US$9,00 por bushel, ocorrendo uma perda de US$1,00 por bushel em relação ao preço desejado dos US$10,00.

No entanto, como ele vendeu contratos futuros a US$10,00 e os comprou de volta a US$9,00 cotação no dia do encerramento de sua posição, obteve um ganho de US$1,00 por bushel no mercado futuro.

No total, o preço líquido de venda permanece US$10,00 por bushel, exatamente o valor travado pelo hedge.

Exemplo prático: alta no preço da soja.

Imagine que o preço suba para US$12,00 por Bushel. Neste caso, o agricultor vende sua safra em março no mercado físico por US$12,00 por bushel, obtendo um ganho de US$2,00 por bushel em relação aos US$10,00 por bushel desejados.

Contudo, ele também comprou de volta os contratos futuros a US$12,00, o que gerou uma perda de US$2,00 por bushel no mercado futuro.

O preço líquido de venda, mais uma vez, permanece em US$12,00 por bushel, travado pelo hedge.

É importante destacar que, nos exemplos apresentados, não foram considerados os custos operacionais. Trata-se de cenários simplificados, elaborados para facilitar o entendimento das operações de hedge que um agricultor pode realizar.

O resultado do hedge

Independentemente do preço da soja subir ou cair, o hedge de venda atingiu seu objetivo que era proteger o agricultor contra flutuações de mercado e garantir um preço estável de venda.

Embora ele abra mão de lucros adicionais em caso de alta no mercado, essa estratégia elimina o risco de perdas devido à queda nos preços.

Diferentes unidades de cálculo: entendendo o mercado global

No mercado global de commodities, as unidades de medida variam de acordo com a região e a bolsa de negociação, o que torna imprescindível a atenção às diferenças e a precisão nas conversões para evitar erros em operações financeiras.

Estados Unidos

Na bolsa CME (Chicago Mercantile Exchange), as commodities agrícolas são negociadas utilizando o bushel como unidade de medida. Essa unidade de volume é amplamente empregada no mercado norte-americano e apresenta valores distintos de peso conforme a cultura.

No caso da soja, cada bushel equivale a 27,214 kg, enquanto, para o milho, a equivalência é de 25,40 kg.

Brasil

Por aqui, a saca de 60 kg é a unidade padrão utilizada na B3 para a comercialização de commodities agrícolas, como soja e milho. Essa unidade de peso facilita o cálculo para o mercado interno, onde os preços são cotados em reais por saca, ao contrário da CME, que utiliza cents de dólar por bushel.

A conversão entre essas unidades é uma etapa essencial para alinhar preços em mercados internacionais. Por exemplo, uma saca de soja, que pesa 60 kg, é aproximadamente equivalente a 2,2046 bushels, enquanto uma saca de milho equivale a cerca de 2,3621 bushels.

Dólar por bushel versus reais por saca

Essas diferenças precisam ser consideradas ao negociar contratos futuros entre mercados que utilizam padrões distintos, especialmente quando é necessário converter valores entre cents de dólar por bushel e reais por saca.

A precisão nesses cálculos é indispensável para que as operações de hedge sejam bem-sucedidas e as estratégias financeiras permaneçam alinhadas aos padrões globais.

A lógica do hedge

O hedge é uma estratégia especialmente eficaz para proteger margens de lucro, já que os ganhos e perdas nos mercados físico e futuro se anulam mutuamente.

É importante observar que a operação tem como objetivo “travar” um preço e não lucrar com as flutuações de preços. Essa previsibilidade permite que o agricultor planeje suas finanças com mais segurança, mesmo em um mercado repleto de incertezas.

Além disso, para escolher o contrato futuro mais adequado, é crucial que o agricultor selecione aquele com vencimento mais próximo ao momento de venda de sua safra, mas sempre posterior à data de colheita. Essa prática garante que o hedge esteja alinhado com o período em que a soja será negociada no mercado físico.

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