Quem resolveu antecipar o almoço nesta quinta-feira (4) e sair por volta das 11h25, dando uma última conferida em sua carteira de ações, especialmente nos papéis preferenciais da Petrobras, estava satisfeito.
Entre os cotados, estaria o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante
Para Frederico Nobre, líder de análise da Warren Investimentos, a má recepção ao nome do atual presidente do BNDES é porque ele é visto por investidores como uma pessoa mais dogmática. "Tem um histórico ruim e nunca teve experiência no setor, diferentemente de Prates", salienta.
O mercado financeiro demonstra preocupação com Aloizio Mercadante principalmente por sua abordagem econômica, considerada mais heterodoxa, e por políticas adotadas por ele no passado, quando esteve em outros cargos governamentais.
A participação de Mercadante em governos petistas do passado é lembrada por decisões consideradas fiscalmente irresponsáveis, interferências nas estatais, controle artificial de preços e práticas de “contabilidade criativa”.
Leandro Petrokas, diretor de research, avalia, porém, que o governo soltou nesta quinta-feira um "balão de ensaio", jogando notícias e nomes para ver a reação do mercado.
De qualquer forma, para Petrokas, isso tudo sinaliza que o governo – ou ao menos uma ala dele – está querendo interferir na atual gestão da Petrobras.
"Mercadante é um nome que o mercado entende como sendo da ala um pouco mais radical do PT, ao menos a história política dele mostra isso, o que naturalmente não seria bem visto", fala.
Segundo apurou o InfoMoney, com uma pessoa próxima à Petrobras, o nome de Mercadante “não faria muito sentido”.
Na véspera, outros nomes haviam sido ventilados. Conforme a coluna Painel Folha, entre os cogitados, estariam Bruno Moretti, atual secretário especial de análise governamental da presidência, ligado a Rui Costa, ministro da Casa Civil, e Magda Chambriard, que já atuou na estatal, antes de ser presidente da ANP.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, diz que, para além da entrada de Mercadante, hoje Prates é visto pelo mercado como alguém que tenta equilibrar os anseios corporativos e políticos da empresa.
“Fora que se a sua saída se concretizar, dificilmente teríamos um substituto com a expertise e know-how do atual CEO", corrobora.
Confira abaixo a movimentação da ação da Petrobras (PETR4) nesta quinta-feira.
Primeiro, o papel desabou com aumento de rumores de saída de Prates e, em seguida, saltou com possível volta de dividendos extraordinários, mas foi derretendo ao longo da tarde.
Agora, vamos para a segunda parte da história. Passa das 12h e o jornal O Globo manchetou, em sua versão online, que a Petrobras voltaria a distribuir dividendos extraordinários.
Logo, as ações preferenciais passaram a subir, chegando a ter alta de mais de 2% – revertendo completamente as perdas da hora anterior.
No começo de março, após a companhia anunciar seu resultado do quarto trimestre e seus dividendos, o mercado reagiu mal à notícia de que a estatal não iria distribuir proventos extraordinários.
Apesar de a diretoria ter defendido na época que o lucro excedente da empresa iria para uma reserva para dividendos futuros, a percepção que ficou é que a empresa investiria mais, principalmente na busca por transição energética.
Devido também ao passado recente de investimentos da Petrobras, com o chamado Petrolão e investimentos pouco proveitosos como os de Pasadena e Abreu e Lima, surgiram temores de que o caixa da empresa seria mal utilizado.
"O mercado foi pego de surpresa com essa mudança (do não pagamento extraordinário), sendo que a Petrobras vinha sinalizando de que ela ia distribuir esses proventos extraordinários, até pela necessidade de o governo de compor seu orçamento, já que os dividendos ajudam", comenta Fabiano Vaz, analista da Nord Research.
"Acho que a gente está naquela parte de especulação, mas parece, de qualquer forma, que as decisões saem do palácio do Planalto e não da sede da Petrobras", completou Vaz.
Para outro analista, a Petrobras, hoje, está em meio a uma disputa de alas do governo. Enquanto os mais à esquerda e heterodoxos defendem o uso do caixa da estatal para investimentos, outra que está de olho na ajuda que a empresa pode dar por meio dos dividendos aos cofres públicos.
Em meio a tudo isso, uma coisa é certa: está difícil para o governo fechar as suas contas.
Não é de agora que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se queixa da frustração com as receitas previstas. Assim, os dividendos da Petrobras poderiam ajudar – e muito – o governo a cumprir sua meta fiscal estabelecida para 2024.
"A decisão é uma vitória de Fernando Haddad sobre Rui Costa e Silveira, que defendiam segurar os recursos, alegando que sem eles a companhia poderia correr o risco de não ter dinheiro suficiente para sustentar o plano de investimentos", escreveu a colunista de O Globo, Malu Gaspar, que trouxe a informação sobre a decisão do pagamento extraordinário de dividendos nesta quinta-feira, fazendo disparar as ações.
Segundo ela, uma reunião na quarta-feira (3) no Palácio do Planalto entre os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e Rui Costa, da Casa Civil, selou a decisão de pagar os dividendos extraordinários da Petrobras, que foram retidos pelo conselho de administração em março.
A publicação afirmou ainda que executivos da Petrobras, entre eles, o CEO, Jean Paul Prates, já foram comunicados.
Por fim, quem vai decidir tudo isso será o presidente Lula, tanto sobre o cargo de Prates, quanto sobre os dividendos.
Espera-se, portanto, agora, pela chancela do presidente Lula. Mas, diante do aparente consenso entre os três ministros, a avaliação é de que os pagamentos devem ser liberados, concluiu a reportagem.
Assim, a expectativa é de que a proposta seja deliberada na assembleia da companhia.
Ao final do pregão, em meio à muita especulação e volatilidade, as ações da Petrobras fecharam em queda, de 1,41%, cotadas a R$ 37,88 – influenciadas também pela piora no cenário externo.
Depois do encerramento do pregão, a Petrobras divulgou um comunicado ao mercado, afirmando, em relação à notícia sobre o pagamento de dividendos extraordinários, “que não há decisão tomada quanto à distribuição de tais valores.”
E segue: “Conforme Fato Relevante de 07/03/2024, o Conselho de Administração (CA) da Petrobras propôs à Assembleia Geral Ordinária que o valor de R$ 43,9 bilhões referente ao lucro remanescente do exercício de 2023 seja integralmente destinado para a reserva de remuneração do capital. A competência para aprovar a destinação do resultado, incluindo o pagamento de dividendos, é da Assembleia Geral de Acionistas, que será realizada no dia 25/04/2024.”
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