"Se fosse Lehman Sisters em vez de Lehman Brothers, o mundo seria muito diferente hoje.
"Se fosse Lehman Sisters em vez de Lehman Brothers, o mundo seria muito diferente hoje." Esta frase é de Cristine Lagarde, ex-ministra das Finanças da França e ex-diretora do FMI, no blog do Fundo Monetário Internacional para os dez anos do estouro da bolha imobiliária de 2008.
Entre as várias interpretações possíveis para a frase da atual presidente do Banco Central Europeu, está o papel da mulher com ou sem filhos na economia e nas finanças. Embora tenham sido desincentivadas e afastadas do contexto financeiro ao longo da história, são elas quem administram a maioria dos lares no Brasil: das 75 milhões de casas, 50,8% tinham liderança feminina, o correspondente a 38,1 milhões de famílias, segundo dados do Dieese. Já as famílias chefiadas por homens somam 36,9 milhões.
“A mulher enfrenta mais barreiras nas finanças: além da desigualdade de gênero, o tabu para falar de dinheiro, especialmente no Brasil, é real. E quando você vira mãe, as responsabilidades ficam ainda maiores e muitas das mulheres se afastam do tema”, afirma Patrícia Palomo, CFP e conselheira da Planejar.
“Com maior presença no mercado de trabalho e também no orçamento doméstico, a mãe, muitas vezes, é a pessoa que comanda e é a principal fonte de renda da família. O que acontece é que, por conta da nossa sociedade, muitas vezes as mulheres fazem tudo isso sem ferramentas e conhecimentos técnicos”, complementa a especialista.
Nesse cenário, os filhos, muitas vezes, têm um papel essencial em ajudar as mães a aprenderem mais sobre o universo financeiro, apresentando fontes de informações, incentivando o aprendizado e apoiando a evolução nessa trilha de conhecimento.
Para Caio Alberconi, planejador financeiro CFP, a relação entre os filhos e as mães no âmbito das finanças pode ser muito proveitosa. “Tem dois lados: o filho identificar que a mãe possa eventualmente precisar de ajuda e se oferecer para ajudar; e do outro lado, a mãe pedir auxílio para se organizar melhor. Nesses diálogos, do ponto de vista de orientação, eu sempre aconselho a começar pelo conteúdo e deixar a forma de lado”, afirma.
Vinicius Fernandes, 31, é um exemplo dessa relação: ele ajuda a mãe, Tania Regina, 58, com as finanças da casa desde cedo. Ele conta que começou a participar da vida financeira do lar quando, aos 16 anos, sua mãe perdeu o emprego.
“Em 2009, a empresa que ela trabalhava fechou no Brasil. Ela voltou a trabalhar em um escritório, porém a renda foi muito reduzida. Por conta desses eventos comecei a assumir algumas responsabilidades, principalmente quando comecei o período de estágio”, conta Fernandes, que fez administração na FEA-USP (Universidade de São Paulo).
Desde, então, as conversas sobre orçamento doméstico se tornaram frequentes, e com o tempo, ele percebeu que a comunicação era muito importante. “Ela não gosta de finanças, então quanto mais ‘mastigado’ o conteúdo, melhor. Sempre que conversamos tento usar exemplos cotidianos e, às vezes, até alerto sobre quais produtos estão mais caros no mercado, por exemplo. E ela ‘foge’ de temas como investimentos”, conta.
“Pela diferença de gerações, as mães geralmente cresceram em outro contexto histórico, financeiro, social. Vão ter os vieses comportamentais de ancoragem ou confirmação, como quando acham que imóvel é o melhor investimento ou que poupança é mais seguro, por exemplo, porque foram ensinadas assim. Essas questões precisam ser trabalhadas com amor e paciência pelos filhos, assim como as mães têm amor e paciência para criá-los”, analisa Palomo.
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Alberconi lembra que, muitas vezes, barreiras de tecnologia, como excesso de planilhas, podem desincentivar a mãe de se aprofundar no assunto, especialmente se ela está começando a se aproximar no tema.
“Pensando em auxiliar do zero, o melhor é começar a introduzir a importância de fazer um bom planejamento. Muitas vezes é um tema que a mãe não domina e que deixa de lado por uma série de razões ao longo da vida. Então, começar no simples pode ser a saída”, avalia Alberconi.
Cintia Senna, educadora financeira, acrescenta a importância da comunicação. “O filho precisa dialogar e escutar as necessidades e os desejos da mãe. Esses pontos são critérios importantes na construção do planejamento financeiro e da organização do orçamento: a mãe quer viajar? precisa juntar dinheiro para um curso? quer separar um dinheiro para quando ficar mais velha? É importante entender os motivos dela para depois buscar ferramentas e conhecimentos para ajudá-la”, explica.
Em termos de organização, Palomo indica sequência para planejamento financeiro. Veja:
“Além desse passo a passo, a depender da situação, é importante que o filho introduza o seguro no planejamento financeiro. Pensar em seguro de vida, da casa, para invalidez, funerário, entre outros, pode ser positivo na garantia de uma organização financeira em momentos difíceis”, ressalta Palomo.
Fernandes considera que o diálogo sobre finanças entre mãe e filho pode render bons frutos. “Hoje, como não moro com ela, minha ajuda é mais simples. Os custos mensais já são de certa forma fixos e estabilizados, o que demonstra que, ao longo da vida, nossas conversas deram certo. E qualquer despesa ‘extraordinária’ conversamos para resolvermos a melhor forma de arcar”, finaliza Fernandes sobre o resultado da troca que conseguiu estabelecer com a mãe sobre gestão do dinheiro.
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