Os Estados Unidos ancoraram um porto flutuante temporário numa praia em Gaza nesta quinta-feira (16) para aumentar o volume de entrega de ajuda humanitária, mas Washington enfrenta os mesmos desafios que assolam as Nações Unidas e entidades civis há meses no que diz respeito à distribuição de assistência ao enclave devastado pela guerra.
Os Estados Unidos ancoraram um porto flutuante temporário numa praia em Gaza nesta quinta-feira (16) para aumentar o volume de entrega de ajuda humanitária, mas Washington enfrenta os mesmos desafios que assolam as Nações Unidas e entidades civis há meses no que diz respeito à distribuição de assistência ao enclave devastado pela guerra.
Entre eles, trabalhar numa zona de conflito tentando evitar a fome iminente e a escassez de combustível para caminhões de ajuda humanitária. Também falta à ONU conseguir criar um caminho claro para a distribuição por terra desses mantimentos.
Espera-se que os caminhões que transportam assistência humanitária comecem a desembarcar em terra nos próximos dias, disse o Comando Central dos EUA em um comunicado anunciando a ancoragem do porto temporário. Mas as agências humanitárias disseram que ainda há desafios a resolver.
"Quando se leva comida ou suprimentos para a Faixa de Gaza, seja pelo mar ou dos pontos de passagem, não há segurança e… não há combustível", disse Bob Kitchen, vice-presidente de emergências do Comitê Internacional de Resgate.
O presidente Joe Biden anunciou a criação do porto em março, enquanto as autoridades humanitárias faziam apelos a Israel para que o país melhorasse o acesso de suprimentos de ajuda humanitária a Gaza através de rotas terrestres. Ao abrir uma rota para a entrega por mar, os EUA esperam combater a crise humanitária que colocou centenas de milhares de pessoas em insegurança alimentar.
O projeto tem sido caro e lento.
O mau tempo atrasou a instalação do porto, que está estimado em US$ 320 milhões e envolve 1000 soldados dos EUA. A ONU tem sido inflexível quanto ao fato de o acesso marítimo não substituir o acesso terrestre, que precisa continuar a ser o foco das operações de ajuda em Gaza.
As Nações Unidas e os grupos de ajuda reclamam há tempos dos perigos e obstáculos de entrar e distribuir ajuda por toda a Faixa de Gaza.
Desde o início da guerra, 191 colaboradores da ONU morreram em território palestino – incluindo o primeiro integrante da equipe internacional da entidade na segunda-feira.
"Nos primeiros dias de qualquer operação como esta, haverá muitas tentativas e erros", disse um funcionário da ONU, falando sob condição de anonimato. "E só esperamos que essa tentativa e erro não acabe com a morte de alguém".
Israel ocupa Gaza desde o ataque realizado pelo Hamas em 7 de outubro, quando militantes palestinos mataram cerca de 1200 pessoas e sequestraram outras 250. As autoridades de saúde de Gaza, por outro lado, dizem que Israel matou mais de 35.000 pessoas em Gaza desde então.
Altos funcionários da ONU e ONGs internacionais acusam Israel de impedir a entrega de ajuda dentro de Gaza, mas Israel nega que tenha restringido as operações e culpa as Nações Unidas pelas dificuldades.
A entrega de ajuda através do corredor marítimo já está a caminho. Um carregamento britânico de quase 100 toneladas de mantimentos deixou o Chipre na quarta-feira (16), enquanto um navio com bandeira dos EUA deixou Chipre na semana passada.
Autoridades dos EUA disseram que o porto flutuante tem capacidade inicial de abastecer 90 caminhões por dia, mas que esse número poderia chegar a 150 caminhões.
As Nações Unidas disseram que são necessários 500 caminhões de ajuada humanitária em Gaza por dia. Em abril, a ONU informou que a média mais alta de ajuda entrando em Gaza desde o início da guerra foi de 189 caminhões por dia.
Mas houve uma queda nessa taxa desde que Israel iniciou uma operação militar na região de Rafah, no sul de Gaza.
Uma grave escassez de combustível forçou a ONU a racionar a gasolina. Um alerta foi divulgado avisando que a crise poderia levar à suspensão das operações de ajuda.
Uma autoridade dos EUA e uma outra fonte que tem acesso à situação no enclave, sob condição de anonimato, afirmaram que havia combustível suficiente disponível para as Nações Unidas darem início à distribuição dos suprimentos.
Os militares israelenses, disse a fonte, concordaram em disponibilizar suprimentos suficientes para a operação "de forma regular e previsível".
Quando chegar em terra firma, a ajuda entregue pelos EUA seguirá um caminho desafiador, e ainda incerto, para chegar aos civis de Gaza.
Os planos anunciados por Biden em março previam o envio de ajuda de Chipre, onde Israel inspecionará primeiro as cargas. As tropas dos EUA não devem desembarcar em nenhum momento.
Em vez disso, de acordo com responsáveis dos EUA e da ONU, alguma outra organização irá recolher a ajuda no porto, levar o carregamento por uma curta distância e, depois, descarregar os produtos em terra para que uma equipe contratada pela ONU possa coletar a ajuda humanitária.
O funcionário da ONU disse que existe um plano para que funcionários da ONU fiquem estacionados perto do porto, supervisionando e direcionado os caminhões de ajuda para pontos de distribuição em Gaza, mas que essa estratégia ainda não foi aprovada pelo Departamento de Segurança e Proteção da ONU.
Uma equipe da ONU que visitou o cais no final do mês passado teve que se abrigar em um bunker depois que a área foi atacada. A ONU tem se preocupado em garantir a neutralidade, mantendo distância dos militares israelenses que darão segurança e apoio logístico ao porto.
O funcionário da ONU disse que "em nenhum momento" haverá qualquer contato entre os militares israelenses e a equipe da ONU.
Hoje, questionado sobre as tratativas entre os EUA e a ONU sobre a entrega de ajuda a partir do porto, um porta-voz disse apenas que: "as discussões estão em andamento".
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