Desde a sua criação em 1994, o real perdeu mais de 87% do seu valor.
Desde a sua criação em 1994, o real perdeu mais de 87% do seu valor. Assim, R$ 100 de 1994 valeriam apenas R$ 12,38 hoje. Apesar da desvalorização considerável, o real é a moeda em circulação por mais tempo no Brasil desde a década de 1940, e na próxima segunda-feira (1º de julho) ela completa 30 anos de existência.
Antes da cifra atual, o governo tentou implementar seis planos econômicos, cada um com sua própria moeda, em um período de menos de dez anos. Todos foram um fracasso. Nessa época, existia a chamada “hiperinflação”, que chegava a 3000% ao ano.
O dia poderia começar com a venda do feijão por um preço e terminar com o mesmo produto custando o duas vezes mais. Quando o mês começava, os consumidores não sabiam o que o seu dinheiro poderia 30 dias depois, e tinham de comprar o que precisavam antes que os preços dos produtos aumentasse exponencialmente.
Assim, para conter esse cenário caótico, a equipe econômica do governo Itamar Franco, comandada pelo então ministro da fazenda, Fernando Henrique Cardoso, criou o plano real, que foi dividido em três etapas.
A equipe de economistas, que incluía Rubens Ricupero, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan, Pérsio Arida e Fernando Henrique Cardoso, decidiu mudar a forma como a moeda brasileira era valorizada. Até aquele momento, o valor da moeda dependia da inflação, que era muito elevada. Então, criaram uma moeda real cujo valor estava atrelado ao dólar.
Porém, para garantir o sucesso da operação, foi necessário fazer a transição aos poucos. Nesse contexto, o plano real enfrentou forte desaprovação tanto da população quanto de políticos, entre eles, o atual presidente Lula (PT).
O plano real também dependia do ajuste das finanças do estado. Afinal, uma das principais causas da inflação é o desequilíbrio das finanças públicas. Assim, a primeira ação do ministério da fazenda foi cortar drasticamente as despesas do setor público.
Com as contas públicas estabilizadas, a equipe passou para a primeira parte do plano, que era atrair reservas em dólares para o Brasil. Assim, era necessário atrair investimentos estrangeiros para a bolsa de valores brasileira, a Ibovespa. O método encontrado para fazer isso foi oferecer a oportunidade de ganhar dinheiro com juros.
Dessa forma, a equipe iniciou a implementação da primeira etapa, que consistiu na elevação da taxa básica de juros. Também chamada de Selic, a taxa aponta a porcentagem mínima de juros cobrada sobre as transações financeiras no país.
Em seguida, iniciou-se a segunda fase: a transição para uma nova moeda, a Unidade Real de Valor (URV).
A URV passou a operar em 1º de março de 1993. O sistema operava fazendo a transição de cruzeiros para URV. Assim, o valor de 1 URV foi aumentando gradativamente em cruzeiros.
Todos os salários e benefícios começaram a ser pagos em URV. Isso significa que, por exemplo, se 1 URV valesse 40 cruzeiros a mais no final do mês, o dinheiro pago não perderia valor. Dessa forma, as pessoas poderiam planejar seus gastos sem ter que comprar imediatamente após receberem o contracheque.
A situação continuou até 30 de junho de 1994, quando o presidente Itamar Franco aprovou uma medida provisória igualando 1 URV a 1,00 R$ e completando a transição.
Quando a moeda finalmente se estabilizou, outros aspectos da vida diária das pessoas começaram a se acertar. O que passou a determinar o percentual da Selic foi a inflação. Assim, se a inflação começava a subir, o banco central mantinha a taxa de juros mais elevada. Se a oscilação do preço permanecesse mais constante, a instituição reduziria a Selic.
Por fim, o Plano Real conseguiu conter o aumento de preços. No ano de implementação do plano, a inflação foi de 916%, mas logo no ano seguinte essa porcentagem caiu para 22% e continuou caindo nos anos seguintes.
Em abril deste ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o cenário internacional “explica dois terços” da desvalorização do real. Nesse sentido, as taxas de juros elevadas dos Estados Unidos e os riscos geopolíticos por conta da Guerra da Ucrânia e os conflitos no Oriente Médio impactam sim na perda de valor da nossa moeda.
Esses fatores fazem com que os investidores tirem seu dinheiro de países emergentes, como o Brasil, para colocar em nações mais seguras, como os EUA. Ainda assim, o principal fator para a desvalorização do real, e que Haddad dificilmente vai admitir, é a péssima gestão fiscal que o Brasil teve em boa parte das últimas décadas.
Em especial, com a crise econômica sem precedentes trazida pelo governo Dilma a partir de 2013, que diminuiu a taxa de juros "na marra" e aumentou os gastos públicos de forma exponencial com crédito subsidiado. Afinal, na visão petista, o Estado deveria desenvolver a economia injetando capital público na mesma.
O resultado disso foi a maior recessão da história do Brasil, com o PIB encolhendo 7,2% entre 2015 e 2016. Além disso, a dívida brasileira saiu de 50% do PIB em 2014 para 70% em 2016, e a inflação foi de 3% para 10%, o que corroeu o poder de compra drasticamente.
A mesma visão atrasada de que é necessário aumentar os gastos públicos para investir na economia está sendo repetida no terceiro mandato de Lula. Como resultado, vemos o real se desvalorizar continuamente. O deputado estadual Leo Siqueira (NOVO-SP) apontou isso no programa Morning Show, da Jovem Pan, nesta terça-feira (25).
"Por que o real se desvalorizou em relação ao dólar? Um dos motivos é que o diferencial da taxa de juros americana com a brasileira não aumentou. E por que o investidor iria investir aqui se ele pode investir lá fora, nos Estados Unidos. E quando o Brasil imprime cada vez mais moeda, isso faz com que ela perca o valor. Por isso, se o governo não reduzir gastos e buscar atingir superávit primário apenas com aumento de impostos, pode ter certeza que teremos inflação e real desvalorizado. E isso sempre afeta o mais pobre", afirmou.
Nosso deputado destacou um ponto fundamental nesse cenário: “Não existe responsabilidade social sem responsabilidade fiscal”. Afinal, a inflação causada pela irresponsabilidade fiscal diminui os recursos que o governo tem disponível para garantir os serviços básicos e a assistência social.
Antes mesmo de começar a governar de fato, Lula já mostrou que a responsabilidade fiscal seria escanteada completamente. Em dezembro de 2022, Lula negociou com o congresso a aprovação da PEC de transição, que aumentou os gastos em R$ 168 bilhões acima do falecido teto de gastos.
Além disso, o presidente expandiu as despesas com o funcionalismo público em 2,8% e ampliou o número de servidores em 9% no ano de 2023.
Esses e outros gastos fizeram com que o déficit nominal (diferença entre arrecadação e despesas acrescidas da dívida) do Brasil atingisse R$ 998,6 bilhões no acumulado de 12 meses até março deste ano.
É o pior resultado desde janeiro de 2021, no auge da pandemia, quando havia quantidades enormes de recursos sendo alocados para saúde e assistência social, levando a um déficit de R$ 1.016 trilhões.
Assim, para a surpresa de poucos, o governo mudou a meta fiscal para 2025 apenas 7 meses depois da aprovação do marco fiscal, que limita os gastos da União. Além disso, o retorno do déficit das estatais, e a intervenção na presidência e em outros cargos da Petrobras aumentaram a percepção de risco-país.
Esse cenário fez com que o mercado perdesse ainda mais a confiança no governo de pagar suas dívidas, o que inevitavelmente fez com que a expectativa de inflação ficasse mais alta. Isso, por sua vez, levou o banco central a deixar os juros elevados por mais tempo.
Nesse contexto, as falas raivosas de Lula contra o presidente do BC, Roberto Campos, e seus comentários a favor do aumento de gastos, pioraram ainda mais a imagem do Brasil diante do mercado, o que refletiu-se na perda de valor do real.
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Enquanto isso, nossos vizinhos argentinos podem se gabar de sua moeda ter desvalorizado menos do que o real nos últimos tempos.
Do início deste ano até 21 de junho, o real perdeu valor em 11% em relação ao dólar, enquanto o peso argentino decaiu em 10%. É o que apontam dados do banco central brasileiro compilados pela Austin Rating.
A Argentina, comandada pelo presidente Javier Milei, tem implementado reformas que visavam tirar o país do buraco deixado pela gestão Fernandes, com inflação acelerada e fuga de capitais estrangeiros.
Enquanto Lula promoveu gastos públicos cada vez maiores e tentou, sem sucesso, garantir um equilíbrio fiscal com aumento de impostos, Milei aplicou medidas de austeridade fiscal com corte de salários e redução de cargos no funcionalismo público.
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