Representantes da Âmbar Energia, companhia do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, foram recebidos 17 vezes fora da agenda oficial pelo Ministério de Minas e Energia do governo Lula.
Representantes da Âmbar Energia, companhia do grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, foram recebidos 17 vezes fora da agenda oficial pelo Ministério de Minas e Energia do governo Lula. Isso aconteceu dias antes da publicação de uma medida provisória (MP) que beneficiou a empresa e repassou o custo para o cidadão brasileiro.
As informações sobre as reuniões e seus integrantes foram reveladas a partir de um pedido por meio da Lei de Acesso à Informação feito pelo NOVO.
Além disso, nossos deputados federais, Marcel van Hattem (NOVO-RS) e Adriana Ventura (NOVO-SP), enviaram um requerimento de informações à pasta do governo nesta terça-feira (08). O documento faz questionamentos sobre o tema de todas as reuniões e quem teve acesso ao conteúdo da MP antes da sua publicação.
O ministério e a empresa dizem não terem abordado a medida nos encontros, porém não informaram os temas que foram discutidos.
Os encontros aconteceram entre junho do ano passado e maio de 2024. Os gestores da Âmbar realizaram reuniões privadas com o ministro Alexandre Silveira, comandante da pasta de Minas e Energia, o secretário-executivo Arthur Cerqueira, o secretário nacional de Energia Elétrica, Gentil Nogueira, e o ex-secretário-executivo do ministério, Efrain Cruz.
O ministro Silveira e o presidente do Âmbar, Marcelo Zanatta, tiveram sua última reunião no dia 29 de maio, uma semana antes do texto da MP sair do ministério e seguir para a Casa Civil. Silveira também recebeu o empresário no dia 21 de maio. Ainda assim, nenhuma dessas reuniões consta da agenda oficial de Alexandre Silveira.
Segundo informações, Marcelo Zanatta, era frequentemente estava no Ministério de Minas e Energia. Segundo consta, ele visitou o local 13 vezes em menos de um ano. Nos outros encontros, a empresa foi representada pelo líder de Estratégia, Inteligência de Mercado e Regulatório, Cristiano Souza.
A deputada federal Adriana Ventura (NOVO-SP) apontou a imoralidade dos benefícios concedidos a empresa. "É inaceitável que uma medida provisória seja editada para beneficiar diretamente os amigos do rei, em detrimento do consumidor brasileiro. As evidências de repetidas reuniões entre representantes da Âmbar Energia e o Ministério de Minas e Energia, e a celeridade incomum na aprovação dessa medida, levantam sérias questões sobre a transparência e a lisura deste processo", apontou em entrevista ao Estadão.
A MP assinada pelo presidente Lula (PT) e anunciada no dia 13 de junho vai ajudar a Amazonas Energia financeiramente para cobrir os pagamentos que a distribuidora deverá fazer pelas térmicas que a Âmbar comprou da Eletrobras. Nesse contexto, esse auxílio será pago com a conta de luz de todos os brasileiros por um período de até 15 anos.
Joesley e Wesley Batista estiveram com Lula para uma reunião com produtores de carne para discutir doações às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul, no dia 27 de maio.
Após a liberação da medida provisória, Alexandre Silveira declarou que a medida ter ajudado os negócios dos irmãos Batista, foi "mera coincidência".
Na agenda anterior, Zanatta entrou no ministério no dia 29 de maio, às 15h48, pela portaria privativa do ministério, que é por onde o ministro entra para se encontrar com Silveira. Apesar disso, essa reunião não aparece na agenda pública do ministro.
No dia 7 de junho, nove dias após a reunião, o texto da medida provisória saiu do ministério e seguiu para a Casa do Civil. No dia 10, a Eletrobras anunciou ao mercado que venderia 12 termelétricas para a Âmbar por R$ 4,7 bilhões.
A empresa, por sua vez, assumiu o risco de inadimplência dos contratos da Amazonas Energia com a Eletrobras em relação a gestão das usinas. No dia 13, 3 dias após o acordo, o Diária Oficial da União publicou a MP de ajuda a Amazonas Energia.
Na prática, a MP salvou o contrato da Âmbar e garantiu a cobertura do prejuízo, surpreendendo analistas do setor de energia. Assim, a empresa dos irmãos Batista pode comprar a Amazonas Energia com a compensação dada pela decisão do governo, um benefício exclusivo para a Âmbar.
Dessa forma, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a investigar as negociações. Silveira também se reuniu três vezes com executivos da Amazonas Energia em março e abril.
Em resposta a outro pedido de informação, que solicitou as atas das reuniões, o ministério especificou apenas cinco agendas para tratar das exportações de energia com representantes da Âmbar e do Grupo J&F entre junho de 2023 e fevereiro de 2024.
Esses encontros seriam para abordar a exportação de energia para a Argentina e importação de energia da Venezuela, países onde os irmãos Batista fazem negócios. Outras reuniões, inclusive entre o presidente da empresa e o ministro, foram omitidas.
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