Durante as gravações de Coringa: Delírio a Dois, Lady Gaga não respondia pelo nome de nascimento, Stefani Germanotta, tampouco pelo artístico.
Durante as gravações de Coringa: Delírio a Dois, Lady Gaga não respondia pelo nome de nascimento, Stefani Germanotta, tampouco pelo artístico. A cantora, que vive Arlequina na produção, queria ser chamada por "Lee", um apelido para personagem.
O diretor de fotografia do longa, Lawrence Sher, pontuou que nunca conheceu a "verdadeira Lady Gaga". "O assistente de direção disse em um ponto: ‘Ah, você sabe, Stef gostaria que você apenas a chamasse de Lee no set'. E eu concordei 100%. Daquele ponto em diante, toda nossa conexão mudou", contou ao podcast The Trenches Talk.
Assim como Ariana Grande, Jared Leto e Jeremy Strong, Lady Gaga é adepta do “método”, técnica criada pelo ator russo Constantin Stanislavski para facilitar a identificação emocional do ator com o personagem. Nos Estados Unidos, o método foi popularizado por Stella Adler. No Brasil, o ator, diretor e professor de teatro russo radicado no país, Eugênio Kusnet, foi um dos responsáveis por aplicar e difundir a técnica.
“Acho que há uma ideia de que o método de atuação é louco, e que nós somos loucos. Mas acho que, para nós, que estamos comprometidos com o método de interpretação, existe algo em nós que se conecta com a arte em um nível celular”, defendeu Gagano The Late Show with Stephen Colbert.
13 imagensReprodução/IMDBReproduçãoDivulgaçãoDivulgaçãoGetty ImagesImagem: reproduçãoDivulgaçãoReprodução/InstagramWestfield/ReproduçãoReprodução/InstagramReproduçãoLia Toby/Getty Images Metro-Goldwyn-Mayer/DivulgaçãoNa prática, o método Stanislavski, também conhecido como sistema, são práticas que o ator pode usar para extrair o máximo de realismo possível em uma atuação.
Estes conhecimentos foram registrados nos livros Minha Vida na Arte, A Preparação do Ator, A Construção da Personagem e A Criação de um Papel. “O erro cometido pela maioria dos atores é o de pensar no resultado, em vez de apenas na ação que o deve preparar”, pontua Stanislavski em A Preparação do Ator.
"O sistema Stanislavski tem mais relação com uma criação psicológica do que emocional ou física. Como se eu criasse uma psique para o personagem. Por isso, estar nas situações, caracterizar-se, ir para certos lugares, trabalhar na mesma profissão⦠são ações comuns quando se aplica o método, por que é pensar na construção de um caráter. Esse personagem é uma pessoa que ‘vive’, não apenas as funções expressas no texto dramatúrgico, ou de cinema"
Marcelo Nenevê, ator, diretor de teatro e coordenador pedagógico do projeto Caminhos: Metodologias Candangas para a Cena.
Criado na Rússia, no final do século XIX e começo do XX, o método Stanislavski foi popularizado nos Estados Unidos com Stella Adler, atriz do Actor Studios, uma associação de profissionais do teatro, em Nova York. No entanto, quando chegou a terras norte-americanas, o sistema tinha sofrido algumas alterações.
"Nem mesmo a Stella Adler usa o método de uma forma pura. Ela tem as próprias contribuições", pontua Marcelo Nenevê, coordenador pedagógico do projeto Caminhos: Metodologias Candangas para a Cena.
Com o passar do tempo, o a prática foi se transformando com a história do teatro. "Por isso, a gente continua pensando em possibilidades, abordagens, estudamos e fazemos faculdade para cada novo trabalho, cada papel que a gente encontra, a gente pode abordar de uma forma diferente", pontua.
O método requer um propósito para que o ator se sinta verdadeiramente como o personagem. Uma abordagem útil para definir essas nuances são as perguntas “o quê”, “porquê” e “como”. Isso inclui como o personagem se move, seu estilo de fala, sua maneira de lidar com situações, o motivo de estar naquela situação específica, e até mesmo o tom de voz utilizado, se mais cerebral ou visceral.
Stanislavski, no livro A Preparação do Ator, enfatiza: “Em cena, não corram por correr, nem sofram por sofrer. Não atuem de modo vago, apenas pela ação, atuem sempre com um objetivo claro.”
Ele também destacava a importância das circunstâncias externas, como cenários e figurinos, e internas, que auxiliam na construção do personagem. Um exemplo prático disso foi o processo de Jared Leto ao interpretar Rayon, uma mulher transexual portadora do vírus da AIDS em Clube de Compras Dallas, papel pelo qual ele ganhou um Oscar.
Além de perder 18 quilos, o ator se dedicou a incorporar fisicamente a personagem, buscando compreender sua realidade, que era distante da sua própria, como pessoa cisgênero.
Antes das gravações, Jared saiu na rua como Rayon para ter a certeza de que o processo estava funcionando. “Você meio que tem que registrar as reações e coisas assim. Então, inevitavelmente chega o dia em que você leva [a personagem] para dar uma volta: depilação com cera, peruca, tudo completo. Receber um pouco de julgamento, um pouco de maldade, um pouco de condenação foi algo útil para o papel”, contou ao The Guardian.
Em outro ponto, há a biodinâmica, que foca na ação para que a experiência física gere um sentimento, técnica criada por Velsov Mayerhold. "Depois, Stanislavki admite esse quesito e entende a importância da ação física a partir dos estudos de Mayerhold", pontua Marcelo Nenevê, ator, diretor de teatro e coordenador pedagógico do projeto Caminhos: Metodologias Candangas para a Cena.
Parceira de Lady Gaga em Rain on Me, Ariana Grande vem recebendo críticas por estar se comportando como a Glinda, que vive no filme Wicked. Os fãs apontam que a cantora mudou o jeito de se comunicar, a voz e até mesmo a estética para interpretar a personagem.
As divas pops não são as únicas que usam essa técnica. Grandes nomes do cinema e da televisão como Jeremy Strong, Christian Bale, Dustin Hoffman, Meryl Streep, Jennifer Lawrence, Robert De Niro, Hilary Swank e Joaquin Phoenix também são adeptos do método.
O método, entretanto, não está isento de críticas. Há um receio, muitas vezes decorrente de desconhecimento, sobre as possíveis consequências dessa abordagem. Um exemplo frequentemente citado é o caso de Jim Carrey, que mergulhou tão profundamente na interpretação de Andy Kaufman que começou a viver como o personagem. O documentário “Jim & Andy”, disponível na Netflix, explora esse período da vida do ator.
Estudos em Brasília
Brasília é um centro de estudos dedicados ao desenvolvimento de novas técnicas e abordagens teatrais. "Eu criei o projeto Caminhos: Metodologias Candangas para a Cena, que reúne pessoas que pesquisam metodologias de cena e desenvolvem suas próprias formas de atuar", explica o idealizador do projeto.
Ele ressalta que, na capital, não se adota uma única metodologia para todas as situações. "Aqui, somos muito versáteis e utilizamos uma ampla gama de possibilidades." O ator defende que essas adaptações são necessárias, especialmente devido às diferenças entre a cena cinematográfica norte-americana e a brasileira.
O projeto Caminhos: Metodologias Candangas para a Cena oferecerá oficinas em Brasília, todas as segundas, quartas e sextas-feiras, de 12 de agosto a 13 de setembro. As oficinas têm vagas limitadas a 20 pessoas e são gratuitas. Mais informações e inscrições no Instagram ou na página do projeto.
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