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Filme Marias estreia com retrato poderoso da luta feminina no Brasil

O documentário Marias, dirigido por Ludmila Curi, chegou aos cinemas nesta quinta-feira (17/10), lançando luz sobre a trajetória de mulheres que marcaram a história do Brasil e do mundo.

Por Em Sergipe

19/10/2024 às 02:35:09 - Atualizado há

O documentário Marias, dirigido por Ludmila Curi, chegou aos cinemas nesta quinta-feira (17/10), lançando luz sobre a trajetória de mulheres que marcaram a história do Brasil e do mundo. Maria Prestes é a figura central de uma narrativa que explora sua vida, desde a infância em Recife até sua luta pela reforma agrária no Brasil, ao lado do líder comunista Luís Carlos Prestes.

O longa, no entanto, não se limita a retratar Maria Prestes. Ele constrói um verdadeiro mosaico de histórias de outras mulheres, como Maria Bonita, Olga Benário, Dilma Rousseff e Marielle Franco. A produção reflete a trajetória dessas figuras, alinhando lutas pessoais e coletivas que atravessam diferentes momentos históricos.

Em entrevista ao Metrópoles, Ludmila Curi compartilhou suas motivações para contar essas histórias e o processo por trás da produção do documentário. Para ela, o primeiro encontro com Maria Prestes, em 2012, foi um ponto de virada que plantou a semente para o filme.

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“Eu conheci a Maria em 2012, no meu último ano de repórter na imprensa carioca. Fiquei fascinada pela história da viúva do Prestes que eu nunca tinha ouvido falar. A trajetória de uma revolucionária que tinha atravessado grandes momentos do século XX não caberia em poucas páginas, ou minutos”, revela Curi.

A diretora reconheceu que uma figura tão complexa e desconhecida do grande público merecia um retrato mais profundo, algo que só seria possível em um longa-metragem.

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Documentário Marias

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Ludmila Curi

Apesar da experiência anterior no jornalismo e em projetos audiovisuais, Ludmila conta que precisou de tempo para amadurecer a ideia do filme. “Como eu ainda não tinha muita experiência nos caminhos da realização cinematográfica, demorei uns dois anos para formatar o projeto, escrevendo argumento, roteiro, produzindo um teaser e fazendo parcerias que me permitissem viabilizá-lo”, conta.

O encontro com a produtora do filme, Mannu Costa, foi um marco decisivo para o projeto ganhar forma. “Conheci a produtora no Festival de Berlim, em 2014, e rapidamente conseguimos os recursos para a realização”, lembra.

Road movie de memórias

Ludmila garante que Marias é, antes de tudo, uma jornada. O formato de road movie surgiu naturalmente da vida itinerante de Maria Prestes que, ao longo de seus mais de 80 anos, cruzou o Brasil e a Rússia, sempre engajada na luta política.

“Maria nasceu em Recife, foi clandestina em São Paulo, morava no Rio de Janeiro, militava no Nordeste, e tinha criado seus filhos no exílio, em Moscou. Então o formato road movie foi determinado pelo próprio tema do filme, e nos permitiu construir um roteiro envolvente e atrativo para o público”, explica Curi. Além de uma viagem no espaço, o filme é uma verdadeira travessia no tempo, percorrendo fatos históricos fundamentais para entender a trajetória de Maria.

A escolha de percorrer não só o Brasil, mas também a Rússia, foi importante para reforçar o papel de Maria no contexto internacional. O exílio em Moscou, onde a revolucionária viveu durante anos ao lado de Prestes, é uma parte crucial de sua biografia. Para Curi, filmar em diferentes locações foi desafiador, mas, ao mesmo tempo, essencial para contar essa história em toda a sua amplitude.

União de grandes mulheres

Uma das características mais marcantes do documentário é a inclusão de outras figuras femininas que, como Maria Prestes, marcaram profundamente a história. Entre elas, está Marielle Franco, vereadora do Rio de Janeiro assassinada em 2018, e Olga Benário, militante e também ex-mulher de Luís Carlos Prestes. A diretora conta que essas mulheres entraram no filme de forma orgânica.

“A Marielle Franco foi filmada em uma visita à casa da Maria, assim que foi eleita vereadora com uma votação bastante expressiva. Essa agenda foi marcada entre elas – duas mulheres que colocavam em prática a política de base”, relembra.

Já Olga Benário aparece como uma referência inevitável, não só pelo vínculo com Prestes, mas pelo impacto que sua luta comunista teve na vida de Maria. “A Olga Benário é uma personagem que atravessa a vida da Maria, primeiro como uma grande referência no Partido Comunista, e depois pessoalmente”, afirma Ludmila.

O mesmo se aplica a Dilma Rousseff, cujo pedido de impeachment em 2016 ecoou nas falas públicas de Maria Prestes. “Maria sempre mencionava Dilma em seus discursos, e a conexão entre elas foi natural no filme”, diz.

Referências e arquivos

Um dos elementos mais fortes de Marias é o uso de imagens de arquivo, que ajudam a contextualizar e enriquecer as histórias contadas no filme.

Para Ludmila, a pesquisa foi uma etapa fundamental e desafiadora. Ela e a pesquisadora Luciana Almeida vasculharam arquivos públicos e privados, buscando imagens que retratassem as diferentes fases da vida de Maria e das outras mulheres mencionadas no filme. “Foi um prazer enorme dedicar meu tempo a vasculhar imagens que retratassem as várias fases da vida de Maria, que se confundiam com a própria história do Brasil”, conta.

Curi destaca ainda uma descoberta surpreendente no processo: “As imagens das mulheres russas lutando na Segunda Guerra Mundial – empunhando rifles, recarregando metralhadoras, pilotando aviões e derrubando nazistas – foram uma grande descoberta para mim”. Porém, o uso dessas imagens trouxe desafios financeiros, já que o licenciamento de direitos foi dificultado pela alta do dólar.

“Tivemos uma pandemia no meio, e tudo isso comprometeu o processo”, explica a diretora.

Luta feminina como mensagem

Para Ludmila, o filme busca resgatar e valorizar narrativas que, muitas vezes, são deixadas de lado na história oficial. “Minha expectativa é que o filme apresente ao público uma narrativa de Brasil sob uma perspectiva diferente, não-hegemônica. Quero que percebam a diferença entre a história que sempre foi contada e a história que podemos contar”, afirma.

A expectativa da documentarista é de que o público saia do cinema com uma nova visão sobre o papel das mulheres nas lutas sociais e na política. “Espero que valorizem o papel da mulher em locais de liderança, poder, estruturais, e que lembrem disso na hora da eleição”, conclui a diretora.

Fonte: Metrópoles
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