Uma das maiores aflições para homens e mulheres é perceber que o cabelo está caindo um pouco mais do que o normal. Isso em si é um estresse que pode afetar qualquer um. Mas quando se trata de calvície, é mais complexo, pois vai além da queda dos fios, já que ela carrega implicações emocionais e pode estar ligada a uma série de fatores genéticos, hormonais e ambientais.
Calvície, em termos médicos, refere-se especificamente à alopecia androgenética, uma condição hereditária e hormonal que atinge principalmente homens e mulheres na idade adulta.
"A alopecia androgenética é a forma mais comum de calvície, relacionada à genética e a influência de fatores hormonais e ambientais", disse a dermatologista Isabel Martinez. Ela explica que nos homens, causa a chamada “calvície masculina", que tende a afetar a linha de implantação do cabelo e o topo da cabeça.
Segundo ela, na calvície androgenética, o cabelo vai se afinando e tornando-se menos denso, principalmente em áreas como o topo da cabeça e as laterais, onde os folículos são mais sensíveis ao hormônio DHT (dihidrotestosterona).
Já nas mulheres, essa perda de cabelo é mais difusa, eventualmente se manifestando como uma rarefação, com uma miniaturização e diminuição da densidade dos fios, com a maior parte da perda ao longo da linha central do couro cabeludo. A condição normalmente surge a partir dos 20 anos para ambos os sexos e progride com o tempo.
Leia mais: Novembro Azul: prevenção de câncer de próstata deve ser o ano todo
Outros tipos de alopecia e queda de cabelo temporária
Ana Carolina Sumam, médica dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, destaca que a alopecia é um termo que se dá para qualquer tipo de queda de cabelo, mas existem vários tipos, inclusive alguns que não necessariamente resultam em calvície irreversível.
Ela explica que o eflúvio telógeno, por exemplo, é uma causa super comum de queda de cabelo e existe uma lista de possíveis causas dela, como: estresse, doenças diversas (inclusive infecções por Covid-19, dengue e outras), uso de medicamentos, uso de antibióticos, cirurgia, pós-parto, doenças da tireóide, deficiências vitamínicas e até determinadas dietas.
Essa condição é caracterizada pela queda difusa e temporária dos fios. "O eflúvio telógeno geralmente é uma resposta do corpo a um fator estressante ou a mudanças metabólicas e hormonais", disse Isabel. Com tratamento adequado e eliminação das causas, o cabelo tende a voltar a crescer.
Outro tipo é a alopecia areata, que é uma condição autoimune que leva à queda repentina de cabelo em áreas localizadas, como círculos ou manchas no couro cabeludo. "Na alopecia areata, o sistema imunológico ataca os folículos capilares, resultando em áreas sem cabelo, mas a condição é reversível na maioria dos casos", destaca Ana Carolina.
Nesse caso, é um tipo em que um dos sintomas é a queda total do cabelo. Segundo Isabel, em alguns casos também pode ter queda de pelos da sobrancelha, cílios e outros pêlos do corpo, podendo ser temporária ou crônica.
Já a alopecia cicatricial, ao contrário das formas anteriores, é irreversível. Nesse caso, ocorre destruição do folículo capilar. "A alopecia cicatricial é causada por inflamações ou infecções que danificam permanentemente o folículo, como em casos de lúpus e líquen plano", comenta Isabel.
Leia também Aumento é preocupante em países de baixa e média renda Veja produtos bons e confiáveis indicados por Rian Tavares, sócio da XPEstudo revela que mais de 800 milhões de pessoas no mundo têm diabetes
Quer ser um triatleta? Ironman indica produtos para ajudar na performance
Também existe a alopecia por tração, que é causada por meio de uma tensão contínua no folículo piloso do cabelo, que acontece com penteados recorrentes e apertados, substâncias químicas e formas de prender o cabelo. Ao longo do tempo, essa pressão pode enfraquecer o folículo, levando à perda definitiva do cabelo na região afetada.
Fatores associados à calvície e sinais de alerta
A alopecia androgenética é amplamente determinada por fatores hereditários, mas Ana Carolina esclarece que há elementos externos que podem acelerar o processo. "Estresse, poluição, deficiências vitamínicas e até exposição excessiva ao sol influenciam a intensidade e a velocidade da perda de cabelo", afirmou.
Além disso, condições médicas, como doenças da tireoide, podem agravar o quadro, tornando a avaliação médica fundamental para diagnosticar qualquer fator subjacente que contribua para a condição.
Entre os primeiros sinais, as especialistas ressaltam o afinamento do cabelo e o aparecimento de áreas rarefeitas.
"Perceber o couro cabeludo mais visível, especialmente com o cabelo molhado, é um indicativo de que pode haver um problema evoluindo para a calvície"
Além do que é possível verificar visualmente pelo próprio paciente, para um diagnóstico mais preciso, a tricoscopia, exame que permite a observação do couro cabeludo em detalhe, é fundamental. Segundo Ana Carolina, essa técnica permite ver as características específicas da calvície androgenética, como a variabilidade de diâmetro entre os fios e o aumento do espaçamento entre as unidades foliculares.
De acordo com Isabel, além da tricoscopia, que vai observar os folículos e o padrão de queda, também podem ser feitos exames laboratoriais, para entender o perfil hormonal, exames de ferro e vitamina D, para investigar causas subjacentes.
Tratamentos para a queda de cabelo
A calvície hereditária pode ser controlada e retardada com tratamento médico adequado, embora ainda não haja cura definitiva. Entre as opções mais comuns estão o uso do minoxidil, medicamento muito comum entre pessoas que possuem essa queda de cabelo acentuada, e dos inibidores de 5-alfa-redutase, como finasterida e dutasterida.
"O minoxidil é uma medicação vasodilatadora que ajuda a prolongar a fase de crescimento dos fios, enquanto os inibidores de 5-alfa-redutase diminuem a conversão de testosterona em DHT, reduzindo o impacto do hormônio nos folículos", explica Ana Carolina.
Além do tratamento medicamentoso, há terapias de aplicação direta, como lasers e microagulhamento, que ajudam a revitalizar o couro cabeludo e estimular o crescimento dos fios.
De acordo com Ana Carolina, os tratamentos regenerativos com exossomos apresentam resultados positivos. Os exossomos são vesículas que levam informações para as células, e para tratar a alopecia, o dermatologista consegue regenerar as células-tronco do folículo capilar através do uso deles.
"O ideal é que o paciente associe o tratamento domiciliar com o tratamento realizado em consultório, sempre com a indicação e o acompanhamento do dermatologista"
Fora do Brasil, segundo a especialista, já é muito consagrado a terapia celular regenerativa com o plasma sanguíneo, chamado de Plasma Rico em Plaquetas (PRP). Nos Estados Unidos e na Europa, é um tratamento capilar já muito utilizado.
"Aqui no Brasil a gente ainda está engatinhando em relação a isso, a gente tem alguns equipamentos, porém o CRM não liberou esse tipo de tratamento ainda para uso em consultório, mas fora do país é um tratamento muito consagrado”, destaca.
Prevenção e cuidados
Embora a calvície androgenética tenha um caráter hereditário, alguns cuidados podem ajudar a preservar a saúde capilar e retardar o processo de miniaturização dos fios.
Vale frisar que a queda de cabelo, diferente da calvície, pode ser temporária. Isabel pontua que é comum perder entre 50 a 100 fios por dia, sem que isso leve a uma redução visível de volume.
Para prevenção e autocuidado, Isabel recomenda atenção ao estilo de vida e à saúde emocional. "Controlar o estresse, evitar deficiências nutricionais e proteger o cabelo de fatores externos, como poluição e exposição solar excessiva, são práticas que ajudam a manter a vitalidade dos fios", disse.
Ana Carolina concorda, enfatizando a importância do acompanhamento com um dermatologista, especialmente para aqueles com histórico familiar de calvície. Para muitos, o tratamento contínuo e as opções terapêuticas proporcionam uma maneira de enfrentar a calvície sem abrir mão da autoestima.
SIte da InfoMoney