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Para nós que estamos vivos foi um ano de assombros. Assistimos perplexos à vingança de Israel em escalada genocida, às ameaças da guerra nuclear de Putin, ao desfecho inesperado e incerto da ditadura na Síria, à eleição, nos Estados Unidos, de um presidente golpista de extrema direita condenado pela Justiça, à temperatura global superar os limites da segurança deixando um rastro de enchentes, incêndios, ciclones-bomba, secas extremas.
No Brasil, mal recuperados da destruição de vidas e sonhos nas enchentes no Sul, das secas implacáveis dos rios amazônicos e das queimadas desoladoras em todo o país, descobrimos com pasmo o enredo de uma trama sinistra visando ao assassinato de um presidente, do vice e de um ministro da Suprema Corte, meticulosamente descrita em um relatório de 884 páginas da Polícia Federal.
Cenas de violência policial tomaram nossas telas e machucaram nossos corações, em São Paulo, na Bahia, no Rio, velórios foram violados por policiais, crianças perderam a vida em operações inúteis enquanto governadores se esquivavam de suas responsabilidades com promessas vazias.
Em outro front, vimos o mercado mandar o dólar para o espaço, junto com os juros, enquanto o governo esgrimia impotente os bons números da economia, mal percebidos pela população estarrecida com os custos para alimentar a família, inflados pelas catástrofes no clima e pela especulação da Faria Lima.
Enquanto isso, no Congresso, um pacote de corte de gastos públicos para acalmar os chantagistas, negociado a peso de ouro pelos parlamentares, ganhou uma inesperada ajuda do governo para driblar o Supremo Tribunal Federal em troca de uma trégua.
Para completar, levamos um susto danado com a internação repentina do presidente Lula, o alvo dos golpistas, que elegemos para restabelecer a estabilidade democrática depois do avanço autoritário mais perigoso que vivemos desde a ditadura militar.
Mas, como o cavalo Caramelo, sobrevivemos. Lula deu entrevista ao Fantástico, de chapéu-panamá e raciocínio claro. Generais foram presos, inclusive aquele que era candidato a vice, enquanto seu companheiro de chapa, o ex-presidente Jair Bolsonaro, via o projeto da anistia desmoronar com a explosão suicida de um de seus seguidores fanáticos.
Também foram finalmente presos os mandantes do assassinato de Marielle – um conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro, seu irmão, deputado federal, e o chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro (!) – nomeado, aliás, pelo agora preso general Braga Netto, aquele que levou R$ 100 mil arrecadados de fazendeiros em uma sacola de vinho para pôr em prática a operação que visava assassinar autoridades.
Um pouco de justiça nesse mar de injustiças chamado Brasil, fustigado por uma elite predatória contra a qual resistem negros, mulheres, indígenas.
Iluminados pela luta incansável por justiça das mães que perderam seus filhos para a violência do Estado, pela vitória histórica dos Munduruku na demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu, os mais corajosos se preparam para mais um ano de luta pela democracia, igualdade de direitos e participação política.
É esse país teimosamente belo, que mandou os golpistas para a cadeia e colocou Elon Musk em seu devido lugar, que em 2025 vai receber o mundo em uma conferência vital para o futuro de todos nós com um presidente democrata no poder, uma mulher negra e amazônica no Ministério do Meio Ambiente e uma líder Guajajara à frente do Ministério dos Povos Indígenas.
De minha parte, encerro 2024 com um show de lavar a alma de Caetano e Bethânia, agradecida pelo carinho dos filhos, amigos e colegas e, sobretudo, orgulhosa da equipe da Agência Pública, que cumpriu com brilho, suor e garra a missão de informar nossos leitores, denunciar as injustiças que minam o país e apoiar a democracia com jornalismo independente e de qualidade.
Que a estrela de Belém do Pará nos guie nesta virada de ano, com a energia das mulheres e a força das culturas ancestrais, para um mundo mais humano, amoroso e justo. Façam seus rituais de limpeza, abracem os seus queridos, agradeçam a Deus, deusas e deuses, recarreguem as baterias e renovem as esperanças. Ainda estamos aqui.
Obrigada a todas e todos que nos acompanharam neste 2024 de dores e sustos, mas também de novas possibilidades, e um abraço especial para os que me leem aqui.
Bom dia, fim do mundo; bom dia 2025!
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