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Amazônia

O futuro do Vale do Javari e a proteção da Amazônia

O podcast Morte e Vida Javari, lançado em junho de 2024 pela Agência Pública, marcou os dois anos do brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no Vale do Javari, uma das áreas com maior concentração de povos indígenas isolados no mundo.


O podcast Morte e Vida Javari, lançado em junho de 2024 pela Agência Pública, marcou os dois anos do brutal assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips no Vale do Javari, uma das áreas com maior concentração de povos indígenas isolados no mundo. Em cinco episódios, o jornalista Rubens Valente revisita a luta por justiça e proteção da terra indígena localizada no oeste do estado do Amazonas, revelando histórias e descobertas sobre o passado e presente da região.

Para o episódio bônus da série, Rubens Valente conversa com Beatriz de Almeida Matos, viúva de Bruno Pereira e uma das principais vozes na defesa do Vale do Javari. Antropóloga, professora e diretora do Departamento de Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato do Ministério dos Povos Indígenas, Beatriz reflete sobre a violência histórica enfrentada na região, além dos desafios atuais e futuros para a proteção das terras e povos indígenas da Amazônia.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista e ouça o episódio na íntegra. Aproveite também para conferir o compartilhar toda a série Morte e Vida Javari, disponível em todos os tocadores de podcasts.

Qual a realidade que você encontrou lá no Javari? Como era a situação social, em termos de invasão?

Era gravíssimo. Primeiro, tinha a questão da hepatite, o atendimento era terrível, horrível, porque as pessoas eram muito despreparadas. Não por culpa delas. Eram pessoas que não tinham formação, os técnicos de enfermagem, às vezes nem isso, e que ficavam lá na comunidade meses assim. Eu lembro de ver as vacinas chegarem com o isopor cheio de água. Eu já vi isso e, então, essas situações de hepatite eram gravíssimas.

Teve um boom em 2007, 2008 e 2009, justamente na época que eu estava começando o doutorado, teve muitos jovens que faleceram e tinha aquela hepatite Delta que associava a outra e resultava em uma morte muito rápida e terrível. Pessoas vomitando, com hemorragia, mortes horríveis e casos também das pessoas serem removidas para Manaus. Quero dizer, a situação de saúde do Vale do Javari era muito crítica. Isso foi muito denunciado e pouco foi feito. Muita malária também. Algumas aldeias com cerca de 300 pessoas, tinha 250 com malária. Era uma situação caótica da saúde.

Qual o futuro do Javari, na sua visão? O que vai acontecer?

Primeiro, eu acho que eles são extremamente resilientes. Ou seja, eu acho que o futuro do Javari depende muito do futuro da Amazônia. Na época que eu comecei a trabalhar lá, 20 anos atrás, a gente não tinha essa perspectiva de fim da Amazônia concreta e isso está virando algo possível da gente ver na nossa existência. O que é muito terrível. A seca é cada vez maior, cada vez mais cedo, cada vez mais severa. Isso todos os indígenas lá falam. Cada ano a seca piora. Pode chegar num ponto de não retorno que, mesmo um lugar como o Javari que ainda tem muita floresta, pode não se sustentar mais.

Enquanto tiver gente, enquanto tiver esses rituais, enquanto tiver gente de fato para ter essa relação com aquele lugar, vai ter aquele lugar. O que faz esses lugares não é só cercar e conservar. É ter gente plantando. Lá e na Amazônia como um todo. E esses povos são muito resilientes. Eles estão lá antes da gente chegar e eles continuam. Mas eu acho que claro, é preocupante.

Em relação ao processo e ao caso [do assassinato de Bruno e Dom], como é que ele está hoje na sua avaliação? Tá bem conduzido? Tá bem encaminhado? Ou estão faltando coisas?

Tanto eu quanto a Alessandra Sampaio, que é a viúva do Dom, a gente tem assistentes de acusação muito bons trabalhando pra gente. E os advogados, eu confio bastante neles. Então eu deixo eles acompanharem, se tem algum ponto de alerta, eles me avisam. E eu acho que tá correndo da maneira que tem que correr, lógico que é sempre lento, né? A justiça é lenta no Brasil.

Eu soube também que eles já associaram as mortes do Maxciel [Pereira dos Santos]. Reabriram a investigação do Maxciel, isso foi muito bom. Associação com possíveis mandantes, acho que o cara lá já é considerado mandante.

[Rubens] O cara em questão é Ruben Dário da Silva Villar, o “Colômbia”. No início de novembro de 2024, a Polícia Federal anunciou ter indiciado Colômbia como mandante do assassinato de Bruno e Dom.

Então eu vejo avanços, e eu acho que o que tem que trabalhar no desmantelamento de uma cadeia criminosa muito mais ampla. Não é só condenar e prender os caras que fizeram, que executaram. Mas também o mandante direto ali, tem que ter esse trabalho mais amplo. Eu acho que a Polícia Federal, por exemplo, que tá dando o caso, eu acredito que tá indo bem. Eu não tenho o que dizer, eu confio nos advogados que estão assessorando a acusação. Mas é difícil demais pra mim acompanhar isso.

Conheça a série de reportagens Vale do Javari — terra de conflitos e crime organizado

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