Com as autoridades norte-americanas indicando mais de 12 mil estruturas danificadas ou destruídas entre os incêndios florestais devastadores que atingiram o estado da Califórnia e avaliações ainda em andamento, o evento está entre os mais custosos da história dos EUA.
As perdas seguradas relacionadas a propriedades residenciais e comerciais, além de veículos, podem ultrapassar os US$ 30 bilhões, considerando de US$ 15 a 20 bilhões no caso de Palisades e de US$ 7 a 10 bilhões em Eaton, dois dos locais mais atingidos pelo fogo na região, estima a corretora Aon.
Esses recentes incêndios devastadores na Califórnia não só assustam pela destruição e prejuízo causados, mas destacaram diferenças significativas entre os seguros residenciais nos Estados Unidos e no Brasil. Por aqui, a cobertura contra incêndios é considerada básica em seguros residenciais, explicam os especialistas consultados pelo InfoMoney, e protege tanto a estrutura do imóvel quanto os bens em seu interior contra danos causados por fogo, fumaça e calor.
Segundo Alexandre Barros, diretor de Digital Client Solutions da Aon para o Brasil, algumas seguradoras também oferecem cobertura de responsabilidade civil, que cobre os danos causados a terceiros, como, por exemplo, se o incêndio no imóvel segurado atingir a casa vizinha.
"O seguro indeniza até o limite contratado na apólice [contrato de seguro], que é o valor estabelecido para reconstrução do imóvel e a reposição dos bens. No entanto, não há cobertura para incêndios intencionais, incêndios ocasionados por reformas e bens de alto valor como joias e obras de arte que não estiverem declarados na apólice", exemplifica Barros.
De acordo com Paulo Davidoff, diretor de Seguros Pessoais e Massificados da Alper Seguros, a cobertura contra incêndio no seguro residencial comercializado nos Estados Unidos é parecida com o modelo brasileiro. "Porém, no caso da Califórnia, há uma preocupação maior sobre os elementos causadores do incêndio, ou seja, daqueles que ocorrem por fogo iniciado em floresta (wild fire) em relação aos de outras origens causadoras. Na situação deles, o mercado fica mais restrito quanto à aceitação de riscos de incêndios florestais", aponta Davidoff.
Na avaliação do especialista da Alper, é praticamente certo que os acontecimentos recentes não só vão onerar os custos das novas apólices residenciais como também devem criar maiores restrições quanto à aceitação do risco por lá. "O governo da Califórnia já havia implantado o Plano FAIR, que busca dar opções de seguros aos proprietários de residências que tinham dificuldades de contratar estes seguros junto às seguradoras e, com este acontecimento recente, até o Plano FAIR pode ser reavaliado", pontua.
Quanto custa?
Os custos também divergem. No Brasil, o seguro residencial com cobertura contra incêndios custa em média entre R$ 150 e R$ 1.500 anuais, "dependendo das coberturas contratadas, da região, do tipo de uso, do valor e do perfil do imóvel", acrescenta Barros, da Aon. Já nos EUA, os prêmios (valor pago pelo consumidor à seguradora para adquirir o seguro) podem ser significativamente mais altos, especialmente em estados como a Califórnia, onde desastres climáticos severos como os recentes incêndios são comuns.
Outro ponto de destaque é o impacto das mudanças climáticas no setor de seguros. Segundo Marlon Basso, superintendente de Sinistros da REP Seguros, eventos climáticos extremos, intensificados pelas mudanças climáticas, têm tornado os incêndios mais frequentes e severos, exigindo das seguradoras uma revisão constante de suas estratégias de subscrição (processo de análise de riscos envolvidos na oferta de uma apólice de seguro a um cliente) e reservas de capital.
"Em relação às responsabilidades civis, incêndios que se originam por negligência ou má gestão podem gerar ações judiciais de alto valor contra empresas ou indivíduos considerados responsáveis, resultando em um aumento na demanda por apólices de responsabilidade civil, que também se tornam mais caras e restritas", comenta Basso.
Em ambos os países, entender as condições específicas das apólices é essencial para evitar surpresas em caso de sinistro (ocorrência do risco previsto no contrato), dizem os especialistas. No Brasil, por exemplo, é importante verificar se queimadas em áreas florestais estão cobertas, especialmente para imóveis próximos a essas regiões.
Os incêndios na Califórnia servem como um alerta global. Eles mostram a necessidade de um setor de seguros adaptado a um cenário climático em constante mudança, além de destacar a importância da conscientização e de políticas públicas voltadas à mitigação de riscos.
"O aumento das queimadas provoca uma pressão regulatória no setor de seguros, levando à necessidade de adaptação às políticas públicas, tanto para garantir a resiliência financeira do mercado quanto para atender às demandas sociais por cobertura justa e acessível", complementa o especialista da REP.
SIte da InfoMoney