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Extorsão, tráfico e recrutamento de crianças: a vida no "Estado" paralelo da Colômbia

Tropas paramilitares patrulhando florestas, montanhas e cidades, incentivo à produção de pasta de coca por grupos armados, extorsões e pagamentos de taxas sobre comércio e serviços locais, uso de trabalhos forçados, abusos contra crianças indígenas e ameaça constante de recrutamento de menores por parte das milícias.

Por Em Sergipe

28/01/2025 às 06:09:42 - Atualizado há

Tropas paramilitares patrulhando florestas, montanhas e cidades, incentivo à produção de pasta de coca por grupos armados, extorsões e pagamentos de taxas sobre comércio e serviços locais, uso de trabalhos forçados, abusos contra crianças indígenas e ameaça constante de recrutamento de menores por parte das milícias.

Assim é a vida da população de várias áreas rurais da Colômbia, especialmente Catatumbo, na divisa com a Venezuela, onde houve uma explosão de violência há pouco mais de uma semana, que terminou com cerca de 80 mortos e mais de 40 mil desalojados.

O quadro de intimidação e violência contra a população nessas regiões foi desenhado em um relatório recente da Missão de Apoio ao Processo de Paz na Colômbia (MAPP), mantida pela Organização dos Estados Americanos (OEA).

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Segundo o levantamento, compilado entre os meses de janeiro e junho de 2024, a população convive com um verdadeiro fogo cruzado nas áreas dominadas Exército de Libertação Nacional (ELN) e grupos dissidentes das FARC, que não concordaram com as recentes negociações de paz no país.

Esses grupos armados continuaram a concentrar seu poder e sua presença em territórios onde se aproveitam da atividade de drogas, da extorsão da população e da exploração ilícita de minérios para se financiar.

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Controle total

Os guerrilheiros chegam a estabelecer limites para hectares plantados, impedindo a entrada de compradores no território e controlando o movimento da população produtora de pasta de coca para outros lugares para a comercialização. Particularmente em Catatumbo, os grupos controlam os armazéns e trocam esse produtos por alimentos e bens de primeira necessidade, com preços detreminados por eles.

O relatório cita outras práticas que mostram a força do Estado paralelo, como restrições de mobilidade e exercício autônomo de direitos políticos, e coação de professores e lideranças sociais, entre outras medidas.

Os grupos armados chegam a vender seus serviços para resolver conflitos entre patrões e empregados e definem valores fixos para os salários daqueles que prestam serviços gerais em residências e fazendas.

Extorsão e punições

Essas milícias também exigem contribuições financeiras da população civil e "vendem" segurança em  territórios onde há presença de mais de um grupo. Com medo, diz o relatório, as vítimas entregam o dinheiro imposto sem nem saber se existe um grupo armado envolvido.

Essa situação tem trazido impactos em atividades como indústria, comércio, pecuária, fluxos migratórios, projetos produtivos promovidos por estratégias institucionais, extração ilegal de depósitos de mineração, cultivos ilícitos e exploração de recursos madeireiros.

"Nos departamentos de Guaviare e Meta e na região de Catatumbo, as pessoas que venderam imóveis pagaram entre 5% e 10% aos grupo armados", diz o texto.  Especificamente em Guaviare, um dos grupo estabeleceu o valor de 10.000 pesos colombiano (R$ 14,00) para cada filhote de frango. Em Uribe, foi estipulado pagamento anual de 1.000 pesos (R$1,40) para cada árvore plantada.

Quem não paga está sujeito a ataques com artefatos explosivos em estabelecimentos comerciais, sequestro de familiares ou trabalhadores, roubo de veículos, roubo de gado, homicídios e imposição do fechamento temporário dos estabelecimentos comerciais.

Violência contra crianças e adolescentes

Outra faceta alarmante é o recrutamento forçado de crianças e adolescentes pelas milícias armadas. Pelo menos na regiçao do Rio San Juan, em Chocó, houve relatos de suicídios entre adolescentes e jovens com medo de serem vítimas deste problema. Essas situações levaram à evasão escolar e ao deslocamento forçado de unidades familiares.

E em locais como Cauca, Guaviare, La Guajira e Valle del Cauca, ao sul de Bolívar, além do distrito de Santa Marta, em Magdalena, foi relatado que integrantes dos grupos armados forçaram de maneira coercitiva o sexo com meninas indígenas a partir de 12 anos dos povos Nasa e Misak, entre outros. Há casos de uso de violência para fins de exploração sexual e laboral, ou seja, um uso contínuo da violência de gênero no contexto do conflito armado.

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