As small caps costumam sofrer mais do que as grandes empresas em cenários de juros elevados e turbulências externas, como os novos tarifaços do presidente Donald Trump. O reflexo disso está nos números: enquanto o SMLL – índice que representa as principais empresas de média capitalização do Brasil – recuou 13,70% nos últimos 12 meses, o Ibovespa caiu apenas 1% no mesmo período.
Apesar do desempenho recente fraco, especialistas enxergam oportunidades nessa classe, e dizem que a queda pode representar um ponto de entrada atrativo para investidores. Além disso, alegam, o impacto das medidas de Trump, como a possível tarifa de 25% sobre a importação de aço e alumínio, tendem a ser limitados nas empresas de grande e pequena capitalização.
“O Brasil não é um grande exportador de aço para os EUA e o efeito das tarifas pode ser mais sentido pelos próprios consumidores americanos. O país também não é um grande exportador de alumínio para os Estados Unidos. A China é o principal player nesse mercado”, disse Werner Roger, CIO da Trígono, para a reportagem do InfoMoney.
Bruno Corano, economista da Corano Capital, também falou que o Brasil não vende e não tem uma dependência única e exclusiva do país norte-americano para a venda de aço, tendo outros compradores. “Então é muito mais sensível a concorrência com outros produtores de aço, especialmente a China, do que o fato de os Estados Unidos taxarem o aço”.
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Setores e ações
Roger disse que uma há receita que pode facilitar a escolha das companhias de baixa capitalização listadas na bolsa brasileira para investir em meio ao cenário atual. "Se você conseguir reunir empresas que exportam, tem receita em dólar, não têm dívida, pagam dividendos e cresçam, é o melhor dos mundos".
Um dos setores que as gestoras apostam é o agronegócio, que tende a ser favorecido pelo preço das commodities, definido a nível mundial. O Brasil também deve registrar safra recorde 322,47 milhões de toneladas de grãos neste ano, 8,3% superior ao total registrado no ano passado, segundo a Conab, o que pode impulsionar mais as firmas do segmento.
Outro de destaque é o industrial. No ano passado, a produção industrial brasileira registrou crescimento de 3,1% na comparação com 2023, o terceiro maior resultado os últimos 15 anos, segundo dados do IBGE. E isso mesmo com os juros elevados.
Veja abaixo alguns dos papéis desses dois segmentos que podem se beneficiar, segundo especialistas e relatórios de gestoras.
São Martinho (SMTO3)
Na lista das empresas do agronegócio está a São Martinho (SMTO3), do segmento sucroenergético, que reportou lucro líquido de R$ 157,9 milhões no terceiro trimestre da safra 2024/25, uma queda de 25% na comparação com o mesmo período um ano antes.
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"O açúcar é uma commodity, e seu preço está subindo. O etanol também está em alta, impulsionado pelo petróleo e pela gasolina. Dessa forma, a empresa tende a se beneficiar, seja vendendo açúcar ou etanol no mercado interno", falou Roger, da Trígono. A empresa aparece nas recomendações de small caps de fevereiro do BTG Pactual.
Kepler Weber (KEPL3)
Outro nome é a Kepler Weber (KEPL3), empresa de armazenagem agrícola. De acordo com com Roger, a firma tende a se beneficiar de um ambiente de combustíveis renováveis. No ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Lei do Combustível do Futuro, medida que, segundo o especialista, tende a respingar de forma positiva na empresa.
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Marcopolo (POMO4)
Do setor industrial, um dos nomes preferidos das gestoras é a Marcopolo (POMO4), fabricante de ônibus e micro-ônibus para transporte urbano e rodoviário. O BTG Pactual, por exemplo, diz que a perspectiva positiva em relação à empresa é apoiada pelo fato de seu papel ser negociado com valuation de 6x P/L e um dividend yield (taxa de retorno só com dividendos) de 10% para 2025, além dos seguintes fatores:
"Margens acima de 10%, refletindo uma melhoria na gestão de capacidade; volumes robustos, especialmente em relação aos modelos de ônibus pesados; operações internacionais com uma performance positiva, com a Argentina prevista para contribuir significativamente por meio das exportações; e um balanço quase com uma posição líquida de caixa e uma exposição favorável a câmbio, beneficiando-se do aumento das taxas e do fortalecimento do dólar".
Tupy TUPY3
A Tupy (TUPY3), multinacional brasileira do ramo da metalurgia, é outro nome do setor industrial. A ação também foi mantida na carteira de recomendações de small caps de fevereiro do BB Investimentos. Segundo Roger, da Trígono, 65% das receitas da small cap são do exterior. "Estados Unidos é o maior mercado. Portanto, ela tem o dólar a seu favor".
Riscos de investir em small caps
Small caps têm menos liquidez do que as grandes companhias listadas na bolsa. Portanto, se um investidor precisar se desfazer dos seus papéis, pode encontrar alguma dificuldade para encontrar compradores dispostos a adquiri-los. Por esse motivo, esses papéis também estão mais sujeitos às oscilações do mercado.
De acordo com especialistas, investir nesse tipo de empresa exige visão de longo prazo, respeito ao próprio perfil de risco e estômago para lidar com volatilidade.
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SIte da InfoMoney