Investir em um país com juros elevados e grande incerteza econômica e política como o Brasil não é para qualquer um.
Investir em um país com juros elevados e grande incerteza econômica e política como o Brasil não é para qualquer um.
"É preciso ser herói, visionário ou alguém sem juízo para investir nesse país. Como há poucas pessoas com esse perfil, investe-se pouco no Brasil", disse Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central e consultor da A.C. Pastore.
O entrevistado desse fim de semana do CNN Entrevistas avalia o atual patamar dos juros – mantidos em 10,5% ao ano pelo Banco Central – como "altíssimo". Com esse custo do dinheiro elevado, o incentivo ao investimento na economia real despenca.
Para piorar, explica o ex-diretor do BC, o grau de incerteza do Brasil é muito elevado.
"E não falo num sentido do futuro. Estou falando na linha de Malan (ex-ministro da Fazenda): no Brasil, até o passado é incerto", disse.
O ex-economista-chefe do ABN Amro e do Santander dá como exemplo uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que reverteu decisões tributárias passadas.
Com essa decisão do STF, empresas que não pagavam um tributo passaram a pagar, inclusive com a obrigação de débitos do passado.
"Opa. Como é? O imposto muda para trás, no passado? Se você for minimamente esperto, você não investe", disse.
Alexandre Schwartsman também avaliou os seis primeiros meses do governo de Javier Milei na Argentina.
"A estratégia dele (Milei) é um Paulo Guedes vitaminado. Ele teve de soltar preços públicos, o câmbio. E reduziu volume real de despesas", disse.
O ex-diretor de assuntos internacionais do BC comentou que Guedes limitou as despesas do governo no Brasil ao não atualizar despesas – como salários – pela inflação.
Essa mesma estratégia é usada – e de forma mais acelerada – pelo governo Milei. "Ter inflação alta para controlar conta pública é uma inversão (de valores)".
Apesar da crítica à maneira de reduzir gastos mascarados pela inflação, ele elogia o presidente argentino que "parece ter abandonado a dolarização".
"O duro é que é um país onde a questão política é ainda mais complicada do que o Brasil. Não é trivial".
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