Há alguns anos os carros elétricos eram vistos como a única solução do mercado, mas essa realidade está mudando.
Há alguns anos os carros elétricos eram vistos como a única solução do mercado, mas essa realidade está mudando. Enquanto a maioria das montadoras está regredindo em relação ao futuro elétrico, a Ferrari acaba de inaugurar seu novo "e-building", uma fábrica de 200 milhões de euros, cerca de R$ 1,19 bilhão, dentro do complexo de Maranello, no norte da Itália.
É de lá que sairá o primeiro — e tão aguardado — carro elétrico da Ferrari, mas não será somente ele. A empresa também afirma que no prédio de 25 metros de altura e 42 mil metros quadrados, serão produzidos todos os motores de sua linha, começando pela híbrida plug-in SF90 Stradale e o SUV Purosangue, a combustão.
A fábrica é classificada como 4.0, ou seja, praticamente todos os seus processos são automatizados. A previsão é que a produção comece até o fim de 2024. Porém, o primeiro carro elétrico ainda vai demorar mais um pouco, estando previsto só para o segundo semestre de 2025.
Apesar de outras grandes players do setor, como a Mercedes-Benz, Lamborghini e BMW, estarem revendo seus planos de eletrificação total, a Ferrari se mantém firme na meta de ter 80% da sua produção anual composta por eletrificados até 2030.
Sobre o primeiro carro elétrico da Ferrari, ainda há muito mistério. Não sabemos seu nome, potência, nem mesmo temos uma pista de como será seu design. Mas a Ferrari garantiu que o elétrico terá um característico 'ronco' que caracteriza os carros da marca.
“O motor elétrico não será silencioso. Existem maneiras de garantir que a emoção transmitida ao dirigir uma Ferrari elétrica seja a mesma de quando você dirige um híbrido ou uma Ferrari a combustão”, disse Benedetto Vigna, CEO da Ferrari.
Em março, o site americano Car Buzz revelou dois registros de patentes da montadora para dispositivos capazes de gerarem um 'rugido' de motor a combustão sem usar alto-falantes, algo que incomoda os entusiastas de carros esportivos por sua artificialidade.
Na primeira, uma série de tubos de metal ocos é instalada no assoalho do carro. Conforme o ar passa por eles é emitido um som de motor. Praticamente, o carro vira uma 'flauta sobre rodas'.
O segundo é um tanto mais complexo. De acordo com a descrição da Ferrari, um dispositivo pneumático – ou conduíte acústico – ligado ao eixo do motor terá a função de irradiar a pressão do ar e as vibrações para os ocupantes, formando um tubo de ressonância. Desse modo, o sistema transmitirá as ondas sonoras sem a necessidade de um alto-falante.
Algumas especulações sugerem que a primeira Ferrari elétrica custe na casa dos 540 mil euros, algo em torno de R$ 2,97 milhões. Bem mais que os 286 mil euros que a Porsche cobra pelo seu Taycan Turbo GT, atual carro elétrico de produção mais caro do mundo. Mas Vigna prefere não falar no assunto por enquanto.
Se a especulação estiver correta, o valor não será um grande problema para o novo público que a Ferrari pretende alcançar: o milionário ambientalista.
O preço também paga o investimento que eles estão fazendo no carro, que vai além do "e-building". A montadora contratou a LoveForm, a agência fundada por Jony Ive, ex-chefe de design da Apple, e o designer industrial Marc Newson, para cuidar exclusivamente do design do seu elétrico.
Claro que a tradição de manter um volume baixo de produção, iniciada pelo fundador Enzo Ferrari, também colabora para agregar ainda mais valor para os carros. No ano passado, apenas 14 mil unidades saíram das linhas de produção em Maranello, algo que não deve mudar muito, mesmo com a nova fábrica.
A tradição funciona muito bem até os dias de hoje. As ações da Ferrari seguem em alta na Europa, tendo uma avaliação de US$ 75 bilhões (R$ 410,85 bilhões), melhor do que as de fabricantes mais populares e que produzem em grande volume, como a Ford e a GM.
Mas a eletrificação pode gerar um problema. Normalmente, as Ferraris são um investimento para quem compra, já que elas tendem a encarecer com o passar do tempo. Porém, a degradação das baterias de modelos elétricos e híbridos põe isso em cheque, afinal, o preço de uma célula nova de uma Ferrari pode, facilmente, ser o mesmo de um bom carro de luxo.
A solução já parece bem encaminhada. Na última semana, a montadora anunciou um novo plano de seguro para cobrir a degradação das baterias de seus modelos híbridos SF90 Stradale, SF90 Spider, SF90 XX Stradale, SF90 XX Spider, 296 GTB e 296 GTS.
A Ferrari não informou o valor exato do seguro, mas rumores sugerem algo próximo de U$ 7.500 (R$ 42.500). O plano oferece cobertura total para todos os componentes híbridos do carro e inclui também a troca de bateria, sem custo adicional, no oitavo e décimo sexto ano de contrato.
Outro detalhe importante é que, "no caso de desenvolvimentos futuros na tecnologia de baterias, a bateria de alta tensão de substituição será um componente novo e de última geração." Em poucas palavras, é praticamente certo que seu carro ganhará um 'upgrade' durante sua vida, ajudando a não desvalorizar no mercado. Inclusive, a Ferrari afirma que o contrato pode ser transferido para um novo dono, caso o carro seja vendido.
Vendo o investimento que a Ferrari está fazendo na eletrificação de sua linha, é pouco provável que o novo plano de seguro não esteja disponível em seu futuro modelo elétrico.
Essas garantias ajudam a passar um pouco de segurança ao novo consumidor que a fabricante almeja alcançar. Mas até mesmo o atual CEO afirma que os motivos para comprar uma Ferrari são muito mais passionais. É como já disse o fundador da marca: "uma Ferrari não testa, se compra".
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