Enquanto os Estados Unidos devem começar a cortar juros em setembro, o mercado brasileiro discute a possibilidade de uma nova alta na taxa Selic.
Enquanto os Estados Unidos devem começar a cortar juros em setembro, o mercado brasileiro discute a possibilidade de uma nova alta na taxa Selic. Quem prevê um novo aperto monetário argumenta que isto seria necessário para reancorar as expectativas de inflação e, de quebra, valorizar o real.
O movimento, claro, impacta o mercado acionário. Segundo especialistas, os investidores podem esperar reações mistas, já que há aspectos positivos e negativos para a renda variável.
Os contratos de Opção de Copom negociados na B3 mostram que o mercado precifica 60,5% de chance de aumento nos juros na próxima reunião do Comitê, que termina em 18 de setembro.
As apostas cresceram depois que os membros do grupo endureceram o discurso, com destaque para falas do diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que vem reforçando que o cenário está aberto para o Copom.
Gestoras, como a Asa Investments, acreditam na alta de 0,25 ponto percentual, o que elevaria a Selic para 10,75% ao ano. Leonardo Costa, economista da casa, projeta que o corte de juros deve começar somente na segunda metade de 2025, "concomitante à expectativa de menor pressão externa com ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, com a taxa Selic terminando o ano que vem em 10%".
Apesar de listarem pontos positivos na possível alta da Selic, os especialistas admitem que a reação inicial da Bolsa deve ser ruim. "Uma taxa de juros mais alta tende a impactar negativamente o caixa das empresas e o apetite comprador (de ações)", resume Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
Ele completa dizendo que o movimento "tende a pressionar o Ibovespa para baixo". Mas a decisão seria como um remédio amargo: "o movimento é necessário para manter a estabilidade econômica no longo prazo" e reforçar a tese de investimento estrutural na renda variável brasileira.
Saindo do impacto inicial, a perspectiva começa a melhorar. Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, diz que "a alta de juros pode afetar a Bolsa, mas outros fatores vêm contribuindo positivamente" para o desempenho do mercado.
Por isso a reação seria mista, com os juros freando o ímpeto das ações no curto prazo, mas fatores como balanços positivos, corte de juros nos EUA e aumento da confiança no Banco Central contribuindo para suportar níveis altos no longo prazo.
O último item, aliás, é a chave para entender onde entra o otimismo com uma notícia que seria negativa em uma leitura simplista.
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Se há um consenso no mercado, porém, ele gira em torno da percepção de risco fiscal. Há analistas otimistas apesar das contas públicas, mas não há quem negue que o tema é uma preocupação para o futuro do Brasil.
Nesse contexto, a alta da Selic seria bem-vinda para passar ao mercado uma mensagem de compromisso com a estabilidade econômica. Lima diz que o movimento "pode reconquistar a confiança do mercado, que foi abalada pelas expectativas fiscais pessimistas".
O especialista ainda lembra da transição na presidência do Banco Central. Uma das grandes preocupações do mercado é de que o novo comandante da autarquia seja leniente com a inflação a partir de 2025 para privilegiar o crescimento da atividade econômica.
Cotado como favorito para o próximo mandato de quatro anos, Galípolo foi indicado pelo atual governo. Lima argumenta que "a transição de comando reforça a necessidade de um movimento que fortaleça a credibilidade da nova gestão".
Por outro lado, ao subir novamente os juros, o Brasil estaria caminhando na contramão dos países desenvolvidos, que estão começando a cortar as taxas, fator que desperta preocupação sobre o apetite do investidor estrangeiro.
Mas Sung minimiza e diz que o movimento do BC não deve ter tanto peso quanto o do Federal Reserve (Fed, o bc americano): "ele (estrangeiro) está mais preocupado com a queda de juros nos Estados Unidos". Ele também elenca como positiva a expectativa de apreciação do real.
Não à toa, o mercado segue otimista com o Ibovespa, mesmo com a Selic no radar. Depois que o Ibovespa renovou a máxima histórica mais uma vez, o JPMorgan atualizou sua estimativa para o índice e agora espera que a Bolsa brasileira alcance os 143 mil pontos ainda em 2024.
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