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Tráfico de obras de arte prejudica mercado e patrimônio cultural

O roubo audacioso de 13 obras de arte no Museu Isabella Stewart Gardner, em Boston, ainda ecoa como um dos maiores mistérios não resolvidos do mundo da arte.

Por Em Sergipe

26/08/2024 às 03:06:33 - Atualizado há

O roubo audacioso de 13 obras de arte no Museu Isabella Stewart Gardner, em Boston, ainda ecoa como um dos maiores mistérios não resolvidos do mundo da arte. Retratado no documentário O Maior Roubo de Arte de Todos os Tempos ( Netflix), o episódio expõe as vulnerabilidades do mercado artístico. Esse crime é apenas um capítulo, cinematográfico, é verdade, de uma prática que gera danos ao patrimônio cultural do Brasil e de vários outros países.

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O tráfico de bens culturais no Brasil é uma prática que tem causado danos profundos ao patrimônio histórico e cultural do país, além de impactar negativamente o mercado de arte. Dados fornecidos pela Polícia Federal e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) ao Metrópoles revelam a dimensão do problema e os desafios enfrentados para combatê-lo.

As obras de arte, especialmente as de natureza sacra e as esculturas, são alvos frequentes dos traficantes no Brasil. De acordo com a Polícia Federal, entre 2019 e 2024, foram registrados 27 casos de tráfico envolvendo itens religiosos de arte sacra e 3 casos de esculturas roubadas ou traficadas. Esses números, que refletem apenas as investigações em nível federal, demonstram a vulnerabilidade dessas peças, muitas delas insubstituíveis, constituintes das construção de templos religiosos e de grande valor histórico e cultural.


Além disso, o tráfico de obras de arte gera um ambiente de insegurança no mercado de arte, desestimulando a compra e venda legítima de peças, segundo o Iphan. Quando obras roubadas ou traficadas entram em circulação, a autenticidade e a procedência das peças tornam-se incertas, criando um clima de desconfiança entre galerias, colecionadores e investidores. Isso pode levar à retração comércio, afastando interessados e reduzindo o valor das transações.

Métodos de tráfico e rotas internacionais

Os traficantes de obras de arte utilizam métodos variados para contrabandear essas peças para fora do Brasil, de acordo com a PF. A venda e o leilão on-line são estratégias comuns, facilitadas pela falta de regulamentação adequada em algumas plataformas virtuais. Além disso, portos e aeroportos são frequentemente usados para exportar obras de arte disfarçadas como objetos comuns, o que, ainda segundo as autoridades, dificultaria sua detecção por autoridades alfandegárias.

A PF identificou que as principais rotas internacionais para o tráfico de obras de arte brasileiras incluem destinos na Europa e América do Norte, com destaque para os Estados Unidos e Alemanha. Esses mercados, conhecidos pela alta demanda esses produtos, acabam atraindo traficantes em busca de lucros elevados.

Problema histórico

Leandro Grass, presidente do Iphan, garante que o problema não é atual e vem sendo combatido pela autarquia federal, que é vinculada ao Ministério da Cultura.

“O tráfico ilícito de bens culturais é um problema histórico que o Brasil herda desde o período colonial, e quando da República, especialmente da Constituição de 88 para cá, nós tivemos um incremento da forma de combate a esse tipo de crime, já com êxito em várias situações, inclusive com repatriação de bens culturais que foram parar em outros países, e hoje o governo federal dispõe, em especial através do Iphan, de uma estrutura e de uma metodologia para o controle de entrada e saída de bens culturais, de obras de arte e também de fiscalização, em especial naqueles bens tombados ao nível federal”, salienta Grass.

A Arte do Descaso

Em seu livro Arte do Descaso, lançado em 2016, a jornalista Cristina Tardáguila aborda a história do maior roubo de museu do Brasil, o furto de obras de arte do Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro, em 2006.

Durante o Carnaval, quatro pinturas foram roubadas por um grupo de ladrões que se aproveitaram do momento de distração geral para cometer o crime. As obras, que incluíam peças de Picasso, Matisse, Monet e Dalí, nunca foram recuperadas, e o caso se tornou um dos maiores mistérios do mundo da arte no Brasil.

A arte do descaso

No livro, Tardáguila combina relatos de testemunhas, documentos oficiais e entrevistas para traçar uma narrativa reveladora sobre a negligência no trato com a arte no Brasil, como uma crítica ao sistema que permitiu que ele acontecesse e à apatia em relação ao patrimônio artístico nacional.

Em entrevista ao Metrópoles, a autora do livro reafirma o descaso das autoridades e da população esse tipo de crime e destaca a gravidade.

“O roubo de arte não desperta comoção popular, ainda mais num país como o nosso, em que a arte não é tão valorizada. Ele chega ao noticiário quase como uma anedota, quase como um conto. E isso não é nada glamouroso, é o contrário do que os filmes de Hollywood pregam. Ele é tão importante quanto o tráfico de armas, contra o tráfico de diamantes, contra o narcotráfico. Ele, na verdade, faz conexão com esses outros crimes”, conclui.

Fonte: Metrópoles
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