Enquanto a fumaça das queimadas no estado de São Paulo chegava à Brasília e cobria o Congresso Nacional neste domingo (25), os parlamentares da bancada ruralista passavam a utilizar suas redes sociais para disparar notícias falsas acusando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de estar por trás dos incêndios florestais.
Enquanto a fumaça das queimadas no estado de São Paulo chegava à Brasília e cobria o Congresso Nacional neste domingo (25), os parlamentares da bancada ruralista passavam a utilizar suas redes sociais para disparar notícias falsas acusando o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de estar por trás dos incêndios florestais.
O Deputado Federal Zé do Trovão (PL-SC) compartilhou a ilustração de uma queimada cujas chamas formam uma estrela ao redor da letra L. No meio da imagem está escrito “MST”. Já o Deputado Federal Lúcio Mosquini (MDB-RO) compartilhou o print de uma nota publicada no site “A Província do Pará” em abril, com o seguinte título: “MST manda recado a Lula e seus ministros de governo “Vamos incendiar o agro no Brasil””.
A citação do título foi considerada uma fake news por um veículo de checagem de fatos. A frase, que à época não foi publicada por nenhum outro veículo, sequer compõe o texto publicado pelo site paraense, que se refere às ações do chamado “abril vermelho”, quando o movimento sem-terra concentra atividades de ocupação de terras improdutivas no país. Após a publicação de Mosquini, a notícia passou a ser compartilhada por diversas páginas nas redes sociais.
Na tarde desta segunda-feira (26), o MST publicou uma nota repudiando as falsas acusações: “Essas alegações sem fundamento têm como único objetivo desviar a atenção das verdadeiras causas dos incêndios e nos criminalizar por lutarmos por uma Reforma Agrária justa e sustentável”. O movimento destacou também que as queimadas no interior paulista, que vêm ocorrendo em áreas de produção canavieira, são “sintomas de um modelo de agronegócio insustentável que domina o campo brasileiro”.
Os focos de incêndio no interior de São Paulo bateram o recorde para o mês de agosto desde o início da medição pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em 1998. Até ontem, eram 3.482 focos de incêndio no estado. Nos últimos três dias, os focos superaram as queimadas na região amazônica, que também vive temporada recorde, com o maior número de focos de fogo nos últimos 19 anos. Na semana passada, a fuligem da região amazônica também chegou a cobrir o céu no sul e sudeste do país.
O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, em entrevista coletiva dada neste domingo ao lado do presidente Lula e da ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, afirmou que, até o momento, nenhum incêndio detectado em São Paulo teve causas naturais. Diante da situação atípica, a Polícia Federal abriu dois inquéritos para apurar possível ação criminosa por trás dos incêndios. Desde ontem, dois homens já foram presos em São Paulo, e um no Goiás, suspeitos de causar os incêndios. Suspeitando ação orquestrada, Marina Silva relacionou o momento ao “Dia do Fogo”, quando produtores rurais na Amazônia se organizaram para incendiar a floresta, em agosto de 2019.
Diferentemente do “Dia do Fogo”, anunciado como uma demonstração de apoio dos produtores rurais à flexibilização da política ambiental pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), as motivações do contexto atual seguem incertas. Dessa vez, no entanto, membros da bancada ruralista têm se aproveitado da situação para atacar o atual governo, acusando Lula e Marina de negligenciar a calamidade.
A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) compartilhou uma imagem, gerada por inteligência artificial, de uma queimada cuja fumaça forma o rosto do presidente Lula. “Antes era tudo culpa de Bolsonaro. Agora, é do “aquecimento global””, ironiza o tuíte compartilhado pela parlamentar. O deputado Marcos Pollon (PL-MS) publicou uma montagem com o rosto de Lula gargalhando sobre a fumaça.
A ruralista Coronel Fernanda (PL-MT), por sua vez, criticou o governo e aproveitou as queimadas para defender o fim da moratória da soja, pela qual empresas se comprometem a não comprar grãos produzidos em áreas amazônicas desmatadas após julho de 2008. “Qual é a grande ação do governo agora? Ficar ao lado das ONGs que, além de não moverem uma palha para resolver o problema, ainda atrapalham a vida daqueles que querem produzir grãos honestamente”, escreveu.
Parlamentares da Bancada do PT na Câmara, por sua vez, sugerem que a extrema direita esteja por trás da onda de queimadas, lembrando que lideranças bolsonaristas como o pastor Silas Malafaia e o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) postaram em suas redes sociais, há pouco mais de uma semana, convites para uma manifestação no dia 7 de setembro, data da Independência do Brasil, afirmando que o Brasil iria “pegar fogo”.
Nesta segunda-feira, quase 50 cidades paulistas amanheceram com alerta máximo para queimadas. Nos últimos dias, mais de 800 pessoas já deixaram suas casas e as aulas da rede municipal foram suspensas em pelo menos quatro municípios.
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