Os policiais militares que abordaram quatro adolescentes – três deles negros e filhos de diplomatas – em Ipanema foram denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelos crimes de ameaça e constrangimento ilegal.
Os policiais militares que abordaram quatro adolescentes – três deles negros e filhos de diplomatas – em Ipanema foram denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro pelos crimes de ameaça e constrangimento ilegal.
O ministério, por meio da 2ª Promotoria de Justiça junto à Auditoria de Justiça Militar, ofereceu a denúncia contra Luiz Felipe dos Santos Gomes e Sergio Regattieri Fernandes Marinho no início de setembro e argumenta que os policiais abordaram as vítimas de forma truculenta.
Em julho, cinco jovens entre 13 e 14 anos foram abordados por policiais militares armados na zona sul do Rio.
A ação penal afirma que, enquanto Regattieri realizava a segurança do local, o outro policial militar revistou os adolescentes e obrigou a exibir as partes genitais.
Nas imagens de câmera de segurança próximas ao local obtidas pela CNN é possível ver o momento que os policiais chegam e apontam as armas para os meninos, que estavam na calçada.
Em relato nas redes sociais, Raiana Rondhon, mãe de um dos meninos, conta que os jovens foram deixar um amigo na porta de casa, quando foram abordados por volta das 19h.
Rondhon conta que, durante a ação, eles estavam "com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados, obrigados a tirar casacos".
"Após a abordagem desproporcional, testemunhada pelo porteiro do prédio, é que foram questionados de onde eram, e o que faziam ali", relatou.
Segundo Raiana, após perceberem que os jovens eram estrangeiros e não conseguiam responder às perguntas dos policiais, eles foram liberados com um alerta para não andarem na rua, sob risco de serem abordados novamente.
Ela também diz que a abordagem foi "racial" e "criminosa".
Após a abordagem da Polícia Militar a adolescentes negros, o Ministério das Relações Exteriores recebeu os embaixadores do Gabão e de Burkina Faso em Brasília para uma reunião.
O Itamaraty informou que acompanha o caso e busca apurar as circunstâncias do ocorrido, para tomar as providências necessárias.
Na reunião com os embaixadores, foi entregue em mãos uma nota com um pedido formal de desculpas pelo lado brasileiro e o anúncio de que o Ministério de Relações Exteriores acionará o governo do estado do Rio de Janeiro, solicitando apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem.
Em depoimento no dia 11 de julho, o PM Sérgio Regattieri Fernandes Marinho disse que a abordagem dos jovens não foi racista, e sim uma abordagem que se deu por conta da semelhança com o grupo suspeito que estava sendo procurado.
Os PMs foram prestar depoimentos no inquérito que investiga se a conduta dos agentes foi racista ou não contra o grupo de adolescentes.
Durante depoimento, que durou pouco mais de duas horas, Marinho afirmou que suspeitou do grupo porque eles poderiam estar cometendo um assalto.
Antes da abordagem policial, uma vítima teria parado o policial perto da praia para relatar um furto que ela teria sofrido na região. E que um grupo de assaltantes com características parecidas com as dos adolescentes tinha praticado o assalto.
O sargento disse ainda que por isso passou a procurar pelos suspeitos, até que quando passaram pela Rua Prudente de Moraes, no bairro de Ipanema, eles abordaram os jovens.
O outro policial, o sargento Luiz Felipe dos Santos Gomes, não prestou depoimento. A defesa dele alegou que precisava ter acesso aos autos.
O Ministério de Relações Exteriores disse que cobraria ao Governo do Estado do Rio de Janeiro uma apuração rigorosa e a responsabilização dos envolvidos.
O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), após alguns dias do posicionamento do Itamaraty, disse que não crucificaria seus policiais e que cobraria uma investigação isenta.
"Eu vou cobrar uma investigação séria, isenta. Se for constatado que exageraram, vão ser punidos", disse Castro.
Castro afirmou que ouve um pré-julgamento dos policiais por parte do governo federal, e que antes de comunicar a imprensa e fazer as reuniões com as embaixadas, o Itamaraty não entrou em contato com o governo do Rio de Janeiro.
"Quando eles querem, eles ligam. Enviar um ofício posterior não quer dizer nada depois de ter avacalhado a polícia. Totalmente dispensável o ofício deles."
O Itamaraty informou que não iria comentar sobre as declarações do governador Cláudio Castro.
(Com informações de Gustavo Zanfer, Rodrigo Monteiro, Catarina Nestlehner e Thomaz Coelho, da CNN)
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