As tensões entre a Alemanha e a UniCredit vieram à tona nesta segunda-feira (23), quando o governo se opôs à aquisição do Commerzbank, enquanto o credor italiano buscava aumentar sua participação.
As tensões entre a Alemanha e a UniCredit vieram à tona nesta segunda-feira (23), quando o governo se opôs à aquisição do Commerzbank, enquanto o credor italiano buscava aumentar sua participação.
"Ataques pouco amigáveis e aquisições hostis não são bons para os bancos, e é por isso que o governo alemão tomou uma posição clara aqui, deixando muito evidente que não consideramos isso um curso de ação apropriado", disse o chanceler Olaf Scholz a jornalistas em Nova York.
A declaração foi feita horas após a UniCredit divulgar que havia firmado contratos derivativos que lhe permitiriam aumentar sua participação no Commerzbank para cerca de 21%, a partir de 9% anteriormente. Isso efetivamente torna a UniCredit o maior acionista, à frente do governo alemão, e a coloca em rota de aquisição.
O ressentimento dentro do governo alemão tem crescido em relação à maneira como o CEO da UniCredit, Andrea Orcel, fez sua movimentação sobre o Commerzbank, um banco visto como uma fonte crucial de financiamento para a economia do país, informou a Bloomberg News. Berlim, que planejava reduzir sua participação no Commerzbank no mercado, anunciou na sexta-feira (20) que irá pausar a venda planejada, com alguns oficiais aparentemente pegos de surpresa pela abordagem de Orcel.
Isso não impediu o CEO de fazer outra movimentação na segunda-feira, quando a UniCredit anunciou que estava prestes a mais que dobrar sua participação no credor alemão, utilizando derivativos. A UniCredit já havia utilizado uma estratégia semelhante para evitar alertar investidores e partes interessadas antes de divulgar em 11 de setembro que havia adquirido uma participação significativa.
Scholz, em sua declaração, criticou "o fato de que, sem qualquer cooperação, consulta ou feedback, estão sendo feitas tentativas com métodos inamistosos para adquirir participações em empresas".
"O Commerzbank é um banco comercialmente bem-sucedido que desempenha um papel importante em garantir que a indústria alemã e as pequenas e médias empresas recebam o financiamento necessário", afirmou. "E ele consegue fazer isso bem como uma entidade independente."
Um representante da UniCredit se recusou a comentar.
As ações do Commerzbank caíram 5,90% às 17h18 em Frankfurt, enquanto as da UniCredit caíram 3,2% em Milão. O banco alemão ainda está com uma valorização de cerca de 17% desde que a UniCredit divulgou pela primeira vez sua participação há quase duas semanas, enquanto o rival italiano ganhou cerca de 2%.
Os comentários raros de Scholz sublinham o quanto as tensões aumentaram entre Orcel, um dos negociadores mais prolíficos da Europa, e o governo de Scholz, que tem sido criticado por partidos de oposição pela forma como lidou com a participação no Commerzbank.
O drama em andamento começou no início de setembro, quando a Alemanha anunciou um plano para vender cerca de 4,5% do Commerzbank, como um primeiro passo para devolver o banco à plena propriedade privada. O governo imaginava uma venda para uma variedade de investidores institucionais, argumentando que o banco havia superado dificuldades e estava forte o suficiente para se sustentar.
Em vez disso, a UniCredit adquiriu toda a participação ao superar os concorrentes, revelando que havia acumulado silenciosamente mais ações do Commerzbank no mercado. A movimentação irritou oficiais alemães, que afirmaram que faltou transparência, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.
O conselho de administração do Commerzbank está se reunindo para uma reunião estratégica nas colinas de Taunus, perto de Frankfurt. A administração deve apresentar sua visão ao conselho de supervisão do banco na terça e na quarta-feira, mas a movimentação da UniCredit deve ser o principal assunto da reunião, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto.
"Estamos atordoados e irritados com o comportamento de Orcel", disse Uwe Tschaege, chefe do conselho de trabalhadores do Commerzbank e vice-presidente. "Ele não está interessado no que o governo ou o Commerzbank dizem; isso não é um ato amigável. O clima aqui é ainda mais negativo do que antes."
Orcel deixou claro que está aberto ao que acontecerá a seguir com sua participação. Ele também afirmou que pelo menos alguns em Berlim estavam cientes das intenções de seu banco e enfatizou nos últimos dias que não está interessado em buscar uma aquisição hostil.
Em sua declaração na segunda-feira, a UniCredit citou um relatório recente sobre competitividade na Europa apresentado pelo ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, argumentando que o continente precisa da consolidação bancária que a possível oferta de aquisição representa.
"A UniCredit acredita que há um valor substancial a ser desbloqueado dentro do Commerzbank, seja como uma entidade independente ou dentro da UniCredit, para o benefício da Alemanha e dos stakeholders mais amplos do banco", acrescentou.
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