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Concorrência de marketplaces motivou união entre Petz e Cobasi, diz Sergio Zimerman

O fechamento da fusão entre a Petz (PETZ3) e a Cobasi depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

Por Em Sergipe

03/10/2024 às 05:40:18 - Atualizado há

O fechamento da fusão entre a Petz (PETZ3) e a Cobasi depende da aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). "A concorrência gigante proporcionada pelos marketplaces no país é o embasamento central da junção das duas empresas omnicanais", destaca Sergio Zimerman, presidente do Conselho de Administração da Petz.

Segundo ele, apenas no Mercado Livre, são mais de 3 mil pet shops atuantes. O empresário está confiante e avalia que a conclusão do negócio poderá ocorrer em meados de 2025.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, Zimerman detalha o que aconteceu desde a assinatura do contrato com os termos da combinação de negócios em 16 de agosto, quais serão os próximos passos e explica sobre o levantamento preliminar de sinergias.

Ele também comenta sobre o desempenho do setor de varejo na bolsa, que teve um "banho de sangue" nos últimos 24 meses, e diz que as ações da Petz estão subavaliadas. Entre as novidades, Zimerman adianta que a Petz está preparando um plano de saúde totalmente verticalizado para pets.

Sergio Zimerman, fundador e CEO da Petz (Crédito: Divulgação)

Esta entrevista faz parte do Guideline, segmento de entrevistas do InfoMoney com executivos e especialistas de referência sobre visões estratégicas em diferentes setores. Confira as entrevistas já publicadas:

InfoMoney: Em 16 de agosto, a Petz e a Cobasi assinaram o contrato com os termos da fusão das duas empresas. Quais as novidades desde então?

Sergio Zimerman: O fechamento da fusão depende da aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Já fizemos um pré-protocolo, mas submeteremos o documento final ainda em outubro. Uma vez que o protocolo é feito no Cade, o órgão tem, no máximo, 330 dias para responder. Nossa expectativa é que isso aconteça entre seis e nove meses após a data de protocolo, assim, o fechamento da transação pode ocorrer em meados de 2025.

InfoMoney: O que fundamenta sua confiança na aprovação do Cade em relação à fusão?

Sergio Zimerman: Temos analisado decisões do Cade sobre outras fusões e vemos que é um órgão com técnicos altamente preparados. É importante notar que o caso da Petz e da Cobasi é o primeiro na história do Brasil envolvendo duas empresas omnicanais. Não há exemplos anteriores que possam servir de referência. Quando se pensa em omnicanalidade forte, não se trata apenas de analisar quantas lojas existem em determinado bairro de uma cidade como São Paulo; é preciso considerar que o consumidor tem, na palma da mão, no seu celular, mais de três mil lojas de pet shops apenas no Mercado Livre, além da Amazon, Petlove e outros marketplaces. Isso dá uma dimensão da intensa concorrência, que será o embasamento central do nosso caso, que é a junção de duas empresas verdadeiramente omnicanais. Veja que, na Petz, 45% das vendas foram digitais no segundo trimestre de 2024, das quais 94% saíram das próprias lojas. Curiosamente, o primeiro caso de omnicanalidade do mundo nessa intensidade é a Petz, não apenas no segmento pet, mas em relação a outros setores de varejo, e o segundo maior caso provavelmente seja da Cobasi. Além disso, no setor de pet shops, a barreira de entrada é zero, e a concorrência se intensifica a cada ano, tanto no meio físico quanto digital, e nada indica que esse movimento irá parar.

InfoMoney: A partir do possível fechamento da fusão, quais as sinergias estimadas e onde a companhia buscará maior eficiência?

Sergio Zimerman: Contratamos a consultoria McKinsey, cujo escopo de trabalho tem duas partes. A primeira parte, entre o memorando de entendimento (MoU) e a assinatura, foi justamente fazer um levantamento inicial das sinergias. A segunda parte, que a consultoria já começou e deve concluir em fevereiro de 2025, é o mapeamento aprofundado dessas sinergias e a ajuda no planejamento da fusão. Enquanto o Cade analisa o caso, a única coisa que podemos fazer é planejar a integração. Inicialmente, estimamos um incremento no EBITDA entre R$ 220 milhões e R$ 330 milhões anuais, que podem ser capturados em três anos. Em média, serão R$ 275 milhões anuais, e as principais sinergias incluem a racionalização na expansão, aumento da produtividade, otimização de despesas gerais e administrativas, crescimento da marca própria e cruzamento de serviços. Por exemplo, a Cobasi não possui hospitais, enquanto a Petz conta com a rede Seres. Assim, as clínicas da Cobasi poderão referenciar à rede Seres, e poderemos montar hospitais na Cobasi. Além disso, vale lembrar que a Petz adquiriu recentemente a Zee.Dog, empresa de acessórios e brinquedos para animais de estimação, e a Petix, especializada em tapetes higiênicos. Portanto, quando a fusão com a Cobasi for consumada, essas duas empresas praticamente dobrarão sua distribuição no modelo store in store.

Fachada de uma das lojas da Petz (Foto: Divulgação)

InfoMoney: Qual é o plano para as marcas Petz e Cobasi?

Sergio Zimerman: A McKinsey tem como objetivo responder, nos próximos meses, todas as perguntas estratégicas do negócio. Mas posso adiantar que um pilar muito claro é que continuará existindo uma rede chamada Cobasi e outra Petz, assim como ocorre com a Raia e a Drogasil. Não há nada no horizonte, sequer como hipótese, de adotarmos uma terceira marca ou apenas uma das duas marcas para dar continuidade aos negócios.

InfoMoney: Desde a assinatura da fusão em 16 de agosto até 30 de setembro, a ação PETZ3 teve alta de 36,81% e, no acumulado de 2024 (até 30/09), a valorização do papel foi de 19,56%, chegando a R$ 4,72. Você tem comentado que o preço não está em um patamar condizente. Por quê?

Sergio Zimerman: Acredito que a empresa ainda está subavaliada devido a situações específicas. A primeira delas é a significativa posição de vendidos a descoberto nas ações da Petz, que cria uma anomalia no preço do papel. Dados recentes indicam que cerca de 60 milhões de ações estão vendidas a descoberto (cerca de 13% do total). Outra razão é que o varejo, como um todo, perdeu bastante valor, especialmente nos últimos 24 meses, resultando em um “verdadeiro “banho de sangue” na Bolsa. A Petz, sendo parte do varejo, foi arrastada por isso. Tínhamos uma boa base de investidores estrangeiros, que simplesmente se afastaram — não apenas da Petz, mas do Brasil ou, pelo menos, do varejo brasileiro. Quando esses investidores tomam decisões como essas, não importa se é a Petz ou outras empresas; eles simplesmente saem vendendo suas posições. Além disso, o mercado está mais cauteloso, aguardando que publiquemos um balanço com dados melhores. Temos enfrentado uma sequência de balanços que frustraram em crescimento e mostraram pressão na rentabilidade. Os investidores esperam uma reversão. Precisamos ter respeito e paciência, pois sabemos que, corrigida a questão dos vendidos e com melhores números da companhia, como temos convicção de que faremos, o preço do papel voltará a ser negociado a um valor justo.

InfoMoney: Na sua visão, por que existe uma posição relevante de vendidos a descoberto em PETZ3?

Sergio Zimerman: Ótima pergunta, mas não sei responder, pois sou comprado no papel. Quando alguém é vendido no papel a descoberto, acredita que o preço está alto e que vai cair.Agora, por quais razões essas pessoas pensam assim, eu poderia formular hipóteses como: talvez acreditem que o Cade não vai aprovar a fusão; que, mesmo que o Cade aprove, a fusão com a Cobasi não dará certo; ou que os números e a rentabilidade continuarão caindo. Essas podem ser algumas razões para esses investidores acreditarem que têm espaço para vender a ação e recomprá-la no futuro a um preço menor. Eu tenho fortíssima convicção que essas pessoas estão enganadas e vão se surpreender com a alta expressiva que o papel inevitavelmente terá.

InfoMoney: Os investidores querem ver para crer e você mencionou a pressão sobre a rentabilidade. O que está sendo feito para gerar melhores resultados?

Sergio Zimerman: Estamos muito focados no aumento da produtividade, na melhoria da experiência digital e no aumento da taxa de conversão de clientes, tanto no aplicativo quanto no site. Estamos trabalhando para que as lojas tenham despesas operacionais cada vez mais racionalizadas. Também ajustamos nossa competitividade de preços, o que significa que estamos reduzindo alguns preços para aumentar o volume de vendas. É importante ressaltar que, durante a pandemia, a inflação no segmento pet foi muito alta, chegando a ser o dobro do IPCA. A inflação interna da Petz, em relação ao preço de venda, chegou a ser ainda maior. Atualmente, nossa inflação está entre 0% e -1%, ou seja, se considerarmos um período de 12 meses, não há inflação. Portanto, quando apresentamos um crescimento de 5% a 8%, parece baixo, mas o número nominal é igual ao real nesse caso. Onde vemos crescimento consistente é no número de clientes, número de cupons, e os sinais são extremamente positivos para os próximos meses para a Petz.

InfoMoney: Atualmente, quais são os produtos mais procurados na Petz?

Sergio Zimerman: Disparado, na parte de produtos, o segmento de pet food é responsável por cerca de 60% das vendas totais, seguido por produtos de higiene e limpeza e itens de farmácia, incluindo medicamentos, antipulgas e vermífugos. Em seguida, vêm os acessórios, como brinquedos, coleiras, comedouros, caixas de transporte, camas e roupas, que também têm vendas importantes.

InfoMoney: Quais são as inovações recentes na oferta de produtos e serviços da Petz? O que está no pipeline?

Sergio Zimerman: Há alguns dias, iniciamos a fase de testes com um grupo de clientes para a ampliação do Clubz, nosso programa de fidelidade. Além da opção gratuita que já existia, criamos planos pagos. São três faixas de benefícios e, de acordo com a quantidade de pets e níveis de consumo, os tutores poderão escolher a opção que faz mais sentido. Esses planos trarão vantagens financeiras, como descontos em produtos e serviços. O projeto piloto está indo bem, estamos validando todos os processos e, dentro de algumas semanas, esse programa de fidelidade estará disponível em 100% da rede. Outra iniciativa ainda em desenvolvimento, que conceitualmente está avançando bem, mas ainda precisa de desenvolvimento tecnológico, é o plano de saúde para pets, que será exclusivamente da rede Seres, ou seja, o primeiro totalmente verticalizado.

InfoMoney: Como o setor de pet shops se diferencia de outras categorias do varejo?

Sergio Zimerman: É preciso entender a mentalidade dos tutores, que tratam os pets como membros da família e gostam de retribuir pela alegria e pelas coisas boas proporcionadas pela convivência com seus animais. Isso faz com que, em momentos mais desafiadores da economia, os tutores cortem outros gastos, mas evitem mexer nas despesas com seus pets. O ser humano pode fazer substituições na alimentação, pois tem uma variedade maior de opções, mas para os pets isso não funciona da mesma forma; quando estão acostumados com ração de qualidade, é muito difícil se adaptarem a marcas mais baratas. Na maioria dos casos, a ração é a única coisa que eles comem. Assim, os tutores compram esses produtos com muita recorrência. Se olharmos para os anos difíceis de 2014 e 2015, quando o PIB caiu significativamente e o varejo recuou ainda mais, o segmento de pet shops conseguiu se manter positivo. Isso demonstra o grau de descolamento em relação a outras categorias.

InfoMoney: Há investidores que dizem que esse mercado não está crescendo tanto, que está andando de lado…

Sergio Zimerman: O que tem acontecido é uma confusão recente, de 2022 para cá, pois muitas pessoas não estão enxergando o todo. De fato, desde 2022, o segmento pet tem crescido igual ou até menos do que outros setores de varejo, e, por isso, algumas pessoas afirmam que estabilizou e não é resiliente. No entanto, essa visão contém um erro de avaliação intrínseco relacionado à pandemia. A pandemia foi uma crise assimétrica, pois algumas verticais de varejo foram muito prejudicadas, enquanto outras se destacaram. O segmento de pet shops avançou muito naquela época porque as pessoas interagiam mais com seus pets e, quem não tinha, decidiu comprar ou adotar um animal. Quando um setor cresce de forma tão acentuada como ocorreu em 2020 e 2021, é natural que a base de comparação fique muito alta, levando à sensação de lateralização. Além disso, setores que foram duramente atingidos em 2020 e 2021, como o de vestuário, com o fechamento de shoppings, estão crescendo muito acima do segmento pet. Algumas empresas estão tendo um crescimento forte após 2022, mas muitas delas estão apenas retornando aos níveis de faturamento de 2019. Entretanto, ao analisarmos dados de 2023 em comparação com 2019, vemos que o setor pet, como um todo, cresceu a uma taxa de 20% ao ano, enquanto a Petz cresceu 35% ao ano nesse período. Em 2019, nosso faturamento foi de R$ 1,2 bilhão e, em 2023, chegamos a R$ 3,8 bilhões. Portanto, se não se considerar esse contexto mais amplo, pode-se ter a falsa impressão de que o segmento pet esgotou seu crescimento. No entanto, nos próximos anos, veremos avanços desse setor que é resiliente.

InfoMoney: Quais são os principais desafios no segmento de pet shops?

Sergio Zimerman: Existem vários desafios, mas o principal é a ausência de barreiras de entrada. Embora não seja difícil entrar no mercado, é necessário ter diferenciais e agregar valor para que os tutores se interessem pelo seu negócio. Para uma empresa estruturada como a nossa, há outro grande desafio: trabalhar em um setor com muita informalidade. Em produtos, sofremos um pouco menos, mas em serviços, a intensidade é alta. No mercado em geral, há inúmeras situações em que não são emitidas notas fiscais para vacinas, consultas ou banhos em pets, o que resulta em ausência de tributação na prestação do serviço. Além disso, a informalidade também prevalece na contratação da mão de obra, o que nos faz sofrer duplamente, pois cumprimos 100% dos requisitos legais.

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