Com nomes como Adriana Esteves, Rodrigo Lombardi, Chay Suede e Agatha Moreira no elenco, Mania de Você gerou esperanças nos noveleiros de plantão, que estavam com saudade de uma trama atual.
Com nomes como Adriana Esteves, Rodrigo Lombardi, Chay Suede e Agatha Moreira no elenco, Mania de Você gerou esperanças nos noveleiros de plantão, que estavam com saudade de uma trama atual. As expectativas, contudo, não foram atingidas. Sem conseguir agradar o “público do sofá”, o folhetim vem acumulando números negativos de audiência até aqui.
Nas últimas semanas, Mania de Você alcançou uma média de 22 pontos de audiência na Grande São Paulo, segundo dados da Kantar Ibope, o principal medidor de audiência da TV. Embora esse número já seja considerado modesto para uma telenovela, o desempenho foi ainda pior na última quinta-feira (17/10), quando a trama registrou apenas 21,8 pontos.
Para o Eloy Vieira, professor e pesquisador no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Sergipe (PPGCOM/UFS), a criação de João Emanuel Carneiro frustrou o público ao não seguir a lógica do novelão.
“Ela ficou muito focada no núcleo do quadrilátero amoroso entre os quatro principais personagens e lembrou muito uma trama de Malhação, muito juvenil, e isso foge um pouco da proposta da novela das nove de forma geral”, avalia.
Ele ainda acredita que as pessoas esperavam mais de personagens vividos por nomes como Adriana Esteves. Para o pesquisador, a atriz, estrela de Avenida Brasil, aparece como coadjuvante e desaponta quem esperava que ela tivesse um papel mais importante.
Vieira também defende que o autor de Todas as Flores e Avenida Brasil tentou criar personagens profundos, que se tornaram complexos demais para uma telenovela. “Você não sabe muito bem quem é vilão, quem é mocinho, cada um se comporta de um jeito, quando convém”.
O roteirista e doutor em Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) Lucas Martins Néia concorda com esse fator levantado por Vieira. Para ele, existe um jogo dúbio entre os quatro protagonistas. “O espectador meio que não se apega a ninguém porque não sabe em quem confiar”, pontua.
7 imagensFoto: Globo/DivulgaçãoFoto: Globo/DivulgaçãoFoto: Globo/DivulgaçãoFoto: Globo/DivulgaçãoFoto: Globo/DivulgaçãoManoella Mello/GloboNéia também ressalta os cortes feitos logo no início de Mania de Você, que teve capítulos curtos na primeira semana e várias passagens de tempo. “Já começa com essa dificuldade de o público se acostumar e criar fidelidade com a nova atração.”
Com as mudanças nos hábitos de consumo de conteúdo e o envelhecimento do público que cresceu assistindo telenovelas da forma tradicional, a audiência da TV aberta tem sido impactada de maneira significativa. Muitas pessoas, inclusive, abandonaram a TV aberta e até deixaram de ter o aparelho em casa.
No entanto, para Lucas Martins Néia, se o objetivo é divulgar a produção na televisão, ela precisa ser inteiramente pensada para esse meio.
“Ela vai ser levada para o streaming depois? Ótimo. Mas, até por conta dessas múltiplas entradas que a gente tem na atualidade, acho importante pensar as produções visando a primeira janela nas quais elas serão exibidas. Então se eu vou exibir essa produção primeiro na TV, eu tenho que priorizar o esquema de produção, o esquema narrativo, inclusive, demandado pela televisão”, explica.
Seguindo uma outra linha de pensamento, o professor Eloy Vieira acredita que a Globo possa estar testando um formato híbrido, uma novela que funcione tanto para estar na TV aberta, quanto no streaming, e ter um pouco de audiência em cada. “Tem defeitos e talvez isso seja justamente pela percepção de uma proposta diferente. Eles já sabem que isso foge um pouco do escopo da novela das nove”, avalia.
Lucas, autor do livro Como a Ficção Televisiva Moldou um País: Uma História Cultural da Telenovela Brasileira (1963 a 2020), observa que, atualmente, é raro uma novela conquistar o grande público como no passado. Ele destaca a importância de focar em adaptações e explorar temas que dialoguem melhor com os espectadores, apostando em novelas com uma “estrutura mais clássica”. Enquanto isso, Vieira argumenta que “para manter e construir a audiência para o futuro da televisão, é essencial saber dialogar com a internet.”
“O conteúdo precisa estar disponível para as pessoas na hora que elas quiserem, do jeito que elas quiserem, porque isso é importante para manter o conteúdo circulando. E quem mantém o conteúdo circulando são as pessoas comuns, são elas que vão fazer os memes, que vão comentar nas redes sociais, e é mais uma esfera que as audiências têm para se encontrarem e consumirem conteúdos em conjunto.”
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