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Para tentar virar eleição, Boulos reedita Lula-2002 e lança "Carta ao Povo de SP"

Bem distante do prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, nas pesquisas de intenção de voto, a menos de uma semana do segundo turno das eleições municipais, o candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo (SP), Guilherme Boulos, divulgou, nesta segunda-feira (21), um documento intitulado "Carta ao Povo de São Paulo", firmando compromissos com a população paulistana caso vença o pleito.

Por Em Sergipe

21/10/2024 às 12:22:00 - Atualizado há

Bem distante do prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, nas pesquisas de intenção de voto, a menos de uma semana do segundo turno das eleições municipais, o candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo (SP), Guilherme Boulos, divulgou, nesta segunda-feira (21), um documento intitulado "Carta ao Povo de São Paulo", firmando compromissos com a população paulistana caso vença o pleito.

Na carta, Boulos reconhece que as forças políticas de esquerda deixaram de dialogar com uma grande parcela do eleitorado que pretende "encontrar sua própria forma de ganhar a vida". Se eleito, promete o candidato do PSOL, a futura gestão criará políticas direcionadas à "periferia que quer empreender".  

Em pronunciamento a apoiadores, em frente à sede da prefeitura de São Paulo, Boulos afirmou ainda que vai percorrer todas as regiões da capital paulista em uma "caravana da virada", até o dia do segundo turno, e dormirá na casa de eleitores.

"Vou rodar esta cidade, em cada região, conversando com as pessoas de cada área, que trabalham com o que for. Pessoas que, inclusive, várias delas já toparam me receber nas suas casas. Vou dormir na casa dessas pessoas", anunciou Boulos.

A estratégia da divulgação da "Carta ao Povo de São Paulo" é mais uma tentativa de reedição da campanha vitoriosa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em sua primeira vitória na disputa pelo Palácio do Planalto, em 2002.

Na ocasião, Lula, que era visto sob forte desconfiança pelo mercado financeiro, lançou a "Carta ao Povo Brasileiro", na qual se comprometia em respeitar contratos e manter a estabilidade econômica do país.

Assim como Boulos, Lula era considerado "inexperiente" – nunca havia ocupado um cargo no Executivo – e muito associado a grupos marcadamente de esquerda, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Deputado federal eleito em 2022, Guilherme Boulos nunca exerceu cargo no Executivo. Em 2020, ele foi derrotado pelo então prefeito Bruno Covas (PSDB) no segundo turno das eleições municipais.

Boulos é muito identificado com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), no qual ingressou em 2002 e do qual foi um dos principais líderes, tendo participado, inclusive, de ocupações de terrenos e prédios públicos.

"Eu me preparei para governar nossa cidade: estudei cada área, cada contrato e cada solução. Chamei a Marta [Suplicy, candidata a vice], com sua experiência administrativa, para ser minha vice e juntamos especialistas e gestores que passaram por governos de diferentes partidos", disse Boulos.

"Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo", diz o candidato do PSOL no documento.

Leia a íntegra da "Carta ao Povo de São Paulo":

“Venho aqui, de coração aberto, para falar com vocês. Eu nasci, cresci e formei minha família na nossa cidade. Tive a oportunidade de viver os dois lados da ponte. O que sempre me moveu, desde menino, quando fui atuar junto com as pessoas sem-teto, foi o sentimento de indignação com as injustiças e a convicção de que é possível vivermos numa sociedade melhor. Como pode uma cidade tão rica ter gente com fome? Como pode ter tanta gente nas ruas? Como pode termos bairros com a qualidade de vida da Suécia e outros, com a dos países mais pobres do mundo? Essas inquietações são minhas, dos que caminham ao meu lado e, tenho certeza, também são suas.

Ter uma cidade mais humana, em que a solidariedade não seja destruída pela indiferença, é o que eu acredito e quero fazer. Sei que muitos de vocês compartilham desse sonho, mas têm dúvidas e receios. Muitos ficam assustados com a minha trajetória no movimento social. Outros se questionam sobre se conseguiremos dar conta ou se vamos dialogar com quem tem visões diferentes. E, por isso, ficam receosos de apostar na mudança que representamos, mesmo sabendo que a cidade não está boa. Peço aqui um voto de confiança a vocês. Eu me preparei para governar nossa cidade: estudei cada área, cada contrato e cada solução. Chamei a Marta, com sua experiência administrativa, para ser minha vice e juntamos especialistas e gestores que passaram por governos de diferentes partidos. Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo.

Reconheço também que, pelo nosso propósito de olhar sempre para os invisíveis, muitas vezes nós da esquerda deixamos de falar com tanta gente que também batalha, sofre o dia-a-dia das periferias e que buscou encontrar sua própria forma de ganhar a vida. A periferia mudou. Você, mulher, que foi abrir seu salão, vender salgados na garagem de casa ou na porta do metrô, sabe disso. Você, jovem, que financiou uma moto e foi trabalhar sem parar e sem nenhuma proteção, sabe disso. Você que pega um carro e dirige a cidade toda como motorista de aplicativo sabe disso. Muitas vezes nós deixamos de falar com vocês.

Eu quero aqui assumir um compromisso com cada um de vocês: a Prefeitura de São Paulo vai reconhecer o seu esforço e te oferecer oportunidades, não só aparecer pra cobrar boleto. Isso não é apenas uma promessa de campanha. É um compromisso de futuro.

Sei que boa parte de vocês está descrente da política, perdeu a esperança por achar que são todos iguais. E quando a gente vê quem aparece só de quatro em quatro anos, repetindo o que o marqueteiro falou, eu te entendo. É difícil diferenciar quem está de verdade do seu lado dos que querem te enganar. O compromisso que eu assumo com vocês não é apenas de fazer melhor, é de fazer diferente. Eu vou fazer meu Gabinete na Rua, indo todos os dias escutar você no seu bairro e construir junto as soluções. Vou fazer valer a participação como forma de governo, porque acredito que uma política feita desse jeito, sem portas fechadas, pode renovar a esperança de muita gente. Por isso, faço aqui um pedido a vocês: não desistam da mudança. Desistir dela é desistir do futuro, de deixar um legado da nossa geração para as que virão.

Nesta eleição, São Paulo tem um risco e uma oportunidade. O risco é deixar um prefeito fraco e omisso levar nossa cidade ao caos. Quando o governo é fraco, os verdadeiros vilões tomam conta. Foi assim que o pior da nossa política se apoderou do orçamento de São Paulo, do nosso dinheiro, com esquemas que todos nós estamos vendo na imprensa. Foi assim que o crime organizado se infiltrou no transporte público e em cargos de alto escalão da Prefeitura. Já vimos esse filme em outras cidades do país. E não acaba bem.

Mas esse não é o único caminho. Nós podemos, com coragem e responsabilidade, afastar esse risco de São Paulo e aproveitar a oportunidade de termos o maior orçamento da nossa história para enfrentar as desigualdades que vêm de longe. Para olhar as grandes metrópoles do mundo e tirar as melhores soluções em inovação, eficiência e sustentabilidade. Para termos, pela primeira vez, uma política que entenda e apoie a periferia que quer empreender. Um governo que vai levar a escuta e a participação da sociedade ao limite.

Eu jamais desistirei desse caminho. Fomos tão atacados nesta eleição exatamente por manter a coerência e os princípios que nos trouxeram até aqui. E acredito que é possível ganhar essa eleição dialogando olho no olho com as pessoas. Defendendo que os sem-teto tenham casa, que os invisíveis tenham voz, que todos os trabalhadores tenham oportunidades. Que as periferias sejam tratadas com respeito e não com preconceito e violência. É isso que nos move. E peço a todos que se movem por esses mesmos valores que saiam às ruas para virar votos nessa reta final. A verdade pode, sim, vencer a mentira. A esperança pode, sim, vencer o medo."

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