A estreia de Garota do Momento trazia uma protagonista negra.
A estreia de Garota do Momento trazia uma protagonista negra. Beatriz, vivida por Duda Santos, ao menos no retrato atual, não é uam execeção. Além dela, o audiovisual traz Madalena (Jéssica Ellen, em Volta por Cima); e Viola (Gabz), em Mania de Você; e, em breve, Camila Pitanga em Beleza Fatal, da Max.
O momento foi um marco para quem participa e também para quem assiste, rendendo diversos comentários nas redes sociais, como o da atriz Taís Araújo. No Instagram, ela lembrou que a segunda, 4 e novembro — estreia de Garota do Momento –, não era um dia qualquer, mas sim um “dia de celebração”.
“O que será que Ruth de Souza, Léa Garcia e Chica Xavier diriam se estivessem aqui? Ligassem a TV e vissem Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz, uma seguida da outra? Brilhando, talentosas, e, sobretudo, refletindo uma luta que elas começaram lá trás por narrativas que retratem a pluralidade negra, no país onde a maioria precisou esperar décadas para se ver em papéis de destaque nas telas? Elas certamente estariam felizes! Suas sementes germinaram e os frutos estão em toda a parte, não tem como voltar atrás – e ainda bem”, escreveu a atriz em um trecho da publicação que recebeu milhares de comentários em apoio.
3 imagensFoto: Globo/DivulgaçãoFoto: Globo/ReproduçãoFoto: Globo/DivulgaçãoA análise dela casa com a reflexão de milhões de brasileiros, que, mais do que nunca, se identificam com o que assistem. Para o diretor de cinema e televisão Rodrigo França, o momento “desafia uma narrativa que, por muito tempo, silenciou e invisibilizou a presença negra em papéis de destaque”.
“É um avanço que reconhece o protagonismo negro, mas é mais do que representatividade superficial: é a abertura de portas para que histórias mais complexas e reais sejam contadas, longe de estereótipos”, explica França. Ele pontua ainda a importância dessa identificação para os jovens negros, que passam a se inspirar e se espelhar no que assistem:
“Ver alguém como você ocupando espaços de destaque gera identificação e uma reafirmação do próprio valor. Isso empodera e dá força para que esses jovens também se imaginem em papéis que antes eram impensáveis, seja na arte, no esporte ou em qualquer esfera profissional”.
Não são apenas nas novelas que artistas negros têm ganhado mais espaço. De tramas mais antigas, como Lupin, Atlanta e Impuros a trabalhos mais recentes, como Cidade de Deus: a Luta Não Para, Sr. & Sra. Smith e Os Quatro da Candelária, os streamings abrem cada vez mais espaço para esses atores. Embora existam muitas histórias, ainda falta equilíbrio.
5 imagensReproduçãoEdgar Azevedo/NetflixNetflix/DivulgaçãoFoto: DivulgaçãoQuantrell D. Colbert/FX NetworksIsso porque, muitos produtos culturais ainda colocam pessoas negras em contextos de violência, o que tem dois lado. Rodrigo França avalia que é necessário “contar histórias reais e denunciar violências históricas enfrentadas pela população negra”, mas não deve limitar apenas a isso por ser algo que reforça a associação ao sofrimento e à marginalidade.
“Precisamos de mais histórias que celebrem as conquistas, o amor, a criatividade e a diversidade da experiência negra.”
Quem também defende esse outro olhar é o ator Ailton Graça. Em entrevista recente, da qual do Metrópoles participou, ele celebrou o que define como “pretagonismo” e reforçou a importância de dar vida a um personagem que é um homem negro rico, como é o caso do empresário Edson, de Volta por Cima.
Rodrigo França defende também que a representação das pessoas negras na televisão ainda é marcada por desigualdades. Para ele, a solução ideal é que as histórias não sejam apenas interpretadas pelos artistas negros, mas também criadas por eles.
“A autoria é fundamental: ter roteiristas, diretores e produtores negros é o que faz a diferença na criação de histórias autênticas e respeitosas. O que precisa mudar é a profundidade e a diversidade das narrativas. Precisamos de mais criadores negros nos bastidores, em posições de decisão, para que a representação seja verdadeiramente plural e não apenas simbólica”, conclui.
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