Muito forte, mas não o suficiente para surpreender o mercado, que já tinha altas expectativas. Mesmo com a visão de números robustos e uma forte distribuição aos acionistas, totalizando R$ 18 bilhões (R$ 15 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio e R$ 3 bilhões em recompras), a expectativa dos analistas em suas primeiras leituras já era de uma reação morna para o resultado do Itaú (ITUB4), divulgado na noite da última quarta-feira (5).
O JPMorgan ressalta que o Itaú relatou lucros em linha, da ordem de R$ 10,884 bilhões, com alta anual de 15,8% no quarto trimestre.
“No entanto, esperamos uma reação sem brilho, pois as expectativas eram altas após os resultados do Santander – SANB11 – e acreditamos que o mercado terá uma primeira leitura negativa com a compressão de 20 pontos-base do NIM (Margem de Juros Líquida) no Brasil”, avalia o JPMorgan, embora destaque que essa queda possa ocorrer por sazonalidade, saldo de transações com cartão maior, cheque especial entre outros – e base de comparação rígida do 3T24 da reversão da Americanas (AMER3).
Outro ponto que chama a atenção é o guidance (projeções) para 2025 considerado mais conservador. O banco estima uma expansão de 4,5% a 8,5% na carteira de crédito total, uma desaceleração frente ao crescimento de 15,5% no ano passado.
O custo de crédito é estimado entre R$34,5 bilhões e R$38,5 bilhões, acima dos R$34,5 bilhões em 2024.
Para a margem financeira com clientes, calcula alta de 7,5% a 11,5%, de 7,1% em 2024, e para a margem com o mercado, entre R$1 bilhão e R$3 bilhões, de R$4,4 bilhões no ano passado.
De acordo com analista Thiago Batista, do UBS BB, um cálculo simplificado com base no ponto médio do guidance do banco para 2025 indica um lucro de R$ 45 bilhões neste ano, sendo R$ 40 bilhões no piso e R$ 51 bilhões no teto das estimativas do Itaú.
O JPMorgan avalia que o guidance implica uma queda de 2% em relação às suas projeções (ponto médio de lucro de R$ 45 bilhões versus projeção do JPMorgan de R$ 45,8 bilhões), apesar de alguma ajuda de uma taxa de imposto efetiva mais baixa.
Mesmo com o guidance mais conservador, a XP destacou em relatório ver as novas orientações com bons olhos, “O guidance reflete um maior conservadorismo do banco, que espera crescer sua carteira abaixo dos níveis de 2024, enquanto captura spreads maiores, refletidos na maior expansão do NII (Receita Líquida de Juros) com clientes”, apontam os analistas Bernardo Guttmann, Matheus Guimarães e Rafael Nobre, que assinam o relatório.
O Bradesco BBI vê as projeções de lucro do banco como amplamente em linha com as suas expectativas. “Acreditamos que os resultados do Itaú contêm tendências sólidas no 4T24, onde destacamos o forte crescimento dos empréstimos, mesmo ajustando para o câmbio, e sólidos NIMs ajustados ao risco. Notavelmente, lembramos que o NIM ajustado ao risco do 3T24 foi impulsionado pela reversão de provisões de R$ 500 milhões e, se excluirmos esse impacto, acreditamos que o NIM ajustado ao risco teria aumentado ligeiramente no 4T24. Além disso, destacamos uma tendência muito forte na qualidade dos ativos, especialmente para PMEs (pequenas e médias empresas), enquanto também houve uma melhora nos empréstimos para o varejo”, apontam os analistas.
Dividendos: em linha ou decepção?
O anúncio de R$ 15 bilhões em dividendos e juros sobre o capital próprio adicionais após fechar o ano passado com lucro líquido recorrente de R$ 41,4 bilhões, crescimento de 16,2% em relação a 2023, também dividiu o mercado. Além dos proventos, o banco também aprovou um programa de recompra até 200 milhões de ações e o cancelamento de ações em tesouraria no montante de R$3 bilhões.
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Assim, totalizou R$ 28,7 bilhões – 69,4% do resultado recorrente auferido em 2024 – distribuídos aos acionistas em 2024, um crescimento de 33,8% sobre a distribuição de 2023. O conselho de administração também aprovou aumento de capital de R$33,3 bilhões, que será efetivado com a emissão de 980.413.535 novas ações atribuídas de forma gratuita aos detentores de ações do banco a título de bonificação, na proporção de 1 nova ação para cada 10 possuídas.
O valor total de R$ 18 bilhões em dividendos mais recompras ficou abaixo das expectativas do JPMorgan de R$ 22,7 bilhões, enquanto ficou em linha com as projeções da XP.
Visões para 2025
Mesmo com a visão de um 4T sem grandes surpresas, grande parte dos analistas segue otimista com as ações do Itaú, destacando como uma das preferidas entre os bancões, levando em conta ainda o cenário desafiador macroeconômico que se desenha neste ano.
” O Itaú inicia 2025 bem-posicionado, consolidando-se, em nossa visão, como o banco mais preparado, rentável e capitalizado do setor, reforçando sua atratividade como nossa principal escolha (top pick) do setor”, aponta a Genial Investimentos, vendo múltiplos atrativos para as ações e um bom dividend yield (ou retorno de dividendos, dividendo sobre o valor da ação) de 10,9% (4,8% no 4T24 e 6,1% estimado para 2025). “Diante desse cenário, reiteramos nossa recomendação de compra para ITUB4, com preço-alvo de R$ 40,00â³, aponta.
O BBI também tem recomendação equivalente à compra (outperform, desempenho acima da média, equivalente à compra), com preço-alvo de R$ 46, enquanto o Goldman Sachs também tem compra, com target de R$ 38. Com a mesma recomendação, a XP tem preço-alvo de R$ 43 para os ativos.
O JPMorgan, mesmo ressaltando a visão de um lucro um pouco abaixo das suas expectativas e um guidance conservador, ressala que as projeções fazem sentido num ambiente macro mais conservador e reitera visão overweight (exposição acima da média).
Entre outros pontos positivos, nota melhorias contínuas na maioria das métricas de qualidade de ativos (inadimplência de 90 dias, índice de cobertura, entre outros). “Quando consideramos a posição de capital + reservas, continuamos a ver o Itaú em uma posição de balanço muito forte”, avalia.
SIte da InfoMoney