O cineasta Jorge Bodanzky lança o documentário As Cores e Amores de Lore, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13/2). A produção retrata a vida e obra da pintora brasileira-alemã Eleonore Koch, por meio de conversas registradas pelo diretor durante os últimos anos de vida da artista, que morreu em 2018, aos 92 anos.
Radicada no Brasil desde a Segunda Guerra Mundial, Lore construiu uma carreira expressiva no cenário artístico. “Pupila” de Alfredo Volpi, ela desenvolveu uma linguagem visual própria, marcada pela simplicidade e pelo uso expressivo das cores.
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No documentário, Bodanzky destaca não apenas o trabalho da artista, mas também sua história pessoal, a partir da perspectiva da própria Eleanore. “O que mais me fascinou na trajetória dela foi sua maneira livre de viver”, afirma em entrevista ao Metrópoles.
“Essa liberdade para uma mulher nos anos 1950 e 1960 era algo raro. O preconceito era enorme, e mesmo assim ela seguiu seu caminho sem concessões. Isso, para mim, justificou o filme”, explicou o diretor.
A abordagem de Bodanzky permite ao público uma proximidade muito grande com a artista. Segundo ele, a opção por filmar sozinho, com uma pequena câmera fotográfica, foi essencial para capturar a intimidade das conversas. “Éramos só nós dois. Essa simplicidade fez com que nem percebêssemos a câmera, o que possibilitou um nível de espontaneidade e profundidade incomum”, explica.
Apesar dessa liberdade trazer profundidade ao filme, o diretor salienta que precisou tratar de temas como sexualidade, feminismo e solidão: “Essa liberdade tinha dois lados: de um lado, autonomia e autenticidade; de outro, a solidão. O filme toca nessas questões, como a escolha de não ter filhos, a luta pelo reconhecimento artístico e os desafios de ser uma mulher sozinha no meio cultural”.
5 imagensAs Cores e Amores de Lore
Eleonore Koch
Obras de Eleonore Koch
Eleonore Koch
Eleonore Koch
Divulgação“Nossas histórias se encontraram”
Lore teve uma trajetória marcada por independência e ousadia. Trabalhou na livraria Cosmos, em São Paulo, onde conheceu Rosa Bodanzky, mãe do diretor. Esse vínculo inicial motivou o cineasta a buscar a artista anos depois, sem imaginar que dali surgiria um filme.
Durante as filmagens, Bodanzky acumulou mais de 20 horas de conversas com Eleanore. O processo de edição, que levou anos, foi essencial para o resultado do material.
“Foram dez anos de trabalho. Cinco anos de encontros com Lore, depois veio a pandemia e a falta de recursos. Esse tempo permitiu maturar a edição”, conta. Ele destaca ainda a parceria com a montadora Bruna Calegari, que ajudou a dar um olhar feminino ao filme.
Recuperando a história e preservando memórias
Além do olhar para a pintura, o documentário recupera memórias que ajudam a preservar um período da história cultural brasileira. Para Bodanzky, filmes como o dele cumprem um papel fundamental no resgate da memória de um país.
“Nosso país tem uma relação frágil com sua própria história. Um documentário pode ser um testemunho raro, como no caso de Lore. Ela se abre diante da câmera com uma franqueza impressionante. Isso tem um valor inestimável”, conclui.
Metrópoles