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Sensíveis e reais, novos galãs quebram estereótipo machão da indústria

Por muito tempo, dizer que alguém “se acha o Brad Pitt” era uma forma irônica de destacar quem estava se sentindo mais atraente do que os outros o percebiam.

Por Em Sergipe

21/10/2024 às 03:16:02 - Atualizado há

Por muito tempo, dizer que alguém “se acha o Brad Pitt” era uma forma irônica de destacar quem estava se sentindo mais atraente do que os outros o percebiam. Isso porque Brad Pitt, um dos maiores galãs de Hollywood, tornou-se sinônimo de virilidade e masculinidade, incorporando a imagem do herói forte e destemido, tão popular nos filmes de ação que dominaram o cinema.

Nos anos 1990, essa fama de bad boy viril não se limitava apenas a Pitt, hoje com 60 anos. Nomes como Leonardo DiCaprio, Tom Cruise, Johnny Depp, Antonio Banderas e George Clooney também representavam o mesmo arquétipo: homens bonitos, sedutores e desejados, que simbolizavam um ideal de masculinidade muitas vezes implacável e inacessível.

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No Brasil, o ideal de galã não é diferente, apenas migra das telonas para as novelas que dominaram as casas dos brasileiros. Durante os anos 90, atores como Márcio Garcia, Thiago Lacerda, Marcello Novaes, Claudio Heinrich e Rodrigo Santoro conquistaram o imaginário popular, e ainda hoje são vistos como símbolos de desejo e virilidade.

Porém, com o avanço do debate sobre masculinidade tóxica, essa visão começou a mudar. A indústria do entretenimento, sempre uma força poderosa na definição de tendências culturais, passou a incorporar personagens mais complexos e menos rígidos em seus filmes, novelas e séries. O impacto é global, transformando roteiros e narrativas, inclusive em Hollywood.

Novos ícones da geração Z, nomes como Timothée Chalamet, Adam Driver, Barry Keoghan, Jeremy Allen White e Josh O’Connor viralizaram nas redes sociais por suas “caras de rato” ou “hot rodent man” (homem roedor sexy, em tradução livre), novo fenômeno da web que exalta essas feições.

Timothée Chalamet

Responsáveis pela maior parte das atuais produções de Hollywood, esses astros desafiam a norma ao adotarem comportamentos considerados não tradicionais para os galãs. Eles surgem nos tapetes vermelhos com unhas pintadas, estrelam produções com temática LGBTQIA+, vestem saias e expressam emoções livremente, como chorar em público sem constrangimento.

Esses novos rostos de Hollywood desafiam estereótipos rígidos de masculinidade e permitem que os homens se expressem de maneira mais autêntica, sem a necessidade de se encaixar em um molde pré-estabelecido.

Lucas Benevidez

Barry Keoghan e Jacob Elordi, por exemplo, ficaram marcados pela atuação em Saltburn, onde o primeiro bebe o esperma do segundo diretamente do ralo. O mesmo vale para Jeremy Allen White, astro da série The Bear, que chora sem pudor e expõe sua fragilidade em cena — isso tudo enquanto posa de cueca para uma marca de roupa íntima.

 

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Uma publicação compartilhada por Calvin Klein (@calvinklein)

Segundo o professor de medicina do CEUB e psiquiatra Lucas Benevidez, “no passado, a imagem do galã estava muito vinculada a traços de força física e distanciamento emocional. Agora, estamos vendo uma expansão das possibilidades, onde vulnerabilidade e fluidez de gênero são aceitas e celebradas”.

Esse movimento também chegou ao Brasil. Jovens como João Guilherme, Juliano Floss, Chay Suede, Nicolas Prattes e Enzo Celulari estão à frente das produções nacionais, sem medo de expressar sua identidade com unhas pintadas e maquiagem, desafiando o tradicional conceito de masculinidade.

Na imagem com cor, o ator e influenciador João Guilherme posa para foto - Metrópoles

“Essa nova geração de atores e personagens permite que o público veja homens em diferentes papéis emocionais, abrindo espaço para que a vulnerabilidade seja uma característica forte, em vez de uma fraqueza. Hoje, chorar, demonstrar emoções ou até mesmo desafiar padrões estéticos tradicionais, como pintar as unhas ou usar roupas mais ousadas, já não retira a masculinidade de alguém. Isso tem um impacto poderoso no imaginário social, porque mostra que masculinidade e sensibilidade podem coexistir”, completa Benevidez.

Para Benevidez, a presença desses atores, demonstrando que “não há um único modelo de masculinidade a ser seguido”, reflete uma “sociedade que está, aos poucos, aceitando que identidade de gênero e expressão pessoal não precisam seguir normas tradicionais”.

A televisão, assim como o cinema, tem um papel crucial nessa transformação, ajudando a redefinir o que é considerado atraente, forte e desejável na figura masculina.

Lucas Benevidez
Fonte: Metrópoles
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