Mais de 20 supostos integrantes de gangues foram mortos na capital do Haiti na terça-feira (19), depois que moradores se juntaram à polícia para combater uma tentativa de ataque noturno, disse a polícia.
O subúrbio de Petion-Ville foi fechado ba terça-feira, enquanto moradores barricavam as ruas e se mobilizavam, alguns com facões e martelos nas mãos, para proteger o distrito de outra invasão de gangues.
Um repórter da Reuters viu pelo menos 25 corpos nos bairros de Delmas, Canape Vert e Petion-Ville, onde moradores atearam fogo aos corpos de suspeitos criminosos sob pneus em chamas.
O porta-voz adjunto da polícia nacional, Lionel Lazarre, disse à Reuters que cerca de 30 pessoas que ele descreveu como integrantes de gangues foram mortalmente feridas ao longo do dia.
“A população apoiou a Polícia Nacional Haitiana durante esses momentos. Eles continuarão trabalhando lado a lado”, afirmou.
Lazarre disse anteriormente à rádio local que a polícia havia interceptado homens armados viajando em vans, das quais apreenderam armas como rifles Kalashnikov.
A moradora local Anara, que não deu seu sobrenome, disse à Reuters que homens e mulheres estavam chegando desde a meia-noite “armados até os dentes” e que as pessoas não sabiam quem os havia enviado.
“Nós demos a eles uma resposta clara”, disse ela. “Não vamos desistir da área, não vamos embora.”
Movimento “bwa kale”
O jornal local Le Nouvelliste relatou cenas de “bwa kale” em várias partes da capital, referindo-se a um movimento de vigilantes civis que começou em abril do ano passado, quando moradores lincharam e atearam fogo em supostos integrantes de gangues na ausência da presença policial.
A polícia nacional subfinanciada do Haiti dispensou milhares de integrantes nos últimos anos.
A ONU relatou pelo menos 149 casos de “bwa kale” entre junho e setembro deste ano.
No entanto, ativistas de direitos humanos alertaram sobre pessoas inocentes sendo pegas nos assassinatos de justiceiros, e a ONU relatou casos de violência extrema cometida contra pessoas acusadas de pequenos crimes.
Apoio internacional
O governo do Haiti pediu em 2022 apoio internacional para ajudar a polícia nacional a combater as gangues poderosas, acusadas de violência sexual em massa, sequestros de resgate, extorsão, recrutamento de crianças e bloqueio do fluxo de suprimentos essenciais.
O Conselho de Segurança da ONU aprovou uma missão de apoio em outubro passado, mas até agora enviou apenas uma porção do que foi prometido. Líderes haitianos pressionaram para que ela fosse transformada em uma missão de manutenção da paz para garantir mais financiamento.
O Conselho de Segurança deve se reunir nesta quarta-feira (20) para discutir a escalada da violência.
Enquanto isso, os Médicos sem Fronteiras, um dos principais provedores de assistência médica gratuita do Haiti, disse que estava interrompendo seus serviços na capital devido a estupro e ameaças de morte da polícia.
Milhares foram mortos no conflito de gangues e mais de 700 mil foram deslocados internamente, agravando a insegurança alimentar que levou cerca de 6 mil pessoas a mergulharem em níveis de fome extremos.
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CNN Brasil