Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central de 1999 a 2003, avalia que, desde o início do ano, o governo vem sofrendo uma descrença muito grande por conta de não assumir uma responsabilidade fiscal sustentável.
"Foi um descrédito crescente que aconteceu ao longo de 2024, gerando uma percepção negativa do que ia ocorrer com a dívida pública. Essa política (econômica) é muito expansionista", afirma.
"É como se o governo tivesse acelerando o carro. Só que isso também acelera inflação, e o Banco Central tem que brecar. Ao acelerar e brecar ao mesmo tempo, o carro vai perder o equilíbrio. Então, essa foi a tônica que começou em 2023, mas principalmente (se ampliou) em 2024", avalia.
Pacote mal recebido
Figueiredo, que é também presidente do Conselho de Administração (chairman) da JiveMauá, e Samer Serhan, sócio e CIO responsável pela estratégia de crédito privado e infra na JiveMauá, participaram do episódio 146 do programa Outliers, apresentado por Clara Sodré, analista de fundo da XP, e Camilla Dolle, head de renda fixa da XP.
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Segundo Figueiredo, a percepção de que as coisas tinham certo equilíbrio foi por "água abaixo", além do pacote ter sido mal recebido por associação também com aumento da faixa de isenção de imposto de renda.
"Acho que toda situação muito dramática acaba tendo reação. O governo, no fim, acabou reagindo muito mal, diga-se de passagem. Acho que muito provavelmente ele vai reagir de novo. Pode ser que seja tarde ou menos do que precisa", diz.
"Mas não estou muito pessimista que nós vamos para o buraco. Acho que nós vamos ter um declínio gradual, só que os ativos já descontaram muito do que pode acontecer. Os ativos estão esperando o caos, mas se o caos não comparecer, talvez não estejam mal assim. O Brasil, muitas vezes, quando chega perto do precipício, ele volta."
"No ano que vem nós vamos ter provavelmente uma piora da economia real, bem menos atividade, a inflação não se sabe o que pode acontecer, mas o Banco Central está muito duro. O governo vai responder de alguma maneira – é bem possível isso", avalia.
Situação muito negativa
Apesar da situação, ele destaca não acreditar que “o país vá quebrar". Segundo o ex-BC, "talvez haja uma frustação do pessimismo tão intenso que a gente está vivendo hoje", após uma possível nova reação do governo.
Samer Serhan vê também o momento com menos pessimismo. "O cenário é de que a gente esticou demais a corda e perdeu um pouco de fundamento no geral. É bom as pessoas pararem para dar uma refletida", diz.
O ex-diretor do Banco Central acha que desde o início de 2023 o governo vinha com uma narrativa "muito ruim principalmente em relação ao fiscal".
Mas ele considera que ao longo do ano passado o governo "conseguiu mudar para um ambiente muito mais favorável", principalmente por conta do avanço do PIB.
"O Banco Central conseguiu começar a reduzir os juros em agosto (de 2023) e foi um rali dos mercados espetacular", cita.
Mas esse ano, ele acha que a "confusão" foi se estabelecendo, criando uma situação insustentável agora.
SIte da InfoMoney