Economia Onde Investir 2025

Cortes de juros antes do tempo e pressão no BC são riscos para macroeconomia em 2025

Pressão máxima com nova diretoria do Banco Central, em especial para Gabriel Galípolo, pouca credibilidade, despesas ainda elevadas e juros cortados antes do esperado e do necessário.

Por Em Sergipe

14/01/2025 às 22:48:38 - Atualizado há
Foto: InfoMoney
Solange Srour, diretora de Macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management. Foto: InfoMoney

Pressão máxima com nova diretoria do Banco Central, em especial para Gabriel Galípolo, pouca credibilidade, despesas ainda elevadas e juros cortados antes do esperado e do necessário. Esses são os riscos presentes no cenário macroeconômico atual, na visão de Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset, e Solange Srour, diretora de macroeconomia no UBS Global Wealth Management. Os especialistas estiveram no painel que fechou o primeiro dia on-line do evento Onde Investir 2025, promovido pelo InfoMoney.

Reveja como foi a terça-feira do Onde Investir 2025

Há alguns meses, o economista já considerava gastos fiscais, queda no desemprego, consumo de famílias mais forte, como elementos que faziam com que a taxa de juros ainda não estivesse elevada o suficiente para controle de inflação. “Uma Selic em torno de 14, 15%, com esse novo prêmio de risco, parece que não vai funcionar. No nosso cenário, mantemos potencial de Selic em 15,5%, com IPCA em 6%. O quadro, que era muito complexo em agosto, se tornou ainda mais desafiador”, diz.

Para Solange, a política monetária tem competido com a política fiscal por alguns aspectos, como a falta de confiança na estabilização da dívida. “Outro problema é que a política monetária tem sido muito ‘estimulativa’ e terá que ser mais contracionista”, afirma. “O problema é gasto obrigatório crescendo de uma maneira muito maior que o teto permitido pelo arcabouço e, infelizmente, a política monetária terá que fazer muito mais”.

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A expansão da despesa obrigatória, como o Bolsa-família, torna o cenário mais complexo do que o observado em outros momentos, afirma Genta no mesmo sentido. Ainda que esforços sejam realizados pelo Ministério da Fazenda, na visão do economista, para que a despesa obrigatória se reduzisse, as medidas acabam ficando secundárias. “O cenário de política fiscal em 2025 não é muito otimista”, afirma, citando a reforma da renda como expansionista ainda e medidas que podem resultar em aumentos nas taxas de juros.

Medidas que mostrem ajustes para tornar a dívida pública sustentável não podem ser entregues em um ano, afirma Solange, mas é importante que sejam demonstradas para que o mercado possa reverter suas expectativas no médio/longo prazo.

O que esperar de Galípolo

Mesmo considerando que Gabriel Galípolo, novo presidente do Banco Central, tenha certa simpatia do mercado, chegou o momento no qual a diretoria da autarquia foi majoritariamente escolhida pelo atual governo, afirma Solange. Isso significa que a conquista da confiança ainda deverá acontecer aos poucos junto ao mercado. Pelas expectativas presentes nos últimos relatórios Focus, as projeções do mercado ainda não são otimistas.

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“Qualquer documento ou qualquer entrevista são bastante discutidas no mercado. A pressão é máxima e a credibilidade terá que ser construída com o tempo”, diz.

Genta considera que, se as taxas futuras subiram e as incertezas aumentaram, há expectativa de que a Selic responda nesse mesmo cenário. “Meu receio é que, na ânsia de ter subido os juros mais do que deveria somada à economia desacelerando, o choque de oferta seja visto com uma política monetária funcionando e o BC comece a cortar os juros antes do que deveria”, diz. O economista considera pouco provável que a política monetária seja apertada para que o centro da meta seja buscado ainda nesse mandato.

Mesmo considerando possível que a economia passe a desacelerar nos próximos meses, o temor é que a desaceleração seja mais lenta que o esperado, para Solange. A visão da economista é que a desaceleração será mais gradual e que a “dor” necessária para que haja mudança extrema em política monetária não acontecerá.

Dominância fiscal?

Para o economista, a dominância pode ser considerada quando as expectativas passam a ser quando o governo não está buscando uma estabilização da dívida pública. Em seu entendimento, é o que ocorre atualmente.

O economista afirma que o ciclo político foi invertido no governo atual, com muitos gastos já nos primeiros anos. “Acho que não seria dominância fiscal porque se tem uma expectativa que mude a partir de 2026 a dinâmica. Mas acho que nunca estivemos tão perto dessa discussão como estamos agora”, afirma.

Para Solange, a resposta se está ou não em dominância fiscal não é óbvia, nem “8 ou 80”. Ela considera que o momento atual é no “meio do caminho”, considerando a inflação ainda elevada mas não causando maiores impactos. “A gente já está no meio da dominância fiscal”.

Impacto dos EUA no cenário brasileiro

Sobre o cenário no exterior, Genta considera os Estados Unidos demonstram crescimento em patamares similares ao observados pré-pandemia. Ainda que algumas dinâmicas parecessem mais favoráveis, a inflação ainda não caiu e a economia também não desacelerou em 2024. Ainda em 2025, a expectativa também é para desaceleração mais tímida.

“Na nossa opinião, o que tinha para ser cortado de juros já foi cortado”, afirma. O economista também sustenta que há um risco de inflação mais alto decorrente de tarifas, ainda que cortes de impostos possam puxar inflação para baixo. “Nos parece uma economia forte, com juros altos e dólar forte”, diz, que seria a contribuição para nossa economia.

“Não vemos um cenário de desaceleração forte nos EUA. Vemos um prêmio de risco subindo forte”, diz Solange. Em sua visão, isso traz grandes desafios para Brasil, em especial considerando questionamentos mais fortes domésticos de políticas monetárias e fiscal. “Não acho que o mercado hoje tenha precificado tudo que ainda vem pela frente com Trump”, afirma.

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