De um lado, o tarifaço de Donald Trump.
De um lado, o tarifaço de Donald Trump. Do outro lado, os desdobramentos do DeepSeek e as indicações do avanço na inteligência artificial. Qual força prevalecer para a economia da China?
O Morgan Stanley ressaltou os dois lados da economia chinesa em relatório, com questões sobre qual deve ter mais força.
Os economistas do banco apontam que a recente imposição de tarifas pelos Estados Unidos acendeu um alerta sobre as perspectivas econômicas, levando analistas a revisarem suas projeções de crescimento do PIB nominal para menos de 4% a partir do segundo trimestre (também por outros fatores, mas tendo o tarifaço de Donald Trump como uma das principais causas).
Desde terça-feira (4), o governo americano impôs tarifas de 10% sobre todos os produtos importados da China, o que pode intensificar ainda mais as tensões entre as duas potências globais. A incerteza sobre a possibilidade de suspensão ou retirada dessas tarifas, em meio às negociações sobre a questão da fentanila, agrava o quadro econômico. O medicamento, um opioide usado para dores intensas, é até 100 vezes mais forte que a morfina e, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), foi responsável por 68% das overdoses no país em 2022.
No mesmo dia do tarifaço de Trump, a China respondeu às tarifas americanas com a imposição de tarifas adicionais sobre as importações dos Estados Unidos, reacendendo a guerra comercial entre as duas economias. As tarifas chinesas incluem um aumento de 10% sobre diversos produtos americanos, como gás natural liquefeito, carvão, maquinário agrícola e petróleo bruto, além de restrições à exportação de minerais críticos usados em produtos de alta tecnologia.
A China também iniciou uma investigação antimonopólio contra o Google, da Alphabet, e anunciou sanções contra empresas como a PVH Corp, dona de marcas como Calvin Klein, e a biotecnológica Illumina. Um imposto de 10% sobre caminhões elétricos importados dos Estados Unidos, que pode afetar as vendas do Cybertruck de Elon Musk, também foi aplicado.
As tarifas dos EUA, que Trump descreveu como um “tiro de abertura”, se somam às já impostas durante seu primeiro mandato, com muitos produtos chineses enfrentando taxas de 10% ou 25%. As novas tarifas da China entrarão em vigor em 10 de fevereiro, dando tempo para possíveis negociações entre os dois países.
Lado positivo
No meio dessa turbulência, o mercado chinês recebeu boas notícias no campo da inovação tecnológica. O surgimento de novas soluções como o DeepSeek e humanoides de baixo custo, conforme os analistas, relembraram as potencialidades da China no setor de tecnologia.
A Nvidia, gigante do setor de tecnologia com sede na Califórnia, foi impactada diretamente pelo lançamento do DeepSeek. A startup chinesa de inteligência artificial, que oferece um modelo de IA com desempenho similar aos das gigantes globais, mas a um custo significativamente menor, causou uma queda histórica no valor da Nvidia.
As ações da empresa americana caíram 17%, resultando em uma perda de US$ 589 bilhões em sua capitalização de mercado. Isso reacendeu preocupações no setor, uma vez que o modelo da DeepSeek demonstrou ser competitivo a uma fração do preço dos produtos da Nvidia, gerando incertezas sobre o retorno dos grandes investimentos feitos na IA.
Por outro lado, a emergência de tecnologias como o DeepSeek e o crescimento de humanoides de baixo custo têm relembrado o mercado sobre as capacidades de inovação tecnológica da China. Os clientes consultados pelo banco acreditam que, com a commoditização dos Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs), a próxima onda de crescimento pode vir de casos de uso de IA que aumentem a eficiência, em vez de depender exclusivamente de empresas de infraestrutura de IA.
O analista de semicondutores do Morgan Stanley sugere que o surgimento do DeepSeek e de seus concorrentes na China pode incentivar a localização de chips de IA e acelerar o ciclo de substituição de smartphones inteligentes no país. Essa mudança poderia impulsionar a indústria de tecnologia da China, mesmo em meio a um ciclo deflacionário persistente.
Os estrategistas observam que um outro fator que pode trazer alívio para as perspectivas econômicas: o feriado do Ano-Novo Chinês (CNY, na sigla em inglês para Chinese New Year), que gerou uma demanda crescente por viagens domésticas.
Com um feriado mais longo este ano, as receitas diárias de viagens domésticas superaram em 15% os níveis de 2019, refletindo um aumento no turismo interno. Além disso, a receita das bilheterias durante o ano novo quebrou recordes, impulsionada pelo lançamento de filmes populares.
Esses dados são interpretados pelos analistas como um sinal positivo para a recuperação de certos setores da economia, especialmente diante das dificuldades persistentes no mercado imobiliário e nos padrões de consumo de outros produtos.
Por outro lado, apesar desses desenvolvimentos, os estrategistas observam que a desaceleração da economia da China é clara. As vendas de imóveis caíram em janeiro, e setores não relacionados ao entretenimento, como lojas duty-free e alimentos e bebidas, ainda apresentam desempenho abaixo do esperado. O Morgan analisa ainda que o mercado está vivendo um ciclo deflacionário, que pode levar a uma menor disposição para o consumo em vários segmentos da economia.
A situação pode piorar ainda mais com a possível imposição de mais tarifas dos Estados Unidos sobre produtos chineses, conforme indicam especialistas. Isso porque Trump informou, na tarde de sexta-feira (7), que vai implementar tarifas recíprocas na próxima semana. Durante uma reunião com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, Trump não revelou os países que seriam impactados, mas deixou claro que a medida quer atender a uma demanda de longa data de sua administração.
Trump já havia prometido durante sua campanha que aplicaria tarifas equivalentes às cobradas por outros países sobre produtos fabricados nos EUA. O presidente tem criticado consistentemente os impostos aplicados a produtos americanos, buscando um “acordo justo”, e utilizando a ameaça de tarifas para fortalecer suas negociações.
Os analistas acreditam que a previsão é que os EUA continuem mesmo com ações protecionistas ao longo do ano, ampliando a pressão sobre a China. O clima político global também não favorece uma resolução rápida, com tensões comerciais em ascensão e limitações na capacidade de exportação dos EUA, o que, segundo o Morgan, torna qualquer negociação mais difícil.
Assim, há uma dualidade da situação econômica da China: enquanto a inovação tecnológica e uma demanda crescente por entretenimento são pontos fortes, as tensões comerciais e um ambiente de consumo fraco apresentam riscos para o gigante asiático.
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