O Ibovespa encerrou o mês de fevereiro em queda de 2,64%. Boa parte da baixa está ligada ao recente avanço dos juros futuros em meio à preocupação com a inflação, enquanto os temores externos na esteira do encontro tenso entre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca, no último dia do mês também abalaram os mercados.
Neste cenário, poucas ações do Ibovespa se destacaram com expressivas altas, com apenas 3 ativos subindo mais de 10% no mês: Carrefour Brasil (CRFB3), Embraer (EMBR3) e Ambev (ABEV3), sendo que só 6 subiram mais de 5%.
Por outro lado, 5 ações caíram mais de 20%: Azzas 2154 (AZZA3), Vamos (VAMO3), Braskem (BRKM5), Vivara (VIVA3) e MRV&Co (MRVE3).
Confira abaixo:
Maiores altas do Ibovespa
Carrefour (CRFB3): +17,12%
As ações do Carrefour Brasil (CRFB3) registraram fortes ganhos em fevereiro em um mês bastante movimentado para a varejista de alimentos.
A companhia divulgou seus resultados do quarto trimestre em meados deste mês, com um lucro ajustado de R$ 1,17 bilhão, alta de 240,5% em relação ao mesmo período de 2023. A varejista teve lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de R$ 1,91 bilhões, com crescimento de 2,2% na comparação com o 4T23.
O Bradesco BBI classificou na ocasião os resultados como fracos, mas que vieram ligeiramente melhores do que suas expectativas em vendas e Ebitda ajustado. Na avaliação da XP, o Carrefour Brasil apresentou resultados mistos no quarto trimestre, com melhores dinâmicas de vendas mesmas lojas e margens no Atacadão, mas com rentabilidade pressionada no Sam's e no banco e margens ainda baixas no varejo.
Contudo, um outro fator antes do 4T movimentou as ações no período. No dia 11, a varejista informou em fato relevante – após notícias de mercado – sobre uma potencial deslistagem de suas ações, após uma proposta feita pelo Carrefour francês. Posteriormente, o Carrefour confirmou assinatura de contrato para unificação de bases acionárias.
A potencial deslistagem será feita através da incorporação das ações da CRFB3 em uma subsidiária brasileira ("Merger Sub"), por meio de três possíveis classes de ações, seguidas por seu resgate total.
Embraer (EMBR3):+16,28%
Carteira de pedidos recorde, fortes números do quarto trimestre. O mês também foi movimentado para a Embraer, com uma gama de boas notícias reforçando a visão positiva para ações que já registram fortes ganhos desde o ano passado.
No início do mês, mais precisamente no dia 5, as ações saltaram 15,5% após receber da norte-americana Flexjet o maior pedido de jatos executivos da história da fabricante brasileira de aeronaves, avaliado em até US$ 7 bilhões (equivalentes a R$ 40,4 bilhões) e envolvendo cerca de 200 aviões. No dia seguinte, a companhia informou que sua carteira de pedidos total atingiu US$ 26,3 bilhões no 4T24, o que representou o maior volume registrado pela empresa em sua história.
Já no fim de fevereiro, a companhia divulgou os seus resultados financeiros, com um lucro líquido ajustado de R$ 1,093 bilhão no quarto trimestre de 2024, mais do que triplicando a cifra de R$ 250,6 milhões reportada em igual intervalo de 2023. O JPMorgan aponta que o resultado bateu as projeções do mercado em receita, margens e fluxo de caixa livre (FCF), o que teve suscitar uma reavaliação contínua dos ativos. Após o resultado, as ações saltaram 12,12%.
Ambev (ABEV3): +10,09%
Após um começo de ano cercado por desconfianças, a Ambev registrou um fevereiro de recuperação. O final do mês foi crucial para isso, com uma visão positiva do mercado após os resultados do 4T.
A gigante de bebidas, conforme ressaltou a XP Investimentos em relatório, entregou um 4T melhor do que o esperado, com custos mais baixos e estratégias bem-sucedidas de precificação e posicionamento de marca levando a melhores margens.
Os analistas da XP apontaram que a receita líquida foi de R$ 27,0 bilhões (+35% ano a ano e +7% acima da projeção da XP), enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado foi de R$ 9,6 bilhões (+35% ano a ano e +12% versus a projeção da XP).
A surpresa positiva e a mudança bem-vinda vieram de LAS (América Latina Sul, que inclui operações na Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Chile) e Canadá – ambas as unidades tiveram desempenho abaixo do esperado na maior parte de 2024 – enquanto NAB (bebidas não alcoólicas) e CAC (América Central e Caribe) foram sólidos, e o clima adverso levou a um desempenho abaixo do esperado em Cerveja Brasil.
Após os resultados e conversa com o CEO, o Bank of America elevou levemente o preço-alvo das ações de R$ 13,20 para R$ 13,40, ressaltando a visão de um espaço para acelerar o crescimento e expandir as margens. Contudo, reiterou recomendação neutra, dado um ambiente mais desafiador para cerveja no Brasil em 25-26 em custos crescentes, competição mais acirrada e desaceleração do consumo.
Cogna (COGN3): +7,80%
A expectativa pela temporada de resultados do 4T guiou também a alta das ações da Cogna neste mês, apesar da dona da Kroton só divulgar os resultados em março.
Neste mês, o Santander elevou a recomendação para as ações da Cogna para "outperform" (desempenho acima da média, equivalente à compra), citando entre os argumentos que o grupo de educação deve mostrar um momentum forte nos resultados nas próximas temporadas de resultados.
Os analistas Caio Moscardini e Karoline Silva Correia também citaram expectativa de geração de caixa livre (FCF) forte e valuation em níveis atrativos. O preço-alvo, porém, caiu de R$ 4 para R$ 2. Eles também afirmaram acreditar que a Cogna deve ter sido capaz de atingir seu guidance de Ebitda e fluxo de caixa operacional menos despesas de capital em 2024. A companhia divulga seu balanço do ano passado no dia 12 de março.
Em relatório de prévia para o setor de educação, a XP Investimentos ressaltou que a Cogna deve ser um dos destaques positivos. Isso porque deve entregar seu guidance (projeções) com base no que a XP considera uma sólida expansão da receita e das margens.
Eletrobras (ELET3;ELET6): +5,70% e +5,37%
Um evento que só teve um desfecho maior no fim de fevereiro também guiou as ações da Eletrobras para uma alta no período.
A companhia elétrica chegou a um acordo com o governo brasileiro referente à ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 7.385, que aborda a participação do governo na empresa. Como resultado, a União terá agora três dos dez assentos no Conselho de Administração e um dos cinco assentos no Conselho Fiscal. Em contrapartida, a Eletrobras é dispensada da obrigação de investir na possível conclusão da usina nuclear Angra 3.
O governo federal terá 3 dos 10 assentos no Conselho de Administração da Eletrobras e 1 dos 5 assentos em seu Conselho Fiscal como parte do novo acordo. Isso marca um aumento em relação ao arranjo anterior (onde o governo tinha apenas um assento no conselho). O acordo mantém a regra de que nenhum acionista pode exercer mais de 10% dos direitos de voto. A Eletrobras ainda é dispensada da obrigação de investir na conclusão do projeto da usina nuclear Angra 3 sob o novo acordo.
A XP apontou ter uma visão positiva sobre o acordo alcançado. Em primeiro lugar, esse acordo elimina o risco associado à ação judicial em questão, que poderia ter levado a um aumento na participação do governo no conselho para níveis próximos ao controle. Em segundo lugar, mitiga os riscos relacionados ao projeto Angra 3 ao suspender imediatamente o atual Acordo de Investimento e iniciar negociações para um novo, o que acredita que reduzirá ainda mais a probabilidade de Angra 3 ser construída em condições inadequadas. Por fim, a debênture conversível para Angra 1 inclui disposições para sua emissão de ações que aumentam a eficiência da Eletronuclear e, consequentemente, da Eletrobras.
Confira as ações do Ibovespa que subiram em fevereiro:
Ticker | Cotação (R$) | Variação no Mês (%) |
CRFB3 | 7,25 | 17,12 |
EMBR3 | 69,72 | 16,28 |
ABEV3 | 12,22 | 10,09 |
COGN3 | 1,52 | 7,8 |
ELET3 | 38,22 | 5,7 |
ELET6 | 41,97 | 5,37 |
HYPE3 | 19,05 | 4,21 |
BBSE3 | 37,84 | 4,2 |
CCRO3 | 11,7 | 4,19 |
TIMS3 | 16,17 | 4 |
SLCE3 | 18,04 | 3,92 |
USIM5 | 5,71 | 3,63 |
CXSE3 | 15,2 | 3,54 |
TOTS3 | 34,96 | 2,64 |
NTCO3 | 12,93 | 2,46 |
CPFE3 | 35,08 | 2,04 |
VALE3 | 55,15 | 1,81 |
CPLE6 | 9,87 | 1,75 |
CYRE3 | 20,75 | 1,72 |
CMIG4 | 11,13 | 1,55 |
YDUQ3 | 10,4 | 1,46 |
STBP3 | 13,36 | 1,37 |
VBBR3 | 17,02 | 0,95 |
EGIE3 | 37,17 | 0,65 |
UGPA3 | 16,63 | 0,54 |
SBSP3 | 94,98 | 0,43 |
ISAE4 | 23,2 | 0,23 |
RECV3 | 15,89 | 0,13 |
Maiores baixas do Ibovespa
Azzas 2154 (AZZA3): -23,87%
A Azzas 2154 (AZZA3) se destacou entre as maiores quedas do mês e perdeu mais de 20%. A companhia ainda não apresentou seus resultados, o que acontecerá apenas em 11 de março. A principal movimentação presente na companhia em fevereiro foi o anúncio de Marcel Sapir para o cargo de membro do conselho de administração da empresa.
A varejista, fruto da fusão da Arezzo e do Grupo Soma, substituiu Ruy Kameyama, eleito para o cargo de diretor estatutário. Kameyama assumirá a função de CEO da AR&Co (unidade de negócios de vestuário masculina).
"Dessa forma, o Sr. Ruy Kameyama poderá focar, exclusivamente, nos objetivos da unidade de negócios sob sua gestão", diz o documento da Azzas.
Apesar da queda no mês, a XP Investimentos tem boa projeção para os resultados da Azzas, que deve apresentar aceleração na receita e margens esperadas estáveis.
Vamos (VAMO3): -21,28%
A Vamos (VAMO3) se destaca entre as maiores quedas do mês apenas duas semanas após registrar alta de 23,15% em um período de 5 pregões. O papel é muito atrelado às perspectivas macroeconômicas e subiu em meados do mês na esteira da queda dos juros futuros e do dólar. Como é um ativo cíclico, os papéis da locadora de automóveis se beneficiam da melhora nas perspectivas macroeconômicas.
Contudo, novas perspectivas e correção do mercado levaram, no entanto, o papel a se destacar entre as baixas.
A divulgação do resultado acontecerá apenas em 26 de março. A XP espera um desempenho neutro para o trimestre. Como o acordo entre a Vamos Dealerships e a Automob foi concluído em dezembro do ano passado, a Vamos deve fazer o spin-off parcial dos resultados da Vamos Dealerships. Na divisão de aluguel, prevê um Ebitda estável sequencialmente (+1% trimestre a trimestre), uma vez que se espera que o recente retorno de ativos continue levando a um crescimento mais suave.
Braskem (BRKM3): – 20,56%
A Braskem (BRKM5) começou fevereiro de forma positiva, com alta anual de 3% nas vendas de resinas no Brasil. O balanço do 4T24, no entanto, contribuiu para levar a companhia às maiores baixas do mês, com perda de 20,42%. A Braskem apresentou prejuízo líquido de R$ 5,64 bilhões, com queda de 259% na comparação anual no período.
A companhia afirmou que durante o quarto trimestre os principais spreads no mercado internacional apresentaram queda em relação ao trimestre anterior e foram menores que a média do ano de 2024 com destaque para a redução dos spreads de polietileno e de principais químicos. Isso teria impactado o balanço do período.
Para a XP Investimentos, o resultado ficou bem abaixo das estimativas, com um Ebitda 68% inferior ao esperado pela casa. A piora dos números foi atribuída principalmente à queda nos citados spreads petroquímicos, que já vinham pressionando os resultados ao longo do ano. O relatório menciona que os preços de resinas no Brasil recuaram 12% em relação ao trimestre anterior, enquanto os químicos básicos caíram 24%.
Vivara (VIVA3): – 20,39%
As ações da Vivara (VIVA3) apresentaram forte queda no meio de fevereiro. Entre os destaques de notícias no período, a rede de joalherias anunciou no mês que seu conselho de administração aprovou a destituição do diretor de Marketing, Leonardo Bichara, e que o cargo permanecerá temporariamente vago.
Os papéis chegaram a perder 4%. Analistas do JPMorgan liderados por Joseph Giordano avaliaram que, apesar de provavelmente não ser disruptivo para a empresa, novas mudanças de gestão devem ampliar os ruídos de governança.
A Vivara divulga seu balanço do 4T24 em 18 de março e a XP espera que a receita desacelere, mas com pressão na margem bruta compensada por um controle rigoroso de despesas.
MRV (MRVE3): -20,04%
A alta recente dos juros futuros, que pressiona o setor de construção, e a divulgação de resultados que frustraram parte do mercado contribuíram para a queda de cerca de 20% de MRVE3.
A construtora divulgou nesta semana seus resultados do quarto trimestre de 2024. A companhia apresentou prejuízo de R$ 153,8 milhões em números ajustados, no quarto trimestre de 2024. De acordo com a companhia, o desempenho foi pressionado pela operação da norte-americana Resia. Em 2024, a queda foi de R$ 128,3 milhões. Ainda assim, o recuo foi menor que o observado no ano de 2023, que registrou R$ 330,2 milhões negativos.
Os números foram considerados mais fracos do que o esperado, mesmo com algumas melhorias apresentadas no período.
Embora a MRV esteja cumprindo sua orientação para o ano de 2024, na maior parte, o Morgan Stanley espera que os resultados abaixo do esperado no 4T24 ocupem o centro das atenções e levantem várias questões sobre a qualidade dos lucros e estimativas de consenso para 2025.
Brava Energia (BRAV3): -19,71%
O mês foi de altas e baixas operacionalmente para a Brava Energia. Para o papel, no entanto, fevereiro foi marcado por forte queda de 19,71%. O mês começou para a companhia com anúncio de vendas de concessões no RN, com foco em ativos essenciais. A companhia assinou contrato para venda de óleo de Atlanta no meio do mês, em consórcio que detém 80%. A companhia também anunciou produção de janeiro em crescimento, impulsionadas por novos poços e melhorias operacionais.
Dentre as petroleiras, a Brava teve o maior avanço no período, com um aumento expressivo de produção para cerca de 68 mil barris de óleo equivalente por dia (kboed), comparado a aproximadamente 39 kboed em dezembro. Na última semana do mês, a companhia anunciou a prorrogação por 2 anos do contrato de compra de petróleo pela PetroRecôncavo (RECV3).
Confira as ações do Ibovespa que caíram em fevereiro:
Ativo | Cotação (R$) | Variação no Mês (%) |
AZZA3 | 26 | -23,87 |
VAMO3 | 3,81 | -21,28 |
BRKM5 | 10,97 | -20,56 |
VIVA3 | 17,06 | -20,39 |
MRVE3 | 4,51 | -20,04 |
BRAV3 | 18,01 | -19,71 |
AMOB3 | 0,25 | -19,35 |
LWSA3 | 2,74 | -18,45 |
RADL3 | 17,38 | -18,37 |
BRFS3 | 17,93 | -18,09 |
LREN3 | 11,33 | -17 |
AZUL4 | 3,87 | -15,87 |
PETZ3 | 4 | -14,71 |
MRFG3 | 13,63 | -14,22 |
RAIZ4 | 1,65 | -13,16 |
HAPV3 | 2,11 | -12,81 |
WEGE3 | 48,42 | -12,65 |
JBSS3 | 30,99 | -12,56 |
CVCB3 | 1,73 | -12,18 |
IRBR3 | 47,14 | -10,89 |
SUZB3 | 56,31 | -9,72 |
RENT3 | 28,1 | -8,97 |
POMO4 | 7,35 | -8,7 |
BEEF3 | 4,42 | -8,68 |
CSAN3 | 7,09 | -8,4 |
RAIL3 | 16,93 | -7,99 |
B3SA3 | 10,4 | -7,06 |
PRIO3 | 38,17 | -6,88 |
BBDC4 | 11,24 | -6,88 |
SMTO3 | 21,17 | -6,7 |
CMIN3 | 5,1 | -6,59 |
MULT3 | 20,95 | -6,47 |
FLRY3 | 11,09 | -6,33 |
PCAR3 | 2,53 | -6,3 |
PETR3 | 39,05 | -6,24 |
BBDC3 | 10,36 | -5,9 |
CSNA3 | 8,52 | -5,86 |
PSSA3 | 38,02 | -4,9 |
PETR4 | 35,93 | -4,67 |
ALOS3 | 18,09 | -4,34 |
VIVT3 | 48,34 | -4,3 |
GOAU4 | 9,17 | -4,18 |
MGLU3 | 7,15 | -4,16 |
AURE3 | 7,79 | -3,95 |
GGBR4 | 16,66 | -3,25 |
RDOR3 | 27,19 | -2,72 |
ITSA4 | 8,79 | -1,6 |
BBAS3 | 27,31 | -1,34 |
ITUB4 | 31,94 | -1,13 |
ASAI3 | 6,67 | -1,04 |
EQTL3 | 30,06 | -0,3 |
BRAP4 | 16,6 | -0,3 |
ENEV3 | 11,78 | -0,17 |
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