Economia Onde Investir

Warren Buffett parece achar que há uma bolha nos EUA; o que ele sabe que não sabemos?

Nos últimos cinco anos, os americanos viram os mercados de ações dispararem.

Por Em Sergipe

08/03/2025 às 16:12:21 - Atualizado há

Nos últimos cinco anos, os americanos viram os mercados de ações dispararem. No mês passado, o S&P 500 atingiu um recorde histórico de 6.144 pontos, um aumento de mais de 89% desde janeiro de 2020. Esse crescimento vertiginoso no valor das ações dos EUA reacendeu o coro de analistas alertando sobre uma possível "bolha".

O termo "bolha" é popular, mas, na realidade, é mal definido e impreciso. Em teoria, ele se refere a períodos em que os preços dos ativos estão muito acima do que seria justificado por seus fundamentos. Muitos economistas, no entanto, questionam essa noção.

Peter Garber, autor de “Famous First Bubbles: The Fundamentals of Early Manias“, argumenta que bolhas são apenas um artifício retórico para descrever mercados "loucos" e justificar maior regulação. O Prêmio Nobel Eugene Fama, considerado o "pai das finanças modernas", também critica o conceito, alegando que, se as bolhas realmente existissem, grandes aumentos nos preços das ações deveriam prever retornos menores no futuro – algo que, segundo ele, geralmente não ocorre. Pesquisas de economistas de Harvard, como Robin Greenwood, Andrei Shleifer e Yang You, apoiam parte dessa visão, mas indicam que a natureza da alta de um ativo pode, de fato, prever um colapso futuro.

Buffett está acumulando caixa

Então, o mercado de ações dos EUA está em território de bolha? Investidores renomados, como Warren Buffett, parecem acreditar que sim. A porcentagem de caixa no balanço da Berkshire Hathaway atingiu um recorde de 27% no último trimestre, e Buffett chegou a se desfazer de todos os ETFs que acompanham o mercado.

Para avaliar se concordamos com Buffett, usamos o Detector de Bolhas do Dr. X – um conceito descrito em uma carta de agosto de 1996 enviada a um de nós (Hanke) por um falecido Prêmio Nobel de Economia.

O detector de bolhas do Dr. X é calculado a partir da razão entre a riqueza e a renda para ações, dividida pela mesma razão para títulos. Essa métrica indica o tempo necessário para que um fluxo constante de renda "compre" um determinado ativo – por exemplo, 1.000 ações da Apple ou 1.000 títulos do Tesouro dos EUA. Quanto maior a razão, mais tempo é necessário para adquirir esses ativos, sugerindo que estão ficando mais caros em relação à renda disponível.

Leia também: Tarifas são “ato de guerra”, avalia Warren Buffett

A leitura do detector de bolhas aumenta quando a razão riqueza/renda para ações sobe em relação à mesma razão para títulos. Em outras palavras, sinais de alerta aparecem quando se torna significativamente mais caro comprar US$ 1 de lucro com ações do que comprar US$ 1 de rendimento com títulos.

Como um indicador da razão riqueza/renda para ações, o Dr. X usou a relação entre o S&P 500 e a renda per capita nos EUA. Se os preços das ações sobem enquanto a renda permanece estável, a razão cresce, indicando um mercado mais caro. Em dezembro de 2024, essa métrica era de 5.881,6/73.259, ou 0,08. Para os títulos, o proxy usado é o inverso da taxa dos Treasuries de 10 anos, ou 1/(taxa de juros). Esse valor estava em 1/4,569, ou 0,219. O detector de bolhas, então, é obtido dividindo essas duas razões: 0,08/0,219 = 0,3655.

O detector de bolhas teve uma média de 0,141 desde janeiro de 1987. Antes da bolha da internet no início dos anos 2000, ele atingiu um pico de 0,3229. Desde então, caiu para 0,0536 em setembro de 2012 e ainda mais, para 0,0306, no início da pandemia de COVID-19.

Todos os sinais de uma bolha

A queda do detector de bolhas do Dr. X no início da pandemia ilustra como essa métrica responde às condições do mercado. O S&P 500 caiu 20%, enquanto a taxa dos Treasuries de 10 anos foi reduzida pela metade. Como resultado, a razão riqueza/renda para títulos subiu e para ações caiu. O detector de bolhas sinalizou que era um ótimo momento para comprar ações – e estava certo.

O nível atual do detector – um recorde de 0,3655 – é produto da dinâmica oposta. O mercado de ações disparou nos últimos cinco anos, impulsionado pela injeção de dinheiro pelo Fed durante a pandemia e pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial. Ao mesmo tempo, a inflação resultante do excesso de estímulos monetários elevou os rendimentos dos títulos do governo. Assim, vimos o oposto do que ocorreu no início da COVID-19: a razão riqueza/renda para títulos caiu, enquanto para ações subiu.

O que estamos vendo agora tem todos os ingredientes da bolha da internet do final dos anos 1990, que estourou em 2001. A última vez que o detector de bolhas chegou perto do nível atual foi justamente antes do colapso da bolha das dot-com, quando atingiu 0,3249.

O Prêmio Nobel Robert Shiller argumentou em Irrational Exuberance que bolhas são fenômenos psicológicos criados por uma combinação de fatores: um novo avanço tecnológico, rumores sobre pessoas enriquecendo rapidamente e cobertura intensa da mídia reforçando esse ciclo.

Tentar prever o "topo" do mercado é sempre arriscado – ninguém tem uma bola de cristal. Mas ignorar um bom sinal também pode ser um erro. O detector de bolhas do Dr. X indica que Buffett pode estar certo: há algo muito inflado no mercado de ações dos EUA.

c.2025 Fortune Media IP Limited
Distribuído por The New York Times Licensing Group

Comunicar erro

Comentários Comunicar erro

Em Sergipe

© 2025 2025 - EmSergipe - Todos os direitos reservados
WhatsApp: 79 99864-4575 - e-mail: [email protected]

•   Política de Cookies •   Política de Privacidade    •   Contato   •

Em Sergipe