A atriz e cantora Isis Broken vive um momento singular na televisão brasileira. Em sua primeira novela, No Rancho Fundo, que acabou na última sexta-feira (1º/11), ela deu vida a Corina Castello, uma personagem que rompeu barreiras por ser interpretada por uma atriz trans, mas teve uma história que não girou em torno de sua identidade de gênero.
Para Isis, a oportunidade tem um peso único e histórico. “Ser Corina Castello para mim foi uma potência muito forte, principalmente pelo arco principal dela não ser uma mulher trans. Isso mostra que ser uma atriz trans não me restringe a interpretar apenas personagens trans”, explica a atriz ao Metrópoles.
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“Estamos hackeando novos espaços, mas entendemos que não é só passar por lá, e sim conquistar e permanecer nesse lugar”, afirma Isis, que destaca ainda que essa mudança é essencial para uma representação mais autêntica e completa da comunidade LGBTQIA+ na mídia.
“Quero continuar trabalhando e crescendo como atriz, e desejo muito interpretar um papel de protagonista em um filme”, reflete ao falar sobre sonhos.
Maternidade trans
Outro aspecto que marca a trajetória de Isis é sua maternidade trans, uma experiência que ela descreve como desafiadora, mas transformadora. Ela é mãe de Apolo, fruto de seu relacionamento com um homem trans, e a exposição de sua família nas redes sociais atrai tanto admiração quanto preconceitos, como ela menciona.
“Conciliar a maternidade com a carreira artística e o ativismo é desafiador, mas gratificante. Eu costumo falar muito nas minhas redes sociais sobre o meu filhe, nossa história e trajetória, o que gera um diálogo importante”, conta a atriz.
Isis afirma ainda que compartilhar sua maternidade e seus desafios inspira outras pessoas trans a enxergarem a possibilidade de construir famílias: “Recebo muitas mensagens de carinho de outras meninas trans dizendo sobre o sonho delas de serem mães, e elas me olham como um exemplo de que é possível”.
5 imagensO papel da maternidade na vida de Isis também será explorado em um documentário que ela está co-produzindo junto com a atriz e diretora Tainá Muller. A ideia surgiu quando Tainá soube das dificuldades que Isis e seu marido enfrentaram para conseguir atendimento médico adequado durante a gravidez, em seu estado de origem, Sergipe.
“Na época, fomos praticamente forçados a deixar o estado, pois não conseguíamos receber o atendimento médico necessário”, diz a atriz.
Segundo ela, o documentário será uma forma de mostrar ao público as lutas e os preconceitos que ainda afetam pessoas trans. “Espero que o público entenda que nossos corpos merecem respeito e que, assim como todos, temos direito ao acesso à saúde e à dignidade”, salienta.
Além das telinhas
Isis também é cantora e carrega suas influências nordestinas e afro-indígenas em sua música. Ela relembra que seu primeiro sucesso musical, Clã, foi gravado com um celular e rendeu prêmios dentro e fora do Brasil, abrindo as portas para sua carreira.
Agora, em seu próximo álbum, Orquestra Sinfônica das Cachorras de Rua, ela planeja explorar um lado mais sensual e urbano, inspirado nas experiências que vivenciou na região sudeste, o que contrasta com meu projeto anterior, Bruxa Cangaceira, que é classificado por ela como “um manifesto trans, nordestino e político”.
Para ela, a música sempre foi um espaço de maior expressão, porém, sobre projetos futuros, ela garante que quer continuar explorando todos os seus lados artísticos. “Continuarei atuando e cantando, levando representatividade para as telonas, o cinema e os palcos”, garante.
Metrópoles