Com participação do ex-primeiro ministro do Reino Unido Tony Blair, o CNC Global Voices debateu política, economia e inovação, com foco no impacto global e nas perspectivas para o Brasil. Ao seu lado, estiveram o ex-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira.
Durante o evento promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Tony Blair reforçou a dificuldade na implementação de mudanças nos governos, sobretudo em tentativas de reformas, como as buscadas por ele no Reino Unido para saúde e educação, em que enfrentou fortes resistências.
"As reformas, a princípio, todos são a favor, mas quando se fala de reformas específicas é diferente", disse, lembrando que na reforma da educação teve problemas com sindicatos, assim como na saúde, com médicos e enfermeiros. "A mudança é um processo difícil, que requer muitas habilidades", disse.
Sobre empreendedorismo, Blair ressaltou que, cada vez mais, em todos os países, as pessoas querem abrir o seu próprio negócio. Para ele, o crescimento do empreendedorismo está aliado a uma previsibilidade dos negócios, com facilidade de abertura e ambiente estável. "As pessoas têm precisam ver o governo como aliado."
Em relação a seu governo, Blair destacou que buscou atuar como uma terceira via, fugindo do binário "Estado e Mercado". Ele lembrou que, em momentos como o da pandemia da Covid, o Estado precisou entrar em ação, mas que, na maior parte das situações, é o setor corporativo que o motor do crescimento.
"Portanto, é importante deixar de lado a ideologia, e pensar no que funciona", sugeriu Blair. "Se olharmos ao redor do mundo, não é difícil sabermos as experiências que funcionam. O difícil, muitas vezes, é fazer, o que funciona", acrescentou. "A maior parte das pessoas não está interessada no debate sobre esquerda ou direita, mas sim se o governo está fazendo o que é preciso", concluiu.
Projeto de governo
O ex-presidente Michel Temer destacou a importância dos projetos de governo, ressaltando que, ao assumir, em 2016, implementou o "Ponte para o Futuro". "O que traz estabilidade (ao país) e deixa as pessoas tranquilas é saber que há um projeto. Pois bem (ao assumir), tínhamos um projeto que previa reformas, recuperação do PIB e queda da inflação", disse.
Segundo ele, tudo isso avançou conjuntamente com o Congresso. "No passado, a Câmara era uma espécie de 'apêndice' do poder executivo. A mentalidade era a de que o presidente da república pode tudo, mas não pode, se não tiver apoio do Congresso", afirmou.
"Quem governa o país, fundamentalmente, é a conjugação do trabalho entre executivo e legislativo⦠Eu trouxe o Congresso para governar comigo", acrescentou, pontuando que, por "força do dispositivo constitucional" o Legislativo foi ganhando "expressão" e "prestígio". "Não um prestígio político, contrário à constituição, mas o derivado do texto constitucional."
Nesse sentido, Temer defende uma maior "responsabilidade" do Legislativo, já que atualmente "manobra boa parte do orçamento". "O Congresso vem assumindo certas atribuições, que, num dado momento, será útil transformar o Legislativo em uma área de execução governamental."
Dessa forma, ele defende o semipresidencialismo, como forma de trazer maior segurança e redução de climas políticos desgastantes, como os que acontecem em momentos de pedido de impeachment. "Se tivermos o legislativo governando, se forma um governo de maioria parlamentar, com trocas (de governo) sem traumas."
Polarização
Em relação à polarização, Temer entende ser necessária, com embate de ideias, temas, programas e sistemas. "Isso é útil, fruto da democracia. A oposição é fundamental na democracia."
Entretanto, atualmente, o conceito de oposição tem sido: "se eu perder a eleição, meu dever é destruir aqueles que venceram. Isso prejudica a governabilidade e o povo." Ele diz que o que há é uma "radicalização" no País. "São brasileiros contra brasileiros, instituições contra instituições, com agressões", completou.
Estabilidade
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, destacou a importância do consenso a ser criado pelas instituições políticas, para que isso não se transforme em perturbações econômicas, "sempre nocivas aos investimentos e à boa gestão dos recursos".
Segundo ele, a agenda do empresariado deve estar baseada na estabilidade social, segurança jurídica e previsibilidade. Lira destacou ainda que, atualmente, ao contrário do momento em que assumiu o comando da Câmara – quando só se falava sobre a pandemia -, há uma busca por uma agenda de desenvolvimento.
"Passamos a conversar sobre a remoção de entraves históricos, para o nosso desenvolvimento, por meio da reforma tributária, e por novos marcos legais, setoriais, que estimulem o empreendedorismo, a competição e a inovação."
Reforma tributária e nova economia
Lira ressaltou, especialmente, o avanço da reforma tributária, após três décadas em tramitação. "Para quem só acompanhou à distância, pode parecer trivial, mas quem participou das negociações políticas sabe que foi uma façanha", disse, em relação à aprovação.
"Trata-se, sobretudo, de uma vitória política, por meio do diálogo político", afirmou, acrescentando que o novo sistema será implementado aos poucos e suas consequências (positivas) percebidas ao longo do tempo.
Lira destacou a busca pela construção de uma nova economia, menos dependente das emissões de carbono, mais harmônica, aliando sustentabilidade e transição energética.
"Esses são temas que estamos avançando graças a busca de consenso por parte das lideranças políticas e empresariais brasileiras. A sintonia entre Congresso e sociedade vai poder viabilizar uma nova economia verde", completou.
SIte da InfoMoney