A Polícia Federal (PF) deve apresentar um relatório complementar às investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado no Brasil, em 2022, no fim do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL). A afirmação é do diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta segunda-feira (6).
Segundo o chefe da corporação, mais depoimentos e documentos apreendidos no âmbito da Operação Contragolpe, deflagrada em novembro do ano passado, estão sendo analisados para que novas conclusões sobre o caso sejam encaminhadas à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Bolsonaro e outras 39 pessoas foram indiciadas pela PF por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de estado e organização criminosa. Caberá à PGR apresentar ou não eventuais denúncias contra os envolvidos.
"Ainda permanecem questões que estão sendo apuradas, até em razão da Operação Contragolpe. A partir das apreensões realizadas nessa fase, de depoimentos coletados, dos que ainda serão tomados e de outros fatores que estão sendo apurados, vamos finalizar um relatório complementar que também vai servir de base para a Procuradoria-Geral da República fazer a análise", afirmou Rodrigues.
Questionado se o relatório paralelo traria maiores detalhes sobre o financiamento dos atos golpistas, o diretor-geral da PF respondeu: "Há expectativa das pessoas de que houvesse um ou alguns grandes financiadores, mas a investigação é clara ao apontar que houve várias pessoas, algumas já presas e condenadas. Um cedeu um ônibus, outro cedeu água, outro cedeu comida⦠Existe essa pulverização”.
Novas prisões
Na entrevista, o diretor-geral da PF foi questionado sobre a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro, e a respeito da possibilidade de novas detenções.
"Ficou demonstrado que ele [Braga Netto] estava tentando interferir na delação [de Cid] e obtendo informações da investigação. A PF não entra em tema político-partidário. Nós não vamos perseguir nem proteger ninguém. Se houver um fato novo que atenda aos requisitos jurídicos, técnicos e legais, é possível, sim, que outras prisões ocorram", diz Rodrigues.
"Ninguém está imune à legislação. Todos temos o mesmo sentimento de que precisamos separar as instituições daquelas pessoas que se desviaram. Inclusive, um policial federal já foi preso. Não vamos passar a mão na cabeça de ninguém, seja militar, policial ou profissional liberal."
Plano para matar Lula, Alckmin e Moraes
Andrei Rodrigues também foi indagado, na entrevista a O Globo, sobre o plano dos chamados "kids pretos" para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O episódio também está sendo investigado.
"Já fomos criticados: 'Olha, pensar em matar não é crime'. Mas ninguém foi indiciado por tentativa de homicídio ou qualquer outro motivo que não por golpe de Estado. Isso [o plano] é um fragmento do relatório, dentro do contexto do golpe, de uma ação focada em neutralizar o principal ator, o ministro Alexandre de Moraes, o presidente e o vice eleitos, para que se criasse transtorno social. Não aconteceu porque não houve a adesão de duas das Forças Armadas [Exército e Aeronáutica] nem a comoção popular que se imaginava. Mas não estamos falando de cogitação, são ações que foram colocadas em prática", afirma.
"As pessoas estavam nas ruas vigiando o ministro Alexandre de Moraes. A impressão de um plano para matar o presidente da República foi feita dentro do Palácio do Planalto, e o plano foi levado ao Palácio da Alvorada, onde estava o então presidente da República", conclui o diretor-geral da PF.
SIte da InfoMoney