A alta do dólar e os juros elevados trouxeram uma perspectiva de maior cautela para os investidores brasileiros. Com a perspectiva de que a Selic poderá bater 15% ao ano em 2025, investimentos mais seguros, como os em renda fixa, passam a ser alternativas mais atrativas.
Analistas ouvidos pela CNN avaliam que, diante do cenário, a expectativa é de uma desaceleração da economia.
Com o câmbio ao redor de R$ 6, uma taxa de desemprego mais baixa e uma elevada inércia inflacionária, o mercado espera que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, acelere a quase 5% neste ano, segundo o boletim Focus, podendo fechar acima da meta da inflação perseguida pelo Banco Central (BC) pelo segundo ano consecutivo.
O IPCA-15, a prévia da inflação oficial, fechou 2024 em 4,71%, de acordo com dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O setor de agronegócio deve contribuir de uma maneira mais ativa, embora não seja suficiente para repetir o bom desempenho do ano de 2023.
Em contrapartida, os setores considerados cíclicos, como os ligados a crédito, política monetária, varejo, automotivo, eletro e construção civil, devem ser mais impactados.
Para a economia norte-americana, a expectativa é de um cenário positivo, tanto em relação à inflação como para o desemprego.
Renda fixa
Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, com o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) elevado, são beneficiadas alocações em ativos pós-fixados, como é o caso dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs).
Isso acontece uma vez que a rentabilidade desses ativos está atrelada à inflação. Na última reunião de 2024, o Copom decidiu aumentar os juros para 12,25% ao ano e indicou mais duas elevações de 1 ponto percentual nas suas próximas reuniões.
"Para quem tem mais apetite, Nota do Tesouro Nacional-Série B (NTN-B) longas, considerando o horizonte longo de tempo, pode ser interessante", destacou Costa.
Em relatório, BTG Pactual disse estar de olho em alocações de renda fixa global, de cinco anos.
"Seguimos vendo o mercado de ações americanas com o vencedor não apenas no longo prazo, por conta das teses seculares envolvendo tecnologia, mas também no curto prazo, pelo excepcionalismo americano das políticas focadas no ‘American First’", avaliou.
Em termos de juros reais de curto prazo, o banco destaca as Letras Financeiras do Tesouro (LTFs) como uma boa alternativa em comparação com às NTN-Bs de vencimentos mais curtos.
“Nossa recomendação é que uma carteira de títulos públicos para 2025 deve ter uma parcela maior em títulos pós-fixados", analisa.
"Sobre a parcela indexada à inflação, acreditamos que os vértices médios, como a NTN-B com vencimento em 2035, guardam uma relação interessante entre risco e retorno, pois, além do carrego do IPCA e da taxa de juros real já significativamente atrativa, um potencial descompressão do cenário doméstico pode trazer importantes ganhos de capital nesta alocação", destacou o relatório.
Renda variável
Para as ações, João Daronco, analista da Suno Research, vê oportunidades na Argentina e nos Estados Unidos.
O índice S&P Merval, da Argentina, registrou uma valorização de 114,91% em dólares em 2024, ficando na liderança entre os 21 indicadores financeiros analisados pela consultoria Elos Ayta.
Os índices Nasdaq e S&P 500, dos EUA, também se destacaram na pesquisa, ocupando a segunda e quarta posição.
Apesar de ser mais difícil precificar o câmbio, o analista da Suno acredita que estará bem mais alto em cerca de 10 anos. Por isso, os investimentos de longo prazo podem ser uma boa estratégia.
Olhando para a renda variável, o CIO da Empiricus Gestão, João Piccioni, avaliou que as empresas do setor de exportação e as conectadas à economia americana podem se destacar.
"Olhar para os mercados internacionais se tornará uma necessidade da hora de buscar retornos para os portfólios", pontuou.
Em relação à bolsa brasileira, Daronco acredita que o momento é passageiro: "No Brasil há um pessimismo grande, mas é cíclico, há períodos melhores e piores. Já estamos passando pelo pior", pontuou.
Segundo dados compilados pela Elos Ayta, no ano de 2024, investidores estrangeiros retiraram R$ 24,2 bilhões da bolsa de valores brasileira, indicando a maior saída líquida de recursos desde 2016.
Apesar da alta dos juros, essa não é a única variável considerada pelos investidores globais ao alocar recursos no Brasil.
Na avaliação de Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Brasil, a manutenção de déficits fiscais elevados e crescimento acelerado da dívida pública, alinhado a um ambiente de incerteza e alta volatilidade nos mercados devem pesar mais.
"O risco que a depreciação cambial ganhe novos limites também afugenta o investidor", completou Fongaro.
Além disso, a falta de investimentos públicos, acarretado pelo orçamento engessado, para o CIO da Empiricus Gestão, também dificulta a ampliação de ganhos de produtividade em outros setores da economia.
De acordo com um relatório da XP, apesar de ter uma visão neutra para a bolsa brasileira, a casa destaca que as ações descontadas e o potencial de valorização são alguns dos aspectos positivos do mercado doméstico para 2025.
"Do lado positivo, os papéis brasileiros continuam atrativos. Os fundamentos das empresas estão sólidos, como indicam os níveis recorde de retorno de caixa aos acionistas", pontuou.
"Por outro lado, vemos riscos de revisões baixistas de lucros para 2025 devido a juros mais altos. Historicamente, os ciclos de aumento de juros não são os melhores momentos para as ações brasileiras. Nesse cenário, nosso posicionamento continua em nomes que demonstram forte geração de caixa, exposição de receitas em dólar e sólido crescimento de lucros", acrescentou.
Criptos
As criptomoedas registraram um forte rali no ano de 2024, sobretudo o bitcoin. O ativo apresentou um melhor desempenho desde 2020, saltando para 183,25% no período.
De acordo com um relatório do BTG, com a crescente adoção institucional e governamental, o bitcoin está posicionado para atingir novas máximas históricas neste ano.
A queda de 0,25% ponto percentual nos juros dos EUA, beneficia ativos considerados de risco, como é o caso das criptomoedas e da renda variável. Consequentemente, esse cenário torna as criptos uma opção atrativa para os investidores que buscam maximização de retornos.
Com isso, de acordo com o banco, os setores que devem se beneficiar são de Finanças Descentralizadas (DeFi) e Tokenização de Ativos Reais (RWA), com destaque para Ondo Finance.
Além disso, a blockchain Solana planeja lançar a Firedancer, infraestrutura desenvolvida em parceria com a Jump Crypto.
Analistas avaliaram em relatório que essa estratégia deve aumentar significativamente a escalabilidade da rede e consolidar sua resiliência e capacidade de atender demandas globais.
"Com avanços técnicos e institucionais robustos, a Solana segue sendo uma das plataformas mais promissoras do mercado cripto, posicionando o token SOL para capturar valor significativo no próximo ano, à medida que seu ecossistema continua a crescer e a atrair novos usuários", ressaltou o BTG.
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CNN Brasil