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Aporte bilionário em IA pelas big techs deixa avaliação de ações "no escuro"

A decisão de investir (ou não) em uma ação passa por vários fatores, como preço do papel, reputação da gestão da empresa, conjuntura econômica e crescimento da companhia no curto a longo prazo.

Por Em Sergipe

13/02/2025 às 05:29:48 - Atualizado há

A decisão de investir (ou não) em uma ação passa por vários fatores, como preço do papel, reputação da gestão da empresa, conjuntura econômica e crescimento da companhia no curto a longo prazo. Os profissionais do mercado financeiro concordam que não é fácil projetar o futuro de uma empresa, mas um grupo de companhias vem desafiando ainda mais os analistas.

As gigantes de tecnologia dos Estados Unidos, as chamadas “big techs” estão investindo pesado em inteligência artificial e fazendo os players do mercado acionário debaterem se elas conseguirão retornos satisfatórios no longo prazo com a disrupção tecnológica.

Até o tempo mostrar todas as respostas, há quem prefira pagar para ver e também quem escolha mitigar riscos.

"Sempre foi muito difícil fazer o valuation das big techs porque estamos contando com uma valorização futura de uma tecnologia que ainda nem conhecemos. Mas com investimentos desse porte, a tarefa se torna ainda mais desafiadora", explica Plínio Zanini, diretor de risco da Ciano Investimentos.

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R$ 1,84 trilhão em 2025

Ao reportarem os balanços do quarto trimestre do ano passado, Amazon (AMZO34), Microsoft (MSFT34), Alphabet (GOGL34, dona do Google) e Meta (M1TA34) – a Apple (AAPL34) tem sido mais tímida nos gastos – anunciaram investimentos em IA que somam US$ 320 bilhões somente em 2025.

A cifra só vem crescendo com o passar dos anos: foram US$ 151 bilhões em 2023 (menos da metade do que será gasto neste ano) e US$ 246 bilhões em 2024.

O montante anunciado para este ano equivale a cerca de R$ 1,84 trilhão. Hoje, Petrobras (PETR4), Vale (VALE3) e Itaú (ITUB4) valem, juntos, R$ 1,07 trilhão. 

As big techs estão construindo data centers em um esforço para desenvolver modelos de linguagem de inteligência artificial de grande escala e construção de infraestrutura para suportar os volumes cada vez maiores de dados armazenados em nuvem. 

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Para Maria Irene Jordão, analista da XP, o crescimento do Capex (montante investido em bens de capital, como os data centers) "é justificável, considerando a importância dessa corrida tecnológica para as empresas, que querem se manter como dominantes no setor de tecnologia". 

Capital intensivo no setor de tecnologia? 

Na teoria, quanto maior a proporção de capital imobilizado em relação ao lucro da empresa, menor devem ser os múltiplos, lembra José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos. Mas a prática é diferente: o preço/lucro (P/L) da Amazon mostra que o preço das ações da empresa é 42 vezes maior do que os lucros acumulados nos últimos 12 meses. O P/L da Microsoft está em 33x, enquanto o da Meta é de 30x e o menor é o da Alphabet: 23x.

Em uma leitura rápida, o P/L alto indica que o mercado espera forte crescimento no futuro, mas também pode significar que uma ação está cara. O problema, segundo Cassiolato, é que "ainda é muito cedo para darmos um veredito" sobre a estrutura de capital dessas companhias. 

As empresas de tecnologia sempre contrastaram com companhias de capital intensivo que precisam de grandes investimentos para gerar receita. Por trabalharem com inovação, poucos funcionários, estruturas mais baratas (escritórios em vez de grandes plantas) e sem grandes máquinas que demandam investimento e manutenção, é normal que os múltiplos do setor sejam altos. No entanto, os fortes investimentos começam a colocar dúvidas nessa perspectiva. 

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Projeções "no escuro"

Mas avaliar se vale a pena investir nessas empresas não é tão simples quanto olhar os múltiplos esticados e concluir que as ações estão caras. O mercado ainda não sabe qual será o retorno dos investimentos bilionários. "Projetar o futuro desse Capex é extremamente difícil porque as companhias estão lidando com inovação em ritmo acelerado e ainda não se sabe quais as futuras aplicações possíveis", diz Jordão, da XP. 

O investimento em infraestrutura geralmente demora de três a cinco anos para gerar retorno, afirma Rennan Guimarães, sócio e CTO da Gravus Capital: "durante esse período, as avaliações (sobre o preço das big techs) podem ficar no escuro". 

Agentes do mercado estão atentos a cada inovação das gigantes de tecnologia. Há disrupções que podem revolucionar a indústria para sempre – como o novo computador quântico da Alphabet que resolve em cinco minutos problemas que supercomputadores resolveriam em cerca de 10 septilhões de anos para calcular –, mas o posicionamento forte na computação em nuvem, que já gera receitas atualmente, é um diferencial competitivo, segundo José Maria da Silva, coordenador de alocação e inteligência da Avenue. 

"Se a demanda por novos modelos de linguagem aumentar significativamente, serão necessários mais servidores, maior capacidade de computação e Amazon, Alphabet e Microsoft dominam esse mercado", diz Silva. Para ele, "os players de cloud serão os grandes vencedores" da corrida tecnológica, já que ainda há dificuldade de entender como os novos modelos de linguagem serão monetizados. 

DeepSeek e a ameaça chinesa

Se os sinais de esperança existem, os de preocupação também estão aparecendo. O mais recente foi o lançamento do assistente de IA da chinesa DeepSeek, elogiada por desenvolver uma tecnologia que bate de frente com as do Vale do Silício mesmo com investimento muito menor. O índice de tecnologia Nasdaq tombou 3% no dia do anúncio da nova IA

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Logo depois, foi a vez do Alibaba (BABA34) anunciar seu modelo de IA prometendo resultados melhores que os da concorrente chinesa e soluções da OpenAI e Meta. Se o modelo da DeepSeek se provar replicável, "pode desafiar a lógica de gastar bilhões e pressionar as margens das big techs", afirma Guimarães, da Gravus Capital. 

Para Cassiolato, da RGW, a tecnologia chinesa "traz uma tese de IA mais 'comoditizada', reduzindo custos de API e decepcionando as expectativas de ganho com o Capex realizado por essas empresas (americanas)". 

Enquanto o mercado tenta sair do escuro na projeção do retorno dos investimentos bilionários nos próximos anos, "a volatilidade vai existir", alerta Guimarães. Os investidores estão preocupados com os gastos altos, competição de players que estavam foram do radar e imprevisibilidade dos retornos, diz o especialista. 

As big techs estão caras? 

Com toda a dificuldade do mercado em avaliar as gigantes de tecnologia dos Estados Unidos, não é surpresa que os especialistas ouvidos pelo InfoMoney não rotularam as ações como caras. As análises mostram que há muitos riscos associados aos papéis de tecnologia, mas os prêmios de longo prazo podem compensar a incerteza atual.

"É difícil dizer que não estão caras usando os métodos tradicionais de valuation, vão precisar entregar resultados muito fortes para justificar os múltiplos atuais", defende Plínio Zanini. Mas o diretor da Ciano Investimentos acrescenta que "também não dá para dizer que um crescimento muito forte não vai acontecer, elas (as big techs) podem trazer grandes inovações que dariam o retorno esperado". 

A XP tem uma "visão cautelosa" sobre as ações de tecnologia por conta dos "múltiplos bastante elevados e riscos regulatórios sob um governo Trump", conta Maria Irene Jordão. A casa recomenda diminuir a exposição à Bolsa americana porque as empresas de tecnologia elevaram os múltiplos de S&P 500 e Nasdaq 100, o que ameaça a performance de outros setores mais queridos por lá, mas os papéis da Microsoft estão na carteira de ações globais.

Na RGW Investimentos, a conclusão é que as ações não estão caras, já que as empresas estão à frente de um processo de transformação da sociedade, mas a competição chinesa mostrou que os lucros com IA não irão apenas para as grandes americanas, o que "coloca em xeque essas empresas", explica José Cassiolato. Por isto, o escritório indica se expor à IA por setores que vão capturar o aumento de produtividade gerado pela tecnologia, como saúde e biotecnologia. 

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